Cada vez mais dinâmico o mercado de hortaliças apresenta novas tendências e nichos como as versões mini e baby
O mercado de hortaliças está sempre se reinventando. A onda do momento são as mini e baby hortaliças, dois nichos de mercado tem despertado interesse cada vez maior tanto dos produtores quanto dos consumidores de maior poder aquisitivo e chefes de restaurantes que buscam novidades para dar um toque de requinte e originalidade em saladas exclusivas ou gourmets.
Hoje, nas gôndolas de supermercados e de alguns empórios de hortifrutis, ao lado do conhecido tomate cereja, seguramente a mais importante das mini-hortaliças disponíveis no mercado, encontram-se as versões miniaturizadas de berinjela, chuchu, pimentão, pepino, abóbora, melancia, couve-flor, alface, alcachofra entre outras hortaliças. Ao contrário do que se possa imaginar, essas miniaturas não são obtidas pela antecipação da colheita. São variedades criadas por meio do melhoramento genético focado na seleção de órgãos de tamanho reduzido consumidos como hortaliças, tais como frutos, primórdios florais, folhas, vagens, bulbos entre outros.
As sementes das mini-hortaliças são, na maioria, híbridas e importadas do Japão e Europa, principalmente. Embora o preço de suas sementes seja significativamente maior que das hortaliças de tamanho normal, é crescente o interesse dos produtores por esse mercado. Como se trata de um produto diferenciado, cultivado principalmente em estufas agrícolas, as mini-hortaliças têm um alto valor agregado e são comercializadas por preço muito mais elevado em comparação ao das versões similares de tamanho normal.
Um bom exemplo é a nova geração de tomate-cereja que se encontra no mercado visivelmente diferenciada em relação às antigas. Os novos cerejas vêm sendo chamados de tomate-uva ou tomate grape em alusão à semelhança de seus frutos com um bago alongado de uva de cor vermelho-intensa. Outro atributo que reforça o marketing que procura diferenciar o tomate-uva do tomate-cereja tradicional é o sabor bem mais doce. A promoção do tomate-uva tem sido bem sucedida, pois mesmo custando para o consumidor em torno de R$ 3,00 a caixeta de 180g, a oferta não tem sido suficiente para atender à demanda. Por conta disso, para os produtores, o cultivo do tomate-uva tem sido vantajoso uma vez que conseguem obter de 6kg a 10kg por planta e recebem, em média, R$ 4,00/kg.
Outro exemplo de miniatura de hortaliça cada vez mais presente no mercado é a mini-melancia. O fruto pesa de 2kg a 3kg, o suficiente para servir até quatro porções, além de ser facilmente armazenado na geladeira. Outros atrativos dessa novidade são o fruto sem sementes com a polpa de cor vermelho-intensa. Devido a esses atributos, o valor das mini-melancias em alguns mercados chega a ser seis vezes superior ao da melancia de tamanho convencional.
Convém ressaltar que a cenoura baby (ou baby carrot) disponíveis no mercado brasileiro há vários anos, não se enquadra como uma mini-hortaliça. Na verdade, trata-se de raízes de cenoura de tamanho normal que são artificialmente miniaturizadas por técnicas de processamento mínimo.
Para especialistas do setor, há um real potencial de expansão do mercado de hortaliças de tamanho reduzido porque tende a crescer o contingente de consumidores formado por casais sem filhos e por pessoas que moram sozinhas, em especial nos grandes centros urbanos do país. Com efeito, as hortaliças em miniatura são uma nova opção de compra para esses consumidores que procuram adquirir porção certa de alimentos para evitar desperdício.
O conceito de hortaliça baby se baseia na colheita antecipada de frutos, raízes, folhas, flores entre outros órgãos consumidos como hortaliças. No caso das folhas jovens, o produto recebe a designação de baby leaf. No mercado, o baby leaf pode ser encontrado na forma de uma mescla de diversas espécies de hortaliças com folhas de diferentes formatos, cores, texturas e sabores. Tal combinação determina o alto valor nutricional do produto. Mas é comum também a comercialização das folhas jovens de forma individualizada. A vantagem da baby leaf é sua praticidade, já que o produto é embalado devidamente sanitizado, pronto para ser consumido.
Mas as hortaliças baby ainda são comercializadas no varejo por um preço elevado até mesmo para os consumidores de alto poder aquisitivo. Nos supermercados e varejões de hortifrutis paulistas o consumidor paga R$ 5,00 por caixetas com 120g do mix de folhas jovens de alface, agrião, beterraba, couve mizuna e mostarda wakami. Já os saquinhos contendo 120g de folhas baby de rúcula, agrião ou alface são vendidos por cerca de R$ 3,00 a unidade. A garantia de qualidade do produto é conseguida graças aos cuidados especiais nas fases iniciais de desenvolvimento do cultivo e na pós-colheita.
Os produtores encontram o “mix baby leaf” formado pela mistura de sementes de rúcula, chicória, beterraba e alfaces de folhas verdes e roxas pronto para ser semeado. O semeio dessas e de outras hortaliças, no entanto, pode também ser feito separadamente.
Ainda não é possível prever se tais nichos de mercado irão atingir contingente maior de consumidores no futuro. Todavia, servem para demonstrar de maneira emblemática como o negócio de hortaliças é dinâmico e está sempre em busca de inovações. Vistos de outro ângulo, representam uma real oportunidade de ampliação das opções de cultivo para os produtores de hortaliças em ambiente protegido, assim como abrem novas frentes para o desenvolvimento de pesquisas pelo setor oficial uma vez que há necessidade de gerar informações acerca de tecnologias adequadas de cultivo, manejo de adubação e de irrigação, métodos alternativos de controle fitossanitário e tecnologia pós-colheita.
Além disso, é preciso que as empresas de sementes e os distribuidores invistam e intensifiquem o marketing dessas hortaliças diferenciadas com o objetivo de torná-las mais populares e acessíveis junto aos consumidores.
AUTORES:
Paulo César Tavares de Melo – Presidente da Associação Brasileira de Horticultura
Luis Felipe Villani Purquerio – Instituto Agronômico (IAC), Centro de Horticultura
Fonte: Grupo Cultivar