Irrigação sustentável moderniza agricultura

03/02 
Agricultores de Cristalina (GO) investem no aproveitamento de recursos hídricos, o que garante terras férteis e preserva o meio ambiente

Produtores rurais de Cristalina, no sudeste de Goiás, estão investindo no aproveitamento de recursos hídricos para aumentar a produtividade, com a preservação do meio ambiente. “Hoje, são 45 mil ha de lavouras irrigadas no município. O uso de água de forma sustentável pelos agricultores locais é considerado exemplo no Brasil e na América Latina”, explica o chefe da divisão de Agricultura Irrigada do Ministério da Agricultura, José Silvério.

A agricultura irrigada desempenha importante papel no desenvolvimento e modernização da agropecuária brasileira. Com o sistema, é possível garantir a produção de mais de uma safra anual e obter o melhor aproveitamento dos solos. Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Brasil possui 4,4 milhões de ha irrigados, mas seu potencial é de 30 milhões. Segundo Silvério, o Centro-Oeste apresenta ótimas condições para irrigação. A região tem capacidade de triplicar sua produção agrícola, em dois anos, e elevar a produtividade em até três vezes com o uso da técnica.

“Queremos conscientizar os produtores da região sobre o uso da água das chuvas em barragens”, diz o produtor rural Luiz Figueiredo. O agricultor pertence ao grupo que está mudando o perfil de Cristalina (a 250 km da capital goiana) a partir da irrigação. A terra úmida e fértil da região favorece o cultivo de produtos como café, feijão, milho, batata, cebola, alho, tomate, trigo, soja, cevada, abóbora, ervilha e algodão. Hoje, a cidade produz 2,7 milhões de toneladas de alimentos por ano.

O produtor Verni Wehrmann também investiu nos sistemas de irrigação dos 2,3 mil ha da propriedade, localizada no interior de Goiás, para a produção de alho, batata, cenoura e cebola. Com mais de dois mil empregados na fazenda, ele ressalta que o sistema de irrigação permite melhor controle de pragas e doenças, resultando no menor uso de agrotóxicos e em maior qualidade nos alimentos. “Os produtores daqui têm a consciência de que a sustentabilidade também vem da irrigação. Armazenamos água na época das chuvas e usamos para irrigação nos períodos de seca”, ensina.

Outro fator que tem impulsionado o desenvolvimento é a geração de empregos diretos e indiretos nas propriedades irrigadas. Em Goiás, são mais de 22 mil pessoas empregadas diretamente e 28 mil, indiretamente. A produção de trigo gerou mais de mil empregos, a de tomate, seis mil e a de feijão, 11 mil.

Para o presidente da Comissão de Irrigantes da Federação de Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), Tiago Mendonça, o crescimento da região depende de investimentos em energia elétrica, barragens e estradas. ”Temos potencial para produzir 200 mil ha e gerar mais de 50 mil empregos no estado”, defende.

Incentivo

O Ministério da Agricultura trabalha com políticas de fomento à agricultura irrigada por meio da capacitação técnica de produtores e linhas de crédito específicas. Os recursos disponíveis pelo Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem (Moderinfra) duplicaram na safra atual, passando de R$ 500 milhões para R$ 1 bilhão. O financiamento com juros anuais de 6,75% permite pagamento em até 12 anos. Na primeira metade da safra (julho a dezembro de 2010), as liberações do crédito do Moderinfra cresceram cerca de 55%, em relação ao mesmo período de 2009.

O Ministério apoia o uso racional da água destinada à irrigação por meio de cursos de capacitação técnica aos produtores e linhas de financiamento específicas, como o Moderinfra. Os fenômenos climáticos que vêm afetando o setor agropecuário, não apenas no semi-árido, mas em outras regiões do país, tornam a irrigação necessária. O chefe da divisão de Agricultura Irrigada do Ministério da Agricultura, José Silvério, destaca a inclusão da drenagem agrícola nos projetos de irrigação. “É importante devido à importância no controle do excesso de água e na redução do processo de salinização das terras sob irrigação”, diz.

Para Silvério, outra importante contribuição do Ministério da Agricultura, que trata diretamente da utilização racional dos recursos hídricos, diz respeito ao zoneamento agroclimático, além de estudos voltados para o melhor aproveitamento das águas das chuvas. O trabalho, realizado em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), informa aos produtores rurais sobre a adequação de cultivares melhoradas, características de solo e clima em áreas de produção.

Produção

Em Goiás, estão as três bacias hidrográficas — São Francisco, Araguaia/Tocantins e Paranaíba/Paraná. Trata-se da sexta maior área irrigada do País. O estado oferece condições de clima, relevo, solo e água com qualidade e quantidade, ideais para a produção de alimentos, que pode triplicar por meio da água da chuva armazenada em represas.

Várias culturas da região já empregam sistemas de irrigação. No caso do trigo, são nove mil ha e 45 mil toneladas colhidas. O feijão irrigado corresponde a 75 mil ha de área para produzir 3,7 milhões de sacas de 60 quilos ao ano. Nessa cultura, a produção irrigada é de 45 sacas por ha, enquanto o sequeiro produz 27 sacas por ha. Já o tomate industrial, com mais de meio milhão de toneladas, responde por 85% da produção nacional, em uma área de 14 mil ha.
 

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento