Confira, abaixo, as palestras ministradas sobre o tema Biotecnologia e Genética durante o II Workshop sobre Tecnologia de Sementes da ABCSEM.
Melhoramento Genético de Hortaliças no Brasil (Rudimar Conte, Seminis)
“A base do melhoramento genético é produzir mais com menos recursos e este é um processo contínuo”, afirmou Rudimar Conte, melhorista da Seminis, em sua palestra sobre “Melhoramento Genético de Hortaliças no Brasil”. De acordo com ele, o processo ideal para se testar um híbrido, seria fazê-lo em apenas um local, um ambiente e dentro de um ano. Entretanto, isso não é possível, pois o processo é muito complexo e exige elevado conhecimento dos melhoristas e sucesso nas diferentes regiões do país, considerando o clima, condição do solo, entre outros fatores, onde acontece o cultivo.
São inúmeras as tecnologias que contribuem nesta área. Conte explicou que já estão disponíveis no mercado equipamentos com transmissão de dados via satélite, garantindo que toda a informação gerada seja armazenada de forma mais confiável. Segundo ele, há ainda rastreamento por meio de leitura de código de barra, que já traz informações sobre a origem, o local e as características da cultivar. Outra novidade é o Seed Chipper, um aparelho que realiza a análise genética de uma amostra de tecido da semente (obtida através de uma “raspagem”), possibilitando escolher para o plantio, apenas sementes com as características desejadas e selecionadas pelo pesquisador.
A grande evolução da tecnologia no segmento nos últimos tempos pode ser observada abaixo:
2001 – 1 genoma/década (mil genes/ano)
2007 – 1 genoma/ano (cem mil genes/ano)
2010 – 1 genoma/dia (1 milhão de genes/ano)
De acordo com Rudimar Conte, devido a estes avanços tecnológicos, toda a informação gerada no campo pode ser centralizada nos laboratórios – de empresas privadas e públicas – e, por meio de servidores centrais, disponibilizadas diariamente para os melhoristas estudarem e realizarem os aprimoramentos necessários. Para ele, no Brasil acontecerá em breve o que já acontece nos Estados Unidos: “será possível recomendar o cultivo de uma variedade por talhão de terra e não apenas mais por região, o que viabilizará um número maior de variedades e também a otimização da produtividade”, revela uma tendência.
Qualificação de Mudas através de Biofábricas (Clayton Debiasi, SBW do Brasil)
Clayton Debiasi, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da SBW do Brasil, palestrou sobre a “Qualificação de Mudas através de Biofábricas”, laboratórios onde se aplicam as biotecnologias de propagação, permitindo a clonagem de mudas em laboratório e em grande escala. Segundo Debiasi, devido à característica de totipotencialidade é possível redirecionar a morfogênese das plantas, a partir de um grupo celular que seja induzido por estímulos químicos e físicos. Nos diferentes processos, entre os quais estão a Micropropagação Convencional, Biorreatores de Imersão Temporária (TIB) e Embriogênese Somática, busca-se um padrão de identidade na clonagem.
As biofábricas possibilitam um salto de qualidade fitossanitária e genética nas mudas, “já que a cultura de tecidos permite eliminar pragas e doenças, com exceção das viroses e, também, permite selecionar aspectos relacionados à produtividade, qualidade dos frutos, cor, forma, peso, entre outros”, explica o diretor. Ele ressalta ainda que essa possibilidade de seleção dos requisitos mais adequados permite maior produtividade, já a partir do primeiro cultivo, o que impacta positivamente na margem de lucro do produtor. Entre algumas tendências de mercado, Clayton Debiasi destaca a embriogênese somática para cana-de-açúcar (sementes sintéticas) e café (mudas); e a automatização de processos de produção in vitro e o uso do LED, que além de proporcionar benefícios para a planta, também contribui para o uso mais sustentável da energia nas biofábricas.
Sobre o cenário nacional de biofábricas, Debiasi revela que são pouquíssimas as unidades de biofábricas registradas no Brasil e que falta organização do setor como um todo. Entre outros entraves, ele aponta: a falta de legislação específica para o setor – há Instrução Normativa apenas para algumas espécies; políticas públicas incipientes; dificuldade de transporte seguro das mudas in vitro, comprometendo a logística do processo; escassez de mão de obra qualificada – laboratoristas, técnicos e gestores – com entendimento pleno da área; além da falta de utensílios e reagentes específicos. Clayton Debiasi, que também é presidente interino da Associação Brasileira de Biofábricas de Plantas (ABBPlantas), acredita que “a ABCSEM poderia criar um ‘braço’ para o segmento de cultivo in vitro”, se tornando assim, uma grande parceira para congregar e fortalecer o segmento junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Marcador Molecular (Leonardo Silva, Embrapa Hortaliças)
Leonardo Silva Boiteux, pesquisador e melhorista da Embrapa Hortaliças, em sua palestra sobre “Marcador Molecular”, ressaltou que o moderno melhoramento genético exige um trabalho multidisciplinar e apontou as quatro grandes revoluções tecnológicas do melhoramento: estrutura molecular do DNA; tecnologia do DNA recombinante (clonagem); reação em cadeia da polimerase e sequenciamento em DNA.
Boiteux afirmou que a biotecnologia e a genômica estão sendo aplicadas no dia a dia do melhoramento genético. Sendo a genômica, que é a parte que trata do DNA e dos marcadores, dividida em três categorias: a Genômica Clássica, que trata dos mapas genéticos; a Genômica Funcional, que trata de como os genes são expressos e o que eles representam em termos de fenótipos; e a Genômica Estrutural, que, devido à diminuição de custo das tecnologias de sequenciamento, tem permitido fazer o genoma completo de uma espécie, que por sua vez se constitui numa base de dados de referência para a pesquisa, permitindo gerar marcadores em escala a partir dele. “As informações que a genômica gera são usadas para seleção assistida por marcador, mas também podem levar ao isolamento de genes nos sistemas de transformação ou na seleção de superiores no melhoramento genético convencional”, explica o pesquisador.
Segundo ele, o marcador molecular gera uma matriz com as informações obtidas, apresentando estimativa de distâncias genéticas e diversidade de germoplasma, mas salienta que “a fenotipagem também é muito importante, pois se não for feita corretamente, o marcador não funcionará direito”. Para Leonardo Boiteux “a estrutura existente no Brasil em termos de fenotipagem e genética está ‘ok’, mas em termos de rede de ensaios, ainda é um desafio. Por isso, seria interessante que a Embrapa fosse um ponto focal para a avaliação desse material genético em parceria com as empresas. Seria um ótimo upgrade, a Embrapa ser um player importante”, argumenta.