Precipitações bem acima da média histórica podem favorecer safra recorde de grãos, mas também causam prejuízos na produção olerícola
Por Raquel de Carvalho
Ao fazer o plantio, o agricultor espera que as condições climáticas favoreçam as culturas. Tanto que o mais comum é adotar práticas culturais, como o zoneamento agrícola recomendado pela pesquisa que potencializa as condições ditadas pela natureza, como a ocorrência de chuvas em algumas fases da planta. Porém, nem sempre o clima segue os padrões da época ou estação, e chuva e estiagem podem acontecer em momentos inadequados.
Neste verão, o fenômeno El Niño provoca chuvas abundantes, o que deve favorecer uma também abundante safra de grãos. As precipitações estão acima da média histórica e o que se vê são lavouras viçosas de soja e milho nas diversas regiões produtores. Mas o excesso também prejudica: quem cultiva olerícolas a campo sofre com a chuva que destroi as folhas, encharca o solo e lava os insumos aplicados na lavoura. Produtores de soja perdem o sono diante da ameaça da ferrugem asiática, antracnose e outras doenças causadas por fungos, que ocorrem quando há muita umidade.
Sebastião Paulino Proscêncio, de Ibiporã, que se dedica ao cultivo de verduras orgânicas em um alqueire, calcula que já perdeu mais de 50% da produção. Além do prejuízo estimado em cerca de R$ 15 mil, fica comprometido também o abastecimento de mercados e quitandas da região onde o produtor entrega verduras cultivadas sem nenhum produto químico. “Perdi bastante da alface (de cinco variedades), brócolis, couve e rúcula”, queixa-se. Mas Proscêncio não se deixa levar pelo lamento ou dificuldades. Mesmo com a chuva que não dá trégua, já prepara o solo para novo plantio.
Dificuldade semelhante enfrenta o produtor Eliel dos Santos Silva, do distrito londrinense da Selva, que assiste desanimado às perdas nas lavouras de alface, acelga e outras folhosas, além de tomate, repolho e abobrinha. Ele que trazia a Londrina uma média de quatro toneladas de produtos por semana, hoje só consegue entregar uma tonelada. “Fazia muito tempo que não via um período tão chuvoso. O difícil é que dependo da propriedade para sustentar minha família”, afirma, acrescentando que foi obrigado a dispensar alguns funcionários por causa da quebra na produção.
Silva testemunha diariamente o efeito do excesso de chuva na lavoura. Segundo ele, a terra fica encharcada o que provoca o apodrecimento das raízes. “Muita chuva e pouco sol causam o apendoamento precoce da alface – a planta cresce para cima”, diz. O produtor acrescenta que o sol que aparece após uma pancada de chuva prejudica ainda mais a planta. Silva também registra perdas na produção de abelhas. “Elas não têm como se alimentar e a gente não consegue colher o pouco mel das 10 caixas que possuo na propriedade”, afirma.
Os prejuízos, estimados em R$ 20 mil, levam o produtor a promover uma mudança de planos. Ele deve investir na construção de estufas para garantir a produção, independentemente dos imprevistos climáticos.
Fonte: Folha de Londrina