Profissionais defendem ação entre governos, escolas e famílias para reduzir obesidade
Por Sabrina Silveira
O resultado da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado hoje, soou um alerta sobre os hábitos alimentares das crianças em Porto Alegre. A Capital ficou no topo da lista das cidades com maior número de estudantes acima do peso no país. Entrevistada na redação da Zerohora.com, a psicóloga clínica, psicanalista e especialista em distúrbios alimentares Maria Isabel Perez Mattos atribuiu o fato a questões culturais, de clima e de perfil socioeconômico dos analisados.
— Há vários fatores que devemos considerar, um deles é o clima. Nós não somos uma cidade litorânea, então não existe tanto estímulo ao esporte — diz a especialista, explicando que a questão cultural também pode ter influência devido aos hábitos alimentares herdados das culturas alemãs e italianas.
A pesquisa que mediu o peso e a altura de quase 60 mil adolescentes da 9ª série, apontou também maior incidência de alunos acima do peso em escolas da rede privada.
— Em famílias onde há maior fartura alimentar é mais fácil se desenvolver um problema no sentido da obesidade — afirma Maria Isabel, citando alimentos provenientes de redes de fast-foods.
A psicanalista lembrou também a faixa etária analisada. Segundo ela, o período de transição da puberdade é mais suscetível a distúrbios alimentares próprios da idade.
— Programas conjuntos entre estados, escolas são muito importantes a nível de prevenção e de indicação dos casos que se beneficiariam de atendimento interdiciplinar — alertou ela.
Para a nutricionista Anália Barhouch, do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS, o resultado não se deve a um fator isolado. Porém, lembrou que a oferta de produtos com baixa qualidade nutritiva a preços cada vez mais acessíveis também pode ser determinante nas escolhas das crianças.
— Os alimentos de má qualidade, como salgadinhos e refrigerantes, influenciam a criança desde o primário. São poucos lugares oferecem alimentos saudáveis nas cantinas — explica Anália.
Os produtos de baixo preço e valor nutricional, chamados farináceos, segundo a nutricionista, facilitam o acesso dos estudantes. Ela defende uma política para reduzir os valores de alimentos mais saudáveis.
— Frutas e verduras são caras, e não é em todos os lugares que se encontram. Os alimentos mais saudáveis, com mais nutrientes ou lights, têm acréscimo no valor com relação aos alimentos de baixa qualidade — critica ela.
Anália prefere não culpar completamente os pais pelo resultado da pesquisa, mas alerta que eles têm papel fundamental:
— Se a mãe e o pai não têm hábitos saudáveis, não incentivam uma alimentação nutritiva, de onde essa criança vai tirar o exemplo? — questiona a nutricionista.
Dentre as informações coletadas, a pesquisa constatou também que 35,8% das estudantes que se achavam muito gordas estavam, na verdade, dentro do peso adequado. Para Anália isso acontece porque não só o peso deve ser levado em consideração.
— Muitas vezes, no peso, a pessoa está bem. O que precisa ser analisado é o percentual de gordura. Se o corpo tem mais gordura que massa magra, vai aparecer nas gordurinhas salientes nos braços, na barriga flácida. É preciso rever a alimentação.
Anália usa como exemplo a comparação entre um bombom e uma banana. Segundo ela, os dois possuem valores calóricos iguais, mas, na fruta encontram-se nutrientes como vitaminas e fibras. Enquanto isso, no bombom, a criança recebe somente a energia do açúcar e da gordura.
Fonte: Jornal Zero Hora