Até 2025, temos que produzir 75% mais alimentos e atender à demanda. E só os Brics têm condições de fazer isso”, afirma o ministro Guilherme Cassel
O grupo dos principais países de economia emergente, batizado com o acrônimo “Brics”, negocia um acordo agrícola e a criação de estratégia comum para influir no mercado mundial de alimentos. Em reunião preparatória ao encontro presidencial de abril, em Brasília, os ministros de Agricultura do Brasil, Rússia, Índia e China identificaram “complementaridades” em ações rurais e discutiram a facilitação do comércio de bens agropecuários dentro do grupo.
Decidiram criar um “DataBRIC” para unificar todas as informações na área de produção de alimentos. O grupo também debateu a importação de trigo russo por China e Brasil, além de parcerias para a instalação de torrefadoras brasileiras de café na Rússia e na China.
De Moscou, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, rejeitou o termo “cartel dos alimentos”, mas afirmou que os Brics buscam atuação conjunta no mercado internacional. “Vamos combinar estratégias para entrar juntos no mercado. É justamente para impedir a cartelização na produção de alimentos”, afirmou Cassel ao Valor. O que move a cooperação do grupo, segundo ele, é a busca por uma “janela para todos” nessa áreas. “Até 2025, temos que produzir 75% mais alimentos para atender à demanda. E só os Brics podem produzir mais e aumentar a área. É uma janela para todos. A ideia é entrar juntos nisso. Temos algo em comum que é a agricultura familiar, onde todos apostam na saída da monocultura e na produção de alimentos”.
Os acordos na área agrícola devem ter como sustentação a produção da agricultura familiar e de cooperativas rurais. “A Rússia tem um bom trigo, mas aplicamos taxa de 10%. Seria importante baixar isso. Importamos muito e podemos controlar melhor a inflação do pão”, diz Cassel. “Podemos exportar café, leite, frangos, suínos e bovinos para eles”.
As negociações entre os Brics têm o conceito de segurança alimentar como o “mais importante” para a atuação comum na área rural. “A demanda no mundo cresce e a produção de alimentos será fundamental em 20 ou 30 anos”, diz. Para ele, levará vantagem quem garantir lavouras diversificadas e mantiver mais pessoas produzindo no campo. “Por isso, os países têm muito interesse em compartilhar tecnologias brasileiras, como o Pronaf [agricultura familiar] e o PAA [aquisição de alimentos]”.
O ministro Cassel informou, ainda, que os parceiros comerciais demonstraram interesse nas regras para a aquisição de terras no Brasil. “Eles querem muita informação sobre aquisição de terras, especialmente a Índia”, diz. O MDA, porém, se opõe à política de investimentos estrangeiros maciços em terras. “Se estimular um investimento grande, reconcentra a propriedade da terra e a aposta na monocultura, e não na produção de culturas diversificadas”, afirma.
Após o encontro, o ministro chinês da Agricultura, Han Changfu, informou que seu país está “pronto para cooperar” com a Rússia no comércio de grãos, sobretudo trigo. O ministro indiano Sharad Pawar disse que os países do Bric têm um “potencial tremendo” para ajudar o mundo a combater a fome. (MZ, com Bloomberg)
Fonte: Valor Econômico