Cultivo de milho doce é suspenso

19/01 
O Programa Plantio de Milho Doce na Resteva do Tabaco não será desenvolvido na safra 2010/2011 em Santa Cruz do Sul. Realizada há mais de 10 anos pela Empresa Oderich, Secretaria Municipal de Agricultura e Emater-RS/Ascar, este ano a parceria não disponibilizará sementes para os agricultores integrados. Segundo o técnico agrícola da Emater, Paulo Zampieri, problemas de mercado seriam o principal argumento para a decisão da Oderich. Além de Santa Cruz, outras comunidades do Vale do Rio Pardo e também do Estado devem ser afetadas com a medida.

As 100 famílias produtoras no município são das localidades de São Martinho, Monte Alverne, Rio Pardinho, Cerro Alegre Baixo, Quarta Linha Nova Baixa, Linha Nova e Boa Vista. Os agricultores garantiam a venda da produção e, consequentemente, uma renda extra na entressafra – aproximadamente R$ 2,5 mil por hectare, em média. A distribuição das sementes sempre foi de responsabilidade da Oderich, que descontava o valor dos sacos na hora da comercialização.

Caso o programa não tivesse sido desativado, as propriedades estariam em pleno plantio – que geralmente é realizado de dezembro até a metade de fevereiro. A Emater estima que, com a determinação, 300 hectares deixarão de ser cultivados com milho doce no atual ciclo. Zampieri explica que a alternativa adotada por muitos produtores é a retomada do plantio do milho convencional, para uso na propriedade ou comercialização.

O técnico agrícola lamenta o final do programa, mas acredita que essa é uma situação momentânea. “Esperamos que a parceria seja retomada nas próximas safras, pois representa uma importante renda para as famílias.” Também explica que o plantio do milho doce é fundamental para a rotação de culturas, já que o excedente da plantação fica na lavoura e é aproveitado como adubação e no controle da erosão.

PREJUÍZOS

Em Linha Nova, os irmãos Nilo e Aloísio Goerck participam do Programa Plantio de Milho Doce na Resteva do Tabaco desde que foi instituído em Santa Cruz. Nos últimos anos, plantaram uma média de sete a oito sacos do cereal, o que representa um rendimento aproximado de R$ 10 mil por safra. Segundo explicam, a notícia sobre a suspensão da parceria chegou à propriedade através de um caminhoneiro da Oderich. Posteriormente, a informação foi confirmada pela empresa, mas sem nenhuma explicação específica.

Os produtores contam que no mês de julho do ano passado, durante um encontro sobre milho doce na localidade de Quarta Linha Nova Baixa, representantes da empresa falaram sobre possíveis problemas de mercado, mas não falaram sobre o fim da parceria. “Fomos pegos de surpresa, pois sempre se projetava uma renda a mais depois do fumo”, conta Nilo. Agora, na reta final da colheita do tabaco, a família Goerck pretende aproveitar a área realizando a recuperação do solo. Pastagens vão cobrir a lavoura até a próxima safra.

O que diz a Oderich

A reportagem do jornal Gazeta do Sul entrou em contato ontem com a empresa Oderich para entender os motivos que levaram ao fim da produção do milho doce em Santa Cruz. Conforme a engenheira agrônoma Márcia Schultz, a diminuição das áreas cultivadas acontece em todo o Rio Grande do Sul. Segundo explica, o plantio no Estado tem o propósito de atender à exportação, mas o bloqueio imposto pela Argentina vem prejudicando os negócios. O país vizinho está cobrando altas taxas de exportação. Por causa disso, a Oderich está com 110 carretas do produto esperando para serem liberadas. Enquanto isso, a produção do cereal continua apenas em Goiás. A empresa antecipa que uma reação do mercado externo será definitiva para a retomada do plantio nas lavouras gaúchas na próxima safra.
 

Fonte: Gazeta do Sul