Ciência aponta para alimentos sustentáveis

Os recordes nos preços dos alimentos no mundo, segundo índices da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), levam à reflexão. Mais ainda no caso da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), cuja missão é “buscar a inovação contínua para o papel da alimentação e da nutrição na manutenção da saúde e do bem-estar”. Essa é a hora de analisar o cenário mundial de alimentos e as contribuições que a ciência pode oferecer para minimizar os problemas de médio e longo prazo.
Na equação dos alimentos é preciso considerar o crescimento previsto da população. Essa noite, por exemplo, haverá 219 mil novas pessoas à mesa do jantar e muitas já encontrarão seus pratos vazios. 
Para suprir essa demanda, calcula-se que a produção de alimentos deverá crescer 40% nos próximos 20 anos, de acordo com o governo britânico em seu relatório “Foresight Report on Food and Farming Futures”. O documento destaca a importância da pesquisa científica como solução para a agricultura, e fica evidente a necessidade de que a busca de uma maior produção de alimentos se faça “com mais sustentabilidade, minimizando e se adaptando às mudanças climáticas e para atender às necessidades das populações mais pobres do planeta”. 
Também no início do ano, a Comissão Geral para Pesquisa e Inovações Biotecnológicas, Agricultura e Alimentos, da Comissão Europeia, anunciou os resultados da revisão dos conhecimentos científicos sobre OGM´s (Organismos Geneticamente Modificados), de 2001-2010, na qual foram analisados 50 projetos, desenvolvidos por 400 grupos de pesquisa em 35 países. Entre os principais aspectos avaliados, estão a Segurança Alimentar e o Impacto Ambiental. 
As principais conclusões desse estudo confirmam que “não há evidências científicas que demonstrem que os OGM’s apresentem riscos para a saúde diferentes dos apresentados pelos organismos convencionais”. Para o meio ambiente, as conclusões também foram positivas: “a biotecnologia tem um enorme potencial não apenas para melhorar a qualidade de vida dos agricultores e reduzir os problemas ambientais, mas também para acelerar a competitividade da indústria de alimentos”. 
Não podemos esquecer que há outros aspectos estressando a gravidade do cenário. Existem, por exemplo, três bilhões de pessoas migrando para um degrau superior da pirâmide alimentar e que, agora, consomem mais carne, leite e ovos. Para produzir novos estoques dessa proteína, serão necessários novos estoques de grãos. Trata-se de um problema “bom” – já que há mais gente à mesa –, mas terá que ser equacionado. 
É realidade ainda que uma quantidade de grãos é desviada da alimentação para a área de energia. 
Nos Estados Unidos, em 2010, 120 milhões de toneladas da safra total de 400 milhões de toneladas de milho foram encaminhadas à produção de etanol. 
Somente o uso do conhecimento científico e das inovações permitirá que o mundo resolva o atual problema dos alimentos. Será preciso adotar culturas agrícolas que possam crescer em solos salinos, em regiões secas ou passíveis de inundações. Tais culturas também precisarão resistir a ataques de pragas e ser tolerantes a herbicidas, para que as aplicações de agroquímicos sejam reduzidas. 
Até maio deste ano, a CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança já tinha aprovado 28 plantas transgênicas no Brasil, sendo cinco tipos de soja, 15 tipos de milho e oito tipos de algodão. Está, agora, em vias de avaliar o pedido da Embrapa para a aprovação do primeiro feijão transgênico do mundo. As lavouras do novo feijão, tão importante do ponto de vista nutricional, terão capacidade para resistir ao ataque do vírus do mosaico dourado. 
Hoje, se atacar uma plantação, esse vírus pode provocar quedas de produção de 40% até a dizimação total da lavoura de feijão. 

No tocante à biotecnologia no Brasil, houve muita discussão até atingirmos o patamar atual e, certamente, outras novas virão, uma vez que são parte integrante da democracia. Nós, da Abran, temos obrigação de participar deste debate, zelando pelos aspectos que possam afetar a saúde e o bem-estar da população. No caso da atual problemática mundial dos alimentos, não poderia ser diferente.

 

DURVAL RIBAS-FILHO

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA (ABRAN)

Fonte: Jornal do Commercio