Arvore da moringa plantada há um ano já dá frutos e folhas, utilizados para fazer sucos na merenda escolar da Escola José Alexandre, em Caucaia
Ações locais visam popularizar o uso da moringa, no Ceará, com ajuda de estudantes como Luis Vinícius de Oliveira Miranda
Por Emanuelle Lobo
No Brasil, a moringa oleifera é conhecida como purificadora de água. Agora, chega para melhorar alimentação
Em breve, a moringa oleifera poderá se tornar uma das plantas mais valiosas em termos humanitários. Esta é a expectativa de vários estudiosos da área. No semiárido brasileiro, ela tem ajudado a transformar a realidade da região, melhorando a qualidade de vida das populações, através da alimentação nutritiva, a exemplo da utilização da raiz da macaxeira. Mesmo sendo utilizada no Brasil desde a década de 1960, as qualidades e benefícios da moringa oleifera ainda é desconhecida de muitas pessoas.
Na África, onde seu uso é mais intenso, além de purificar a água, ela também é eficaz no tratamento da malária e da icterícia, para doenças na pele, e também como coagulante pós-parto. “Esta árvore vem sendo considerada um milagre da natureza, devido as suas propriedades nutritivas e alimentares”, confirma a bióloga Priscila Carvalho Holanda.
Mesmo não tendo ação comprovada cientificamente, os seus componentes são utilizados popularmente pelas propriedades medicinais: anti-inflamatória, antidiarreica, antimicrobiana, anti-espasmódica, anti-diabética, diurética, vermífuga, laxativa, antirreumática, irritação gástrica e tumores, além de servir no tratamento de artrites e outras doenças autoimunes.
Purificador
A propriedade mais difundida da moringa é como purificadora de água. A semente, moída e adicionada à água barrenta de açudes e rios, aglutina impurezas, concentrado-as no fundo do recipiente, e transformando-a em água limpa e própria para o consumo humano. Para cada litro de água, três sementes de moringa são utilizadas para a purificação. A semente tem capacidade de eliminar fungos, vírus e bactérias, incluindo o cólera e dengue.
A planta, adaptada à escassez de água, alcança até 5 metros de comprimento. Tem ciclo reprodutivo rápido, entre 7 a 12 meses. “Ela é uma planta de fácil cultivo. Sobrevive bem mesmo em regiões áridas. No final do verão, quando a maioria das plantas já perderam as suas folhas, a moringa continua verde. Além da alimentação humana, ela serve para alimentar bovinos, caprinos e até peixes e aves podem se alimentar das folhas, flores e vagem”, disse a bióloga. “As abelhas também utilizam muito a moringa. Ela dá flor o ano inteiro e tem muito néctar, então ela é excelente para biodiversidade de uma maneira em geral”, afirmou.
Em condições naturais, sem muitos preparativos, uma única planta pode gerar de 50 a 70 quilos de frutos por ano. A grande quantidade de luz solar é um dos fatores apontados como positivos para o seu desenvolvimento. Para melhorar o crescimento e aumentar o potencial de folhas e flores na moringa, a bióloga indica algumas podas durante o seu crescimento.
Distribuição
A distribuição da planta pode ser feita de duas formas: sementes ou mudas. No Ceará, algumas instituições disponibilizam as duas formas: a Universidade Federal do Ceará, no setor de horticultura; e a Fundação Deusmar Queirós. Alunos da Especialização em Educação Ambiental, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), produziram cerca de 150 mudas para distribuição durante a Semana de Ciência e Tecnologia. A Escola de Ensino Médio José Alexandre, em Capuan, no Município de Caucaia, também produziu mudas para a comunidade.
Semente
O óleo extraído das sementes da moringa processadas pode ser utilizado para cozimento, fabricação de sabão, cosméticos e como combustível para lamparinas. Tem propriedade semelhantes a do azeite de oliva. Segundo a pesquisa “Moringa – A última resposta para água poluída”, de Clarence H. Fernando, Watford (UK), o óleo vegetal extraído da moringa “é três vezes mais caro do que um óleo vegetal vendido nos supermercados na Grã-Bretanha”.
As folhas podem ser consumidas junto a saladas, vitaminas e sucos de frutas. O pó das folhas é uma alternativa para os alimentos também. As experiências de degustação realizadas na Escola José Alexandre incluíram professores e alunos. “Em relação ao suco, eu não vi ninguém ainda dizendo que não gostou. Já com a semente tem que ter cuidado. Quando ela vai ficando mais velha o sabor fica mais forte, mais amargo. Para prepará-la, você debulha como o feijão e cozinha, coloca em saladas e pratos que você queira”, disse Priscila Carvalho.
A receita preparada para os alunos foi suco de limão, folhas de moringa, água e açúcar. “O tradicional, é limão e moringa, mas pode adicionar folhas de capim santo, triturado com água e com açúcar”, deu a dica o bolsista do Projeto Moringa, da Escola José Alexandre, Raimundo Nonato de Sousa Paiva, complementado que o suco vira uma mistura refrescante. Ele alerta, no entanto, sobre o trabalho de sensibilização: “eles estão recebendo a informação com pouca empolgação, mas temos que sensibilizá-los para a importância desta planta”, completou o bolsista.
Fertilizantes
As folhas também podem ser usadas como fertilizantes. As sementes em forma de pó são utilizadas na produção de pomadas destinadas a tratamentos de doenças da pele. Seu óleo já foi utilizado como fixador de fragrância e lubrificador de relógios e cronômetros.
Sua utilização na alimentação é diversificada em vários países: nas Filipinas, folhas novas são transformadas em purê para alimentar crianças; na Etiópia, as folhas são temperadas, cozidas e misturadas a batatas e tomates. A Índia já exporta os frutos da planta para outros países. E no Brasil, já existem experiências em vários Estados nordestinos, inclusive, no Ceará. Aqui, a Fundação Deusmar Queirós, por exemplo, divulga a moringa desde 2000.
Fique por Dentro
Tratamentos
As sementes da moringa ajudam comunidades a ter água potável. Elas contêm um agente coagulante natural com propriedades similares as do sulfato de alio. As sementes podem ser usadas de dois modos. No primeiro, as sementes de moringa devem ser coletadas e descascadas. Em seguida, deve-se triturar a semente do interior até virar um pó. Este deverá ser derramado na água suja. A solução misturada com uma vareta por alguns minutos. Deixe a mistura descansar por algumas horas. O barro e as outras sujeiras irão se fixar no fundo do recipiente. Recupere a água de cima e coloque-a no sol por algumas horas. Com esse método, a taxa de infecção através da água pode ser reduzida de 80 a 98%. Doses recomendadas: de 30 a 200 miligramas de pó de moringa por litro de água, dependendo da qualidade da água a ser tratada. Em um segundo modo de preparação, deve-se colocar o pó obtido das sementes em um saco de algodão limpo. O saco deve ser amarrado a um barbante e depositado na água a ser tratada. Deixe o saco se encharcar na água, movendo-o de 15 a 20 minutos, segurando pelo barbante. Deixe a água descansar por uma ou duas horas antes de usá-la. Já contra sangramento pós-parto, deve-se triturar algumas raízes da moringa e misturar sua seiva em um litro de água limpa e potável. Deve-se acrescentar um pouco de barro branco à mistura. Beber a solução três vezes ao dia.
Fonte: Moringa Oleífera – A planta purificadora, de Victor Essou Fagnon.
DISSEMINAÇÃO NA AGRICULTURA
Iniciativa divulga cultivo da árvore entre Municípios
Em novembro, o Município de Piquet Carneiro receberá o projeto piloto do Núcleo de Disseminação da Moringa (Nudim), executado pela Fundação Deusmar Queirós, em parceria com a Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará (APDMCE). A instituição atua como mobilizadora na divulgação dos benefícios da moringa oleifera, desde 2000, através do projeto “Moringa a Semente da Vida”, garante a agrônoma e coordenadora do projeto, Renata Queirós.
O projeto teve apoio, inicialmente, da Empresa Brasileira de Correios e distribuiu, na época, sementes da planta para 55 municípios, atingindo 112,8 mil pessoas. Neste período, realizou o “Moringa nas escolas”, com a distribuição em unidades públicas do Estado, e o “Moringa Saúde” que capacitou agentes de saúde para a disseminação da planta. Hoje, a fundação faz remessa mensal de sementes e mudas para municípios, outros Estados e, ainda, para fora do País.
Em 2006, com a divulgação do trabalho, a Fundação criou o site, que hoje é a porta de entrada para o projeto. “Lá as pessoas entram em contato, associações, escolas, para doações de sementes. Nos não fazemos pesquisa, mas a gente repassa o que pesquisamos de universidades e pesquisadores no site”, disse a agrônoma sobre o trabalho.
Agora, a fundação quer replicar o que faz na Capital para os Municípios do interior. “A gente vai montar uma pequena plantação na cidade e vamos realizar um trabalho com a população, com formações, sobre saúde, higiene e os benefícios da moringa, junto com a distribuição da planta”, afirmou a Renata Queirós. Para a escolha do Município, no caso Piquet Carneiro, levou-se em consideração o acesso das populações a água potável. “Identificamos queo Sertão Central é uma das regiões que tem mais carência de água. Além disso, Piquet Carneiro, por não ser uma das maiores cidades do Sertão Central II e não ser cidade-polo, é pouco atendida por ações como esta”, disse a técnica de projetos da APDMCE, Amélia Prudente.
A expectativa da Fundação Deusmar Queirós é ampliar a distribuição e os beneficiados com a moringa. “Vamos implantar o projeto-piloto, capacitar um equipe que será a responsável no Município. Depois de um período iremos avaliar os resultados. Se precisar de alguns ajustes, faremos, para ampliarmos para outros locais”, afirmou Renata Queirós.
MAIS INFORMAÇÕES
Fundação Deusmar Queirós
Av. Senador Virgílio Távora, 1701 – Sala 1006 – Aldeota – Fortaleza (CE)
http://www.moringa.org/ (85) 3244.2101
Fonte: Diário do Nordeste