Por Vera Lúcia Imperatriz Fonseca
Na agenda da Convenção da Diversidade Biológica e da economia agrícola os polinizadores já ocupam um lugar de destaque. As informações existentes na literatura mundial sobre polinizadores indicam que o declínio das espécies é real onde foi medido, que sofrem com as alterações climáticas em curso, que não há disponibilidade de polinizadores nativos para a agricultura, se consideramos o quadro atual de desenvolvimento da pesquisa, e que os polinizadores aumentam a produção agrícola de plantas importantes para o consumo humano, entre outros aspectos.
Para o agronegócio brasileiro eles têm uma grande relevância, uma vez que promovem maior rendimento das áreas agriculturáveis e maior qualidade de frutos.
Em estudo publicado em janeiro, Nicola Gallai, Jean-Michel Salles, Josef Settele e Bernard E. Vaissière demonstraram a importância econômica das abelhas como polinizadoras de plantas que servem como alimento para o homem, bem como a vulnerabilidade da produção de alimento ao declínio de polinizadores no mundo.[1] O valor econômico anual total da polinização calculado é de cerca de € 153 bilhões, que representam 9,5% do valor da produção agrícola mundial para a alimentação humana em 2005. Os vegetais e frutas lideram as categorias de alimento que necessitam de insetos para polinização (€ 50 bilhões para cada um deles). Seguem as culturas oleaginosas, estimulantes, amêndoas e especiarias.
Os pesquisadores citados estimam também que em média o valor das culturas que não dependem da polinização por insetos é de € 151 bilhões por ano, enquanto que o das dependentes da polinização é de € 761 bilhões. Eles também calcularam um valor para a vulnerabilidade ocasionada pela perda de polinizadores para cada categoria de cultura nas escalas regionais e globais e, além disso, determinaram que há uma correlação positiva entre a taxa de vulnerabilidade para o declínio de polinizadores para cada categoria de cultivo e seu valor por unidade de produção. Estimaram que o declínio de polinizadores possa ter como consequência a redução da produção de frutas, vegetais e estimulantes (como café, por exemplo) para números abaixo do necessário para o consumo atual, se pensarmos numa escala global. Segundo eles, para que essa situação possa ser considerada um cenário, é necessário que sejam introduzidas as respostas estratégicas dos mercados.
Em outro estudo recente, Marcelo A. Aizen, Lucas A. Garibaldi, Saul A. Cunningham e Alexandra M. Klein[2] focalizaram o problema a partir de bases de dados da Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e consideraram os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, verificando a produção agrícola das plantas dependentes e das independentes de polinização, para verificar se havia uma tendência crescente de declínio de polinizadores.
Durante os últimos 45 anos houve um aumento líquido da área cultivada e um maior aumento de cultivos de plantas dependentes de polinizadores. Se essa tendência continuar, haverá uma enorme demanda de polinizadores no futuro, em escala global, segundo Marcelo A. Aizen e Lawrence D. Harder.[3] Além disso, é preciso considerar que o aumento da agricultura se dá em áreas antes ocupadas por vegetação nativa ou em pastos, que também perderam polinizadores nativos.[4]
Atualmente, mais de 2/3 das áreas cultivadas do mundo estão em países subdesenvolvidos, que por sua vez têm uma agricultura 50% mais dependente de polinizadores do que as dos países desenvolvidos.[5] A destruição ambiental e o manejo da paisagem não amigável aos polinizadores têm como consequência uma produção menor, que será compensada através de plantios em áreas maiores, impactando ainda mais a conservação dos polinizadores e das áreas naturais. Esse limite entre agricultura e conservação é o maior desafio dos tempos modernos, porque os assuntos estão interligados e poucos compreendem isso.
[1] GALLAI, N.; SALLES, J. M.; SETTELE, J. & VAISSIÈRE, B. Economic variation of the vulnerability of world agriculture confronted with pollinator decline. Ecological Economics, v. 68, n. 3, p. 810-821, 2009.
[2] AIZEN, M. A.; GARIBALDI, L. A.; CUNNINGHAM, S. A. & KLEIN, A. M. How much does agriculture depend on pollinators? Lessons from long term trends in crop production. Annals of Botany, v. 103, p. 1.579-1.588, 2009.
[3] AIZEN, M. A. & HARDER, L.D. The global stock of domesticated honey bees is growing slower than agricultural demand for pollination. Current Biology v. 19, p. 915-918, 2009.
[4] MORTON, D. C.; DeFRIES, R . S.; SHIMABUKURO, Y. E.; ANDERSON, L. O.; ESPÍRITO-SANTO, F. B.; FREITAS, R. et al. Cropland expansion changes deforestation dynamics in the southern Brazilian Amazon. Proceedings of the National Academy of Sciences, Washington, v. 103, n. 39, p. 14.637-14.641, 2006.
[5] AIZEN M. A.; GARIBALDI L. A.; CUNNINGHAM S. A.; KLEIN A. M. Long-term global trends in crop yield and production reveal no current pollination shortage but increasing pollinator dependency. Current Biology v.18, n. 20, p.1.572-1.575, 2008. GARIBALDI, L.A.; AIZEN, M.A.;CUNNINGHAM, S.A.& KLEIN, A.M. Pollinator shortage and global crop yield. Communicative and Integrative Biology, v.2, n.1, p.37-39, 2009.