Embalagens: como elas garantem qualidade e remuneram melhor o produtor?

Por Soraya Pereira

As embalagens para produtos alimentícios perecíveis, como as frutas e hortaliças, possuem duas funções básicas: 1. facilitar a movimentação e a exposição; 2. proteger o produto, favorecendo sua conservação do produto, mantendo-o integro. Para isto, não deve ter arestas, ser limpa e confeccionada com material de qualidade. Apenas com estas informações, já se pode perceber que a maioria das caixas de madeira pode danificar o produto.

 

Estudos realizados pela Embrapa Agroindústria de Alimentos comprovaram a perda qualitativa de qualidade em caquis embalados em caixas tipo K, pela abrasão, compressão e corte de 60% dos frutos. Pode se considerar que estes frutos servem mais como “almofada” para os demais 40% e que a remuneração pela caixa se dá, considerando esta perda de qualidade.

 

Nos sistemas de comercialização em que há intermediação e venda individualizada, na qual os produtores deixam de ser parceiros e se vêem como competidores, estes perdem o contato com o consumidor e não visualizam como é a avaliação e aceitabilidade de seu produto.

 

Talvez, por isto, é que seja tão difícil para o produtor mudar seus paradigmas e aceitar investir em inovação/modificação tecnológica, como novas embalagens. Outra questão é que os produtores, geralmente, acham caras as embalagens de papelão e de plástico, pois consideram apenas o custo da unidade, em relação à caixa de madeira.

 

Esquecem-se, entretanto de calcular a remuneração a ser recebida pela redução da proporção de produto perdido e pela possibilidade de reutilização das caixas de plástico, por exemplo. Por meio da embalagem pode-se identificar o produto e o produtor/embalador. Bons produtores podem e devem ser identificados, pois sua qualidade passa a ser referência aos olhos do consumidor.

 

Os produtores de caqui de Nova Friburgo e de Sumidouro, na região serrana do Rio de Janeiro, há alguns anos vem percebendo a necessidade de mudanças pelo baixo retorno da atividade. A vinculação da entrega do produto de qualidade em caixas de papelão para o Plano de Aquisição de Alimentos (PAA) do Governo Federal proporcionou melhor remuneração por kg de caqui, que passou de R$ 0,50 (R$ 10,00 em caixa K de 20kg) para R$ 1,71 (R$ 6,00 por caixa de papelão de 3,5kg). Hoje, mais produtores querem aderir ao PAA, transformando o quadro de resistência a mudança até então.

 

Os produtores de morango de Nova Friburgo já utilizavam caixas de papelão. Entretanto, utilizavam caixas sem identificação do produtor e, em alguns casos, caixas de segunda mão, de produtores de outras regiões do país, até 2008. Esta prática trazia alguns inconvenientes. Em primeiro lugar deixavam de divulgar a boa qualidade de seus produtos devido aos avanços tecnológicos que obtiveram em suas lavouras. Em segundo lugar, este produto com qualidade era visualizado no mercado como produzido em outra região. Por último, uma das características da caixa de papelão é sua higiene por não ser reutilizada: com o reuso perde-se este atributo de qualidade do material. Em 2009, os produtores passaram a utilizar uma embalagem própria, explorando a marca de sua associação e com a identificação da região produtora.

 

Esta evolução dos produtores de caqui e de morango no processo de embalagem, conta com o apoio do Sebrae/RJ e da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro/RJ). O mais importante é que, além das características anteriormente descritas, os produtores ganharam novas opções de marketing e rotulagem, valorizando os produtos.

 

Enfim, o uso de uma boa embalagem reduz as perdas, favorecendo as duas pontas da cadeia: remunera melhor o produtor e ganha o consumidor que tem a disposição produtos de melhor qualidade.


Fonte: Portal Agrosoft