Híbridos ganham o mercado

No Brasil, as hortaliças são produzidas em torno de 700 mil hectares. Deste total, uma fatia importante de cerca de 40% é cultivada com híbridos. Para se ter uma idéia, 85% da área nacional de produção do melão é cultivada com sementes híbridas. Além destes, 11% das áreas de cebola, 93% da de brócolis de cabeça, 84% de tomate, 62%% da cenoura de inverno, 30% da cenoura de verão, 70% da couve-flor de verão e 37%% da melancia são também cultivos a partir de sementes híbridas, segundo dados da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem).

Os principais estados produtores são Ceará e Rio Grande do Norte para cultivo de melão e melancias sem sementes.  Já, os Estados de São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia respondem por uma diversidade grande de espécies. Em cidades onde a presença de determinada hortaliça tem importância econômica, a presença dos híbridos é maciça. 

Vantagens
As vantagens do plantio com o uso de sementes híbridas começam pelo alto leque de resistência a uma série de doenças que afetam as culturas, passando pelo ganho expressivo de produtividade, mas não param por aí. Do ponto de vista mercadológico, ganha-se muito em qualidade final do produto, pois há agregação de valor em quesitos  como durabilidade pós-colheita, coloração, textura e sabor dos alimentos. Tais vantagens acabam por assegurar um produto diferenciado e com valor percebido nos diferentes elos da cadeia produtiva, até chegar à mesa do consumidor, garante Francisco Sallit, engenheiro agrônomo, presidente da Abcsem.

Antes e depois dos híbridos
No caso do tomate, antes dos híbridos a produtividade era mais limitada, por volta de 3 a 4 kg/planta. Hoje, com as novas variedades híbridas, consegue-se produzir de 7 a 10 kg/planta. “O resultado é expressivo, pois mostra a capacidade de resposta de um híbrido, quanto ao uso de outras tecnologias, como também a capacidade de adaptação dessas variedades aos diferentes ambientes e condições climáticas onde são produzidas”, enumera.

As espécies que utilizam sementes híbridas, atualmente, no mercado brasileiro são muito diversificadas, entre elas: melão, tomate, melancia, couve-flor, repolho, pimentão, abóboras e abobrinhas, berinjela, pepino, cenoura, brócolis, beterraba, entre outras , de um universo de mais de 80 espécies de hortaliças plantadas no país.

A demanda pelo uso de sementes híbridas tem crescido, segundo Sallit, porque a cadeia produtiva de hortaliças efetivamente percebeu que esta tecnologia agrega muito valor e tem demanda garantida.

Custo-benefício
Que as sementes híbridas são mais caras, não é novidade. Antes de investir, entretanto, é interessante ao produtor avaliar seu sistema de produção para se decidir até onde vale a pena investir nessa tecnologia. “Uma melancia de variedade comum pode custar ao agricultor R$ 100 o quilo. Já, para a semente híbrida, ele vai investir cerca R$ 2.500. Por outro lado, os investimentos necessários para conduzir a lavoura serão o mesmo, tanto para a variedade comum, como para a variedade híbrida, ou seja, a nutrição da cultura, o controle fitossanitário, a utilização de mão-de-obra, irrigação e etc. No final das contas, seguramente o nível de produção e produtividade será amplamente superior com o uso do híbrido, que será visivelmente percebido pelo produtor quando for avaliar a performance financeira de sua lavoura. Assim, a efetividade da contribuição da semente é um investimento interessante, que certamente compensará todo o custo de produção ao longo do ciclo da cultura”, diz. 

Pacote tecnológico
Para pequenos produtores que estão na dúvida entre investir ou não nas variedades híbridas, Sallit dá a dica: “Os pequenos podem até produzir com sementes híbridas, desde que intensifiquem os seus sistemas de produção, justificando o investimento. Se forem totalmente desprovidos do uso de outras técnicas e tecnologias para extrair o potencial da semente híbrida, não terão a resposta que esse melhoramento genético pode oferecer. Antes de tudo, é preciso contar com um conjunto de técnicas e de manejo, orientação e acompanhamento de um profissional, e então terão uma colheita farta. Não dá para incorporar o plantio de uma semente híbrida com o manejo do cultivo que não leve em conta o uso de outros insumos, que serão determinantes para explorar o máximo potencial produtivo daquele híbrido”, aponta o presidente da Abcsem.

Híbridos exigem tecnologia incorporada
As variedades de polinização aberta (OP) não exigiam muita preocupação com o processo produtivo por parte do produtor, devido ao seu baixo valor agregado. “Algumas etapas do processo produtivo eram feitas artesanalmente, como a produção de mudas, que era feita em copinhos plásticos ou as sementes eram semeadas em uma sementeira sem nenhum critério e com uso exagerado deste insumo”, conta.

Nos tempos atuais, a especialização, a profissionalização e, muitas vezes, a terceirização de algumas etapas de produção do setor são uma exigência para se manter no mercado. Os híbridos surgem como um importante insumo neste processo, no sentido de que todo o potencial dessa tecnologia seja absorvido e transformado em produção. Hoje, as lavouras de pimentão e tomate, entre outros, são preferencialmente realizadas a partir de mudas produzidas por terceiros, que asseguram o uso racional da semente e a qualidade da planta nessa primeira e vital fase do sistema de cultivo das culturas. 

As maiores rentabilidades
Sallit informa que as maiores respostas de produtividade e de rentabilidade com híbridos estão no tomate, melão, melancia, couve-flor, cenoura e cebola, que agregam valor ao produtor e a toda cadeia produtiva. Todos esses se diversificam em segmentos de produtos. O melão, por exemplo, tem o segmento Pele-de-Sapo, Amarelo, Gália, Cantaloupe e Charantais, uma contribuição dada pelo melhoramento genético, em resposta às exigências e demanda dos mercados nacional e internacional. Os tomates apresentam também diferentes tipologias: salada, caqui, saladete, cereja, pêra, etc., diferenciando-os no mercado e oferecendo um leque maior de opções ao consumidor.

Tendência ou realidade
Para Sallit, o plantio de sementes híbridas no setor de hortaliças deixou de ser uma tendência e tornou-se uma realidade no Brasil, que veio se desenvolvendo desde a década de 80, com a couve-flor, o repolho, tomate, pimentão e melão, se estendendo hoje a quase todos os cultivos. 

Alerta
Desconfie das sementes muito baratas ou vendidas por pessoas desconhecidas e sem credenciamento junto aos órgãos competentes para produzir e comercializar sementes. A pirataria de sementes chegou ao setor das hortaliças e vem causando prejuízos aos produtores em importantes regiões do Brasil, como em Goiás, Tocantins e no Nordeste do Brasil, que compram ‘gato por lebre’ e perdem em produtividade e lucratividade (30%). Perdem também na valorização de seus produtos no mercado. “Isto sem falar nos problemas fitossanitários que acabam por infestar suas lavouras e muitas vezes condenam o plantio futuro da espécie em uma área e região, devido ao alto grau de doenças como bactérias e fungos, que as sementes piratas disseminam nessas regiões produtoras”, lamenta Sallit.

Cabe ao setor público fiscalizar essa irregularidade e ao setor privado conscientizar os produtores da impossibilidade de perpetuar a qualidade genética da semente híbrida.  
 

Fonte: Revista Campo & Negócios