Padrão internacional na pesquisa pública paulista: São os únicos laboratórios públicos no Brasil em consonância com a ISO 17025:2005
Por Carla Gomes (MTb 28156) – Assessora de Imprensa – IAC
O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tem três laboratórios acreditados pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) na norma NBR ISO/IEC 17025:2005 — são os únicos laboratórios públicos no Brasil com essa acreditação. Essa norma atesta a competência técnica das unidades, incluindo dados e resultados tecnicamente válidos, com procedimentos que podem ser totalmente rastreados e seguem normas de qualidade.
Estão acreditados os Laboratórios de Física do Solo, de Fertilidade do Solo e de Fertilizantes e Resíduos. Essas três unidades estão de acordo com a norma internacional utilizada por laboratórios de ensaios e calibração e pelos organismos de acreditação de laboratórios em todo o mundo, facilitando a harmonização de práticas e aceitação mútua no comércio internacional. Desde 25 de outubro, os três laboratórios do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, já podem emitir certificados com o símbolo da acreditação.
Nos três laboratórios dos IAC — todos em Campinas — foram acreditados quatro escopos: análise de fertilidade, análise de resíduos, análises granulométricas pelo método da pipeta e análises granulométricas pelo método do densímetro.
A acreditação de um laboratório, além da estrutura física e da manutenção e calibração de equipamentos, determina rigor na execução de procedimentos, que devem ocorrer de modo sistematizado, visando à não variação de resultados, independentemente da pessoa que esteja realizando o trabalho. Na unidade acreditada, é obrigatório o registro criterioso de todas as ocorrências – desde a temperatura do ambiente, passando por possível queda de energia até a solicitação de um cliente.
O processo de melhoria para obtenção da acreditação envolveu investimentos em capacitação e treinamento de recursos humanos e adequação da estrutura física, totalizando cerca de R$ 360 mil. Os recursos vieram do Governo do Estado de São Paulo, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de recursos gerados pela prestação de serviços do Centro de Solos do IAC, administrados por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG).
Laboratório de Física do Solo
Único no Brasil acreditado pelo Inmetro, o Laboratório de Física do Solo do IAC tem também o diferencial de ter conseguido validar um método próprio em uso pelo Instituto, que não estava entre os normatizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O IAC desenvolveu o método porque aqueles normatizados não se adequavam às necessidades do trabalho realizado e dos clientes nos segmentos de agronomia e ambiente. “Alcançamos um ajuste do método para separar a argila da areia”, diz a pesquisadora do IAC e diretora do Centro de Solos, Sonia Carmela Falci Dechen, ao explicar que a argila é a fração do solo que reage com os elementos químicos. “A análise granulométrica faz parte das primeiras curiosidades a respeito do que há no solo, mas o método, o como fazer, data do século anterior”, conta, ao relatar a experiente trajetória do IAC até chegar ao padrão internacional.
A atividade desse laboratório recai sobre aspectos físicos do solo, que, dependendo do tamanho dos grãos, pode ser classificado como argila (parte fina), areia (parte grossa) e silte (parte intermediária). Segundo Isabella Clerici, as análises granulométricas geram dados que auxiliam no planejamento agroambiental – definição da capacidade do solo, caracterização de ambientes de produção, práticas conservacionistas e estudo de impacto ambiental. “Para recomendação de adubação e correção do solo, por exemplo, o teor de argila é indicativo da quantidade de gesso que deve ser aplicada para correção de subsolo”.
Esse serviço realizado pelo IAC não se limita ao universo agrícola. Os usuários são, principalmente, empresas de planejamento ambiental, cooperativas agrícolas e empresas de planejamento agrícola de todo o Brasil. “Recebemos amostras de áreas de empresas que pretendem iniciar plantio e precisam conhecer o solo antes”, diz Sonia Dechen, ao comentar que as amostras vêm de regiões como Tocantins, Roraima e Bahia. O IAC realiza análises granulométricas para fins ambientais da forma solicitada pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente).O IAC atende também empresas que precisam fazer monitoramento ambiental como parte de suas atividades, como no caso de postos de combustíveis, por exemplo, que têm nas análises físicas do solo ferramenta para avaliar ausência de poluição do terreno por combustíveis. Outro uso dessas análises está na geração de informações solicitadas em avaliações de financiamento agrícola, que requer a caracterização do solo como um dos fatores examinados.
De acordo com Sonia Dechen, a ISO atesta a competência dos laboratórios para fazer análises com garantia de resultados. “Temos confiança no dado que fornecemos”, resume. A pesquisadora relata que a rastreabilidade viabilizada pela norma é surpreendente, pois permite refazer qualquer análise e identificar cada passo que ratifica o resultado. Para ela, esse mapeamento dos procedimentos facilitará o ingresso de novos profissionais nas atividades do laboratório, bastando um treinamento.
Isabella De Maria diz que a acreditação evidencia a competência técnica e é um sistema que garante o aprimoramento das práticas laboratoriais e a melhoria contínua dos serviços e análises realizadas. “Busca pela melhoria contínua é sinônimo de maior produtividade, diminuição nos desperdícios e maior satisfação dos clientes”.
A pesquisadora Sonia Dechen comenta que até revistas internacionais estão começando a solicitar a realização de análises físicas, químicas e biológicas em laboratórios acreditados. “Do ponto de vista da pesquisa, no mundo todo, são procurados laboratórios nos quais se possa confiar nos resultados. Demos um passo à frente aqui no IAC”, diz.
Laboratório de Fertilidade do Solo
De acordo com a gerente de qualidade de laboratórios, a pesquisadora do IAC, Mônica Ferreira de Abreu, a ISO 17025:2005 coloca o IAC em conformidade com os padrões de qualidade consagrados em normas internacionais. “Na área de agricultura e pecuária, o IAC tem o único laboratório público no Brasil acreditado para realizar análises de fertilidade do solo e resíduos para aplicação agronômica”, afirma. Na rede privada, há apenas um laboratório no interior de São Paulo que é acreditado.
A capacitação contínua, segundo Mônica Abreu, é fundamental no processo de obtenção da ISO. “A melhoria é permanente, recebemos o selo (do Inmetro), em 12 meses teremos a reavaliação e em outros 12 meses, a reacreditação”, explica.
No Laboratório de Fertilidade do Solo do IAC, a norma envolve a análise de micronutrientes. O novo conceito do laboratório resultou em aumento na demanda por análises em cerca de 300%. Atualmente, a Unidade analisa cerca de 15 mil amostras de solo, por ano. Esse material vem de agricultores e de trabalhos de pesquisa do próprio IAC e de outras instituições públicas de pesquisa e ensino. “A Cetesb, em projetos de aplicação de resíduos, exige análises feitas em laboratório acreditado”, afirma Mônica Abreu.
No Instituto, a atuação moderna atestada por regras internacionais tem interação com a experiência iniciada ainda no século XIX. Em relatórios de 1889, estão os registros das análises de solos pioneiras realizadas no País. Em 1892, o IAC já realizava análises de solos para cafeicultores paulistas. Em 1904, recebeu a Medalha de Prata por Análise de Solo na Exposição Universal de St. Louis, nos Estados Unidos, pelo trabalho de desenvolvimento de análise de solo. O Laboratório de Fertilidade do Solo foi fundado em 1928 e está instalado no Edifício D. Pedro, na Sede do IAC, em Campinas.
A acreditação representa o reconhecimento da competência técnica para realizar análises e atender a demandas de controle nacional e internacional. Essa conquista, porém, não encerra o esforço da equipe da área de solos do IAC rumo ao detalhamento de procedimentos e transparência de gestão. Serão mantidos esforços para seguir com o processo de aprimoramento dos laboratórios. “O IAC vai continuar ampliando o escopo de acreditação, vamos incluir todas as análises de fertilidade de solo e acreditar a análise de fertilizantes também”, diz a pesquisadora do IAC, Aline Renée Coscione.
Laboratório de Fertilizantes e Resíduos
No Laboratório de Fertilizantes e Resíduos, a ISO 17025:2005 envolve a análise de presença de metais pesados em resíduos como vinhaça, lodo de esgoto, de curtume e de siderurgia — que podem ser usados na agricultura. Nas análises, são verificadas também a presença de nutrientes e a dosagem adequada para as plantas. “A análise dos resíduos com potencial de uso agrícola também implica na preservação da qualidade do solo em manter-se produtivo, sem causar riscos ao meio ambiente e economizando recursos naturais”, explica Aline Coscione.
Com a acreditação pelo Inmetro, a procura pelo serviço aumentou em 20%. Segundo Aline, estações de saneamento e empresas ligadas a processos de gestão ambiental estão entre os novos clientes do Laboratório. Atualmente, 2.500 análises são realizadas por ano. “A ISO assegura a confiabilidade na prestação de serviços laboratoriais à comunidade, aos órgãos governamentais e reguladores e na emissão de resultados”, afirma.
Empresas de saneamento, como Sabesp e Sanasa, que precisam saber se o lodo de esgoto proveniente das estações de tratamento tem condições de ser usado na agricultura, podem enviar o material para análises no IAC. “Essas análises alertam a companhia de saneamento, a Cetesb e o agricultor sobre a presença de nutrientes para as plantas contaminantes que possam se acumular no solo e entrar na cadeia alimentar, provocando efeitos indesejáveis e danos ambientais”, esclarece Aline. Essa Unidade já existe no IAC desde 2004 e teve sua estrutura física toda reformada para atender às exigências da acreditação.
Análises feitas no Laboratório de Fertilizantes e Resíduos
Análises de resíduos com aplicação agrícola – viabilizam a determinação de metais pesados e de macro e micronutrientes em amostras de resíduos, como lodo de esgoto, composto de lixo e escórias para atender às normas vigentes da Cetesb e do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). O IAC está acreditado pelo Inmeto para analisar 16 elementos químicos nas amostras de lodo, que as estações de tratamento de esgoto disponibilizam aos agricultores interessados em aplicar o resíduo na agricultura. O laboratório realiza também ensaios de biodegradação de carbono, mineralização de nitrogênio e elevação do pH do solo para avaliação de uso de resíduos em áreas agrícolas.
Análises de solo para monitoramento ambiental – determinação de teores totais de elementos em solos com aplicação ou não de resíduos. Segundo a pesquisadora Aline Coscione, são feitas análises para certificar se o solo não está contaminado, comparando os resultados aos parâmetros da Cetesb que determinam se o solo está ou não poluído. “Além de metais pesados, são avaliados também potássio e sódio, sendo que este danifica a estrutura do solo, causando um processo erosivo”, diz. A quantidade de sais em geral no solo é analisada, observando cada elemento presente e comparando-os ao solo limpo para detectar possível alteração.
Análise de produtos, subprodutos e resíduos da indústria sucroalcooleira – os resíduos torta de filtro e vinhaça são bastante estudados, pois podem ser aplicados como fertilizantes. Faz-se também a determinação de resíduo da sílica insolúvel — uma impureza carregada no processo de corte da cana e prejudicial ao beneficiamento da cultura. Essa sílica é analisada no caldo de cana ou no mosto, um caldo mais concentrado. O laboratório avalia ainda o balanço de nutrientes de caldos e mosto de cana que vão para a fermentação.
A relação de serviços está no www.iac.sp.gov.br
Fonte: IAC