Por Juliana Cavalcanti
Entre os impactos que o aquecimento global deve provocar nas próximas décadas está a redução da produtividade na agricultura. Um ambiente mais quente será prejudicial, principalmente nas regiões tropicais, onde as temperaturas já são mais elevadas. Estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) aponta que, mesmo não sendo percebida no médio prazo, até o ano de 2100 a lucratividade da agricultura no Brasil deve ser reduzida entre 9,4% e 26% – dependendo da quantidade de poluentes emitidos na atmosfera. A agricultura familiar – com menos acesso à tecnologia e a recursos – deve ser a mais afetada.
Agricultura familiar, com menos acesso à tecnologia, deve ser mais afetada. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press |
Nas alternativas apontadas pelo Ipea para minimizar tais impactos estão a mudança das matrizes energéticas, com a prioridade para os biocombustíveis e fontes renováveis. Entretanto, mais do que diminuir os impactos, já iniciados, será preciso ajudar as pessoas a se adequarem às mudanças do clima.
“Essas adaptações têm sido feitas desde sempre, pois as variações climáticas sempre aconteceram. A preocupação maior é com a velocidade das mudanças e na forma que os agricultores, principalmente da agricultura familiar, vão se adaptar para conviverem com um planeta mais quente e também buscando alternativas à uma provável queda na produtividade”, considera um dos autores do estudo do Ipea, o biólogo Diego Lindoso, da Rede Clima – formada por 10 instituições brasileiras, entre as quais a Universidade Federal de Brasília (UNB), onde desenvolve pesquisa sobre mudanças climáticas e desenvolvimento regional.
Lindoso ressalta a importância coordenar investimentos em educação, estímulo ao associativismo e arealização de políticas públicas com foco na agricultura familiar como formas de permitir o acesso às informações e às políticas públicas. “No Nordeste, principalmente, há pouca tradição na organização de associações, que junto com a falta de regularização da posse da terra, dificulta o acesso a financiamentos”, lembra o biólogo, para quem só ações paralelas, em diversas áreas, poderão minimizar os impactos do aquecimento global para os mais pobres.
“A maioria das pessoas que entrevistamos nunca ouviu falar em aquecimento global ou mudanças climáticas. Mas, à medida que elas têm acesso à instrução, acabam se apropriando das informações e criando alternativas. Não adianta estudar e atuar apenas em como o clima se comporta, se não existe atenção sobre como a população se comporta”, diz.
Fonte: Diário de Pernambuco