Pimentas para todos os gostos

A Fazenda Ituaú, de Salto-SP, é especialista no cultivo, com 40 variedades, incluindo a mais ardida do mundo
 
Por Rose Mary de Souza, especial para O Estado de S. Paulo
 

 

Entre estufas de hortaliças e legumes em miniatura há um superlativo em plena colheita na Fazenda Ituaú, em Salto, região de Sorocaba (SP): a pimenta da variedade bhut jolokia, a mais ardida do mundo. O proprietário do sítio, Cyro Abumussi, já é conhecido por cultivar vegetais especiais, como minimoranga, minialface, miniberinjela e minicenoura. São 112 estufas espalhadas em 3 hectares.

Desde o início do ano passado, introduziu a bhut jolokia, com sementes importadas da Índia. Em 30 dias elas brotaram. Hoje, um ano após, as plantas estão com cerca de 2 metros e deram os primeiros frutos no verão. Abumussi calcula que cada planta renda entre 100 e 150 frutos e a colheita mensal só desta variedade é de 30 quilos. “Colho praticamente todos os dias”, diz o produtor.

Variedade

Mas a bhut jolokia é apenas uma das variedades de pimentas cultivadas na Ituaú. São 40 ao todo, além de mais 10 passando por testes de climatização e multiplicação de sementes. Após 15 anos de cultivo de pimentas, Abumussi é especialista. Na mesma estufa da superpimenta, por exemplo, explica que se pode abrigar outras pimenteiras, desde que sejam antagônicas, “ou seja, não se cruzem”, explica.

Assim, na mesma “rua” da bhut jolokia está a americana red savina. Na fila seguinte, outra americana, a black rain. Alguns passos adiante, as brasileiras murupi e pitanga, vizinhas da mexicana jalapeño.

Em outras estufas, há também a pimenteira italiana calabresa, excelente para massas e embutidos. “O apreciador de pimenta não mede esforços. Já teve gente que me descobriu, manda e-mail, telefona, escreve, diz que vem buscar pessoalmente”, conta Abumussi.


Novidades – O agricultor Abumussi sempre buscou inovar. Já é conhecido pelos minilegumes e agora colhe a primeira safra da pimenta mais ardida do mundo

Estufas

O uso de estufas é obrigatório. Das 112 estufas da propriedade, entre 7 e 10 são ocupadas com pimenta por ano. Não fosse a climatização artificial, a produção cairia drasticamente no inverno, já que pimenteiras são extremamente sensíveis ao frio. “As estufas protegem também contra chuvas fortes e granizo, além de ventos e insetos”, diz o produtor. Outros cuidados essenciais na condução das pimenteiras é a rotação de culturas e o uso da cobertura morta, além da adubação orgânica, práticas que eliminam doenças e pragas do solo e o tornam mais fértil.

Só de pimentas, de todas as espécies, a Ituaú colhe 50 toneladas por ano. Entre as variedades que dão frutos menores, o rendimento é de mil frutos por planta. A mexicana jalapeño rende 10 quilos por planta.

Todo fruto deve ser colhido com o cabinho, para evitar o murchamento precoce e fazê-lo durar pelo menos uma semana. A produção é embalada em caixas de isopor e vedada por uma camada de filme plástico. A estrela da temporada, a bhut jolokia, está sendo vendida por R$ 5 cada fruto. Já as demais saem por R$ 20 o quilo.

Até mesmo com o pessoal que trabalha na colheita os cuidados são especiais. O principal deles é selecionar pessoas que não sejam alérgicas a pimenta, principalmente àquelas ardidas. “Mesmo assim, as pessoas colhem com luvas e há recomendações especiais para terem cuidado com os olhos, boca e ferimentos”, diz.

AS MAIS CULTIVADAS

l. Poderosa
A pimenta mais ardida do mundo, a bhut jolokia, desbancou a red savina. A ‘ardência’ é medida pela escala de Scoville. Nesta escala, a jolokia atingiu 1 milhão. A red savina, 577 mil.

2.Pimenta Biquinho (‘C. chinense’)
Ardência de 1.000 Scoville. Por não ser tão ardida, é muito  usada em molhos e conservas. Minas Gerais é o principal  produtor.

3.Malagueta (‘Capsicum frutescens’)
Ardência de 150.000 Scoville. Nativa da Amazônia, é alongada e cônica. Tem pungência alta. É cultivada sobretudo na Bahia, Minas Gerais e Goiás

4.Cumari (‘Capsicum chinense’)
É picante e com aroma médio. O índice Scoville é 220.000. É bastante usada em arroz e carnes brancas

6.Dedo-de-moça (‘Capsicum baccatum’)
Originária do Brasil, tem frutos alongados e vermelhos. Índice Scoville de 500 a 2.500


Pimentão pode ajudar a controlar o fungo oídio

Uma pesquisa do Instituto Agronômico (IAC-Apta) pode ajudar os produtores no combate ao oídio, a principal doença fúngica da pimenta.

A pesquisadora Arlete Marthi T. de Melo descobriu que híbridos de pimenta originados do cruzamento entre um pimentão não comercial, resistente ao fungo, e a pimenta-doce, adquirem resistência natural à doença. A pesquisa interessa aos produtores que utilizam estufas, onde há maior incidência do fungo.

O trabalho não está completo, mas já tem bons resultados. “Esperamos que o resultado se mantenha nos testes de campo, e nos cruzamentos com outras variedades”, diz Arlete.

Mais informações:
Fazenda Ituaú, em Salto, SP
Telefones: (11) 4027-9045 / 4027-9018