Por Laerte Scanavaca Júnior, engenheiro florestal, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente
Atualmente, o novo Código Florestal Brasileiro está em discussão. Aparentemente, a preocupação é reduzir o tamanho ou a largura das áreas
de preservação permanente. Ninguém ou muito poucos se utilizaram de dados técnicos ou ressaltaram a importância das matas ciliares.
Com o crescimento da população humana, muitas florestas estão perdendo espaço para a agricultura. Consequentemente, perde-se biodiversidade vegetal e animal, porque não existe animal sem habitat e seu habitat vem diminuindo ano a ano.
A taxa de extinção de espécies, que era de 0,2% há pouco mais de 100 anos, hoje é de 23%, ou seja, aumentou mais de cem vezes. Isso pode trazer consequências catastróficas para a humanidade.
Um exemplo bastante importante é o do composto Captopril, retirado da jararaca e usado na fabricação de um anti-hipertensivo que gera aproximadamente cinco bilhões de dólares anuais para a indústria farmacêutica.
Outro exemplo é o da água – substância essencial à sobrevivência de todos os seres vivos cuja produção e manutenção está diretamente relacionada à floresta. É preciso entender melhor o papel das florestas e, na medida do possível, preservá-las – nossa sobrevivência e a de todos os outros seres vivos depende disso.
Em usinas hidroelétricas isso pode fazer uma enorme diferença, já que os sedimentos em suspensão na água são abrasivos e podem encurtar substancialmente a vida útil das turbinas, que são caríssimas. Além disso, o tratamento da água em uma bacia bem protegida pela mata ciliar, como a Bacia do Paraíba, por exemplo, custa aproximadamente de R$ 2,00 a R$ 5,00/1.000m3 de água tratada, enquanto que em uma microbacia desprotegida, como a Bacia do Aguaí, o tratamento pode custar de R$ 300,00 a R$ 500,00/1.000m3 de água tratada. Estima-se que 80% dos problemas de qualidade da água venham da erosão (sedimentos em suspensão na água).
A floresta protege o solo dos impactos diretos da chuva e com isso evita a erosão. Estima-se que 80% das terras paulistas sofram algum tipo de erosão, causando perdas anuais de aproximadamente 200 milhões de toneladas de solo e destas, 45 milhões chegam aos mananciais de água, causando assoreamento e outros problemas. Em outras palavras, para cada quilograma de alimento produzido, perdemos dez quilogramas de solo.
As árvores absorvem e retêm a maior parte dos nutrientes necessários ao seu crescimento das chuvas e poeira, portanto recuperam solos e áreas degradadas. As copas das árvores depositam folhas, frutos, sementes e galhos na superfície do solo (serapilheira) protegendo-o dos impactos diretos das chuvas melhor que qualquer cultura agrícola. Também reciclam este material, reduzindo a necessidade de fertilização. Possuem um sistema radicular mais profundo e com boa arquitetura para estruturar, proteger e conservar o solo. Assim, evita-se os desmoronamentos ou deslizes de terra.
As florestas estabilizam o clima, aumentam a infiltração da água nos solos garantindo a recarga dos aquíferos subterrâneos e conservam a biodiversidade. Em termos ecológicos, a área mínima necessária para manter a biodiversidade seria de 50m.
O Brasil é o país da biodiversidade. Aproximadamente 30% da biodiversidade mundial está aqui e 70% não é protegida – está em propriedades privadas. O melhor modo de garantir a biodiversidade é proteger os mananciais.
É permitida a exploração não-madeireira de APPs, que podem ser muito lucrativas, muito mais que qualquer cultura agrícola. Além disso, a biodiversidade destas áreas ajuda a controlar as pragas e doenças das culturas agrícolas, reduzindo desta forma a necessidade de defensivos.
Fonte: Embrapa Meio Ambiente