A população da Capital prefere se alimentar de carnes gordurosas, leite integral com alto teor de gordura e feijão
Por Lina Moscoso
Fortaleza. está em 24º lugar entre as 27 capitais brasileiras no consumo de cinco ou mais porções diárias de frutas e hortaliças por adultos. Menos de 15% dos fortalezenses costumam comer esses alimentos, apesar de um número maior de brasileiros se alimentar mais desses produtos de três anos para cá.
Estudo do Ministério da Saúde sobre o perfil da alimentação e da atividade física do brasileiro, o Vigitel 2009, divulgado, ontem, Dia Mundial da Saúde, revela que apenas 30,4% da população com mais de 18 anos optam por frutas e hortaliças cinco ou mais vezes por semana. O recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é o consumo de 400 gramas diárias, o que equivale a cinco porções por dia. Cerca de 19% dos brasileiros chegam ao ideal.
O Ministério da Saúde também faz um alerta para o aumento do consumo de alimentos gordurosos no Brasil. Em Fortaleza, mais de 30% da população de adultos se alimenta de carnes com gordura visível e quase 60% faz uso de leite com teor integral de gordura. A única notícia boa é que, na Capital, as pessoas não consomem tanto refrigerante regularmente. Cerca de 20% da população costumam utilizar a bebida.
Já no Brasil, 76% dos adultos bebem refrigerantes pelo menos uma vez por semana e 37,9%, cinco vezes semanalmente. Além disso, as versões diet e light são pouco utilizadas pelos brasileiros.
A ingestão de carnes vermelhas gordurosas caiu 15,8%, entre 2006 e 2009, no Brasil. No ano passado, 33% dos adultos comiam carnes com excesso de gordura, contra 39,2%, em 2006. Em contrapartida, as pessoas estão consumindo menos feijão. Na Capital cearense, a população ainda utiliza o alimento como indispensável. Mais de 60% consomem feijão cinco ou mais dias por semana.
Transição
Para a nutricionista do Hospital de Messejana e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Armênia Uchôa de Mesquita, o Brasil está vivendo uma transição nutricional caracterizada pela mudança nos padrões alimentar e nutricional das pessoas. “Hoje, a desnutrição caiu para dar lugar à obesidade, em vista do tipo de alimentação que se utiliza e da falta de atividade física”, explicou. Em Fortaleza não é diferente. As pessoas preferem gorduras saturadas a cereais e leguminosas.
De acordo com a nutricionista, o tipo de alimentação utilizada é cultural. Os fortalezenses não têm prática de se alimentar de maneira saudável. “É preciso haver um reeducação que comece em casa e nas escolas”.
A obesidade atinge mais as mulheres de baixa renda, como ressaltou a Armênia. “O que explica é a não opção por frutas e verduras que não são caras”. Conforme a professora, as crianças não ingerem alimentos mais benéficos porque não têm o exemplo em casa.
Armênia acredita que a conscientização para hábitos alimentares mais saudáveis aumentou no Brasil. “Uma das causas disso é que já temos políticas nacionais de alimentação, só precisam ser mais bem divulgadas e contar com mais profissionais qualificados”, ressaltou.
Merenda escolar
As políticas de incentivo à alimentação mais saudável do Município de Fortaleza se resumem aos cuidados com a merenda escolar das crianças, além dos programas nacionais que são praticados na Capital. “Desde o ano passado, ajustamos o cardápio nas escolas da rede pública municipal a fim de torná-lo mais saudável”, destacou o responsável pelo Departamento de Alimentação Escolar da Secretaria Municipal de Educação (SME), Arilúcio Salles.
Uma das medidas tomadas foi cortar produtos industrializados e inserir os “in natura”. Segundo ele, a Prefeitura segue as normas da Resolução 38 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). “É preciso utilizar 30% do que é comprado na obtenção de produtos orgânicos da agricultura familiar”. Além disso, há orientação dos professores, coordenadores e monitores a pais e alunos sobre alimentação saudável.
ALERTA
Armênia Uchôa de mesquita – Professora de Nutrição da Unifor
“É preciso haver uma reeducação alimentar que comece dentro de casa e nas escolas”
“Hoje, a desnutrição caiu para dar lugar à obesidade em vista do tipo de alimentação”
Fonte: Diário do Nordeste