Os ipês-amarelos são os mais utilizados para a arborização das cidades, proporcionando um bonito contraste quando suas flores caem ao chão. No sertão, é espetáculo de rara beleza
FOTOS: ANTÔNIO VICELMO
Ainda há tempo para apreciar uma das raras belezas do semiárido: o ipê-amarelo totalmente coberto de flores
Está chegando ao fim um dos espetáculos mais bonitos da natureza: a floração do pau d´arco, também denominado ipê. Em meio à paisagem cinzenta, provocada pela seca, que enche de tristeza o sertão nordestino, o ipê quebra o clima de desolação, tingindo de amarelo o Cariri ressecado pelo Sol. A florada começa no mês de setembro, coincidentemente com a Semana da Pátria, e termina no final de outubro, quando as folhas caem, transformando o chão num tapete amarelo.
“As cores têm papel fundamental na vida de todos. É através delas que mostramos o que sentimos e também são elas que demonstram um pouco de cada um. Está em tudo o que envolve vida. A cor é praticamente o sentido da vida, seria impossível, surreal, imaginarmos um mundo preto e branco, ou melhor, sem cor. Não teria vida e muito menos sentido das coisas”, diz a artista plástica Edilma Rocha, com curso na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
“O amarelo é uma cor que contribui para a felicidade. É uma cor brilhante, alegre, que simboliza o luxo – é como estar em festa a cada dia. Associa-se com a parte intelectual da mente e a expressão de nossos pensamentos”, complementa o advogado e cronista Emerson Monteiro Lacerda.
Encontrado em todas as regiões do Brasil, o ipê sempre chamou a atenção de poetas, escritores e até de políticos. Em 1961, o então presidente Jânio Quadros declarou o pau-brasil a Árvore Nacional e o ipê-amarelo, da espécie Tabebuia vellosoi, a Flor Nacional.
Sombra do centenário
No Cariri, a árvore é o símbolo do ensino universitário. O Seminário São José do Crato, embrião da Universidade Regional do Cariri, nasceu na sombra de um centenário pau d´arco que ainda hoje resiste às intempéries do tempo. No encontro de ex-alunos do Seminário realizado este ano, alguns participantes mataram a saudade na sombra da árvore.
Conhecido por sua beleza e pela resistência e durabilidade de sua madeira, os ipês foram muito usados na construção de telhados de igrejas dos séculos XVII e XVIII. Se não fosse por eles, muitas teriam se perdido com o tempo. Até hoje a madeira do ipê é muito valorizada, sendo bastante utilizada na construção civil e naval, na fabricação de portas, janelas, linhas, caibros e forras.
Fins decorativos
Apesar de sofrer com o corte predatório por parte de madeireiros, o ipê ainda sobrevive graças ao cultivo para fins decorativos. Pelo seu menor porte (alguns ficam entre 10 a 20 metros), os ipês-amarelos são os mais usados na arborização das cidades, proporcionando um bonito contraste, principalmente quando suas flores amarelas caem sobre o asfalto escuro.
Moradores da Rua Pedro Bantim, bairro Sossego, em Crato, preservaram no meio da rua um velho pau d´arco que, nesta época, é objeto de admiração dos transeuntes no local.
O profeta João Casemiro, residente no Sítio Romualdo, município do Crato, diz que, quando o pau-d´arco flora no mês de setembro, é sinal de muitas precipitações, de que as chuvas chegam cedo, provavelmente no mês de janeiro, conforme garante ele. O bancário aposentado Manoel Ivan Pedroza diz que a flor do pau d´arco é um excelente nutriente das abelhas em busca de pólen e do néctar para fabricação do mel.
Para o poeta Patativa do Assaré, o pau-d´arco foi uma de suas fontes de inspiração. O poeta, fugindo a seu estilo tradicional de fazer versos matutos, escreveu um soneto clássico comparando-se com a árvore que, no passado, foi a “rainha do campo” mas, com o passar dos anos, perdeu a sua vitalidade.
Floração
Originária do Brasil, o ipê-amarelo é a espécie da árvore mais utilizada em paisagismo. Durante o inverno, as suas folhas caem e a árvore fica completamente despida. No início da primavera, entretanto, ela cobre-se inteiramente com sua floração amarela, dando origem ao famoso espetáculo do ipê-amarelo florido. Quanto mais frio e seco for o inverno, maior será a intensidade da florada. Os frutos amadurecem a partir de setembro a meados de outubro.
A madeira é própria para obra externas como postes, peças para pontes, tábuas, para assoalhos, rodapés, molduras, entre outros. A árvore é extremamente ornamental, principalmente quando em flor. É a espécie de ipê-amarelo mais cultivada em praças e ruas estreitas e sob redes elétricas em virtude do pequeno porte.
Medicina
Na medicina, o pau-d´arco é considerado como um excelente anti-inflamatório, antibacteriano, antifúngico e laxativo, além de ser bastante usado para tratar úlceras, infecções urinárias, psoríase, diabetes e alergias, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), como sífilis, candidíases e cancro, além de problemas gastrointestinais e alergias. Os estudos ainda não comprovaram suas propriedades anticancerígenas.
A madeira da árvore é própria para construções pesadas e estruturas externas, tanto civis como navais, como quilhas de navios, pontes, dormente, postes, para tacos e tábuas de assoalho, confecção de tacos de bilhar, bengalas, eixos de rodas etc. A árvore apresenta características típicas da floresta pluvial densa. Daí ser encontrada com abundância na Floresta Amazônica. Floresce de agosto a novembro, conforme a região, com a planta totalmente despida da folhagem. Os frutos amadurecem até dezembro.
Proporção
20m é a Altura máxima já vista em um ipê, que tem tronco com diâmetro variando de 60 a 80cm. Muito frequente na região Amazônica e esparsa desde o Ceará até São Paulo
Fonte: Diário do Nordeste