Perdas na agricultura chegam a 100%

O excesso de umidade em decorrência das chuvas dos últimos dias comprometeu plantações de hortaliças, frutas e legumes

Por Tisa Moraes

A grande quantidade de chuva que atingiu Bauru nos últimos dias destruiu plantações de hortaliças, frutas e legumes na região e fez com que a produção agrícola despencasse além do esperado para esta época do ano. Em algumas propriedades as perdas chegaram a 100%, principalmente no cultivo de algumas frutas que crescem em contato com o solo, como é o caso da melancia e do maracujá.

Pelo excesso de umidade, a incidência de microorganismos que causam doenças aumenta e, quando os produtos não estragam, ficam com a qualidade comprometida. As tempestades e os ventos fortes também arruinam as produções mais sensíveis, como é o caso das hortaliças, que sofreram perdas entre 50% e 70%, conforme afirmam os agricultores consultados pela reportagem.

De acordo com Maurício Lima Verde, presidente do Sindicato Rural de Bauru e Região, as plantações de folhosos como alface, agrião, couve e até de tomate sofrem com o ataque de fungos e bactérias e, na maioria dos casos, é praticamente impossível impedir que elas se proliferem. “Como estão próximos do chão úmido, não há muito o que fazer, a produção apodrece. Ao contrário do que ocorre com o cultivo de laranja, em que os produtores podem utilizar fungicidas para evitar, pelo menos, parte dos prejuízos”, explica.

Embora os produtores contassem com algum prejuízo, em razão das chuvas que caracterizam as estações da primavera e verão na região, Lima Verde comenta que, neste ano, as alterações climáticas que nem mesmo os meteorologistas conseguem explicar, surpreenderam até as expectativas menos otimistas. “Eu nunca reclamei de chuva, mas neste ano, as tempestades estão muito pesadas e destrutivas. Os prejuízos são muito grandes e, além de estragar as produções, tornam as estradas vicinais intransitáveis, provocam erosões e destroem a infra-estrutura das propriedades”, comenta.

Segundo ele, em razão desta mudança, até mesmo a produção de café teve seu ciclo alterado e poderá ser reduzida a partir do próximo ano. “A florada do café está alterada e, na época de colheita, teremos problemas, porque cerca de 40% dos grãos estarão verdes. E o certo é colher o café seco”, frisa.

Canteiros dissolvidos

O horticultor José Yamaguti comenta que as chuvas foram tão intensas nos últimos dias que as laterais dos canteiros onde estavam as hortaliças simplesmente se desfizeram, levando embora cerca de 60% da produção antes mesmo do desenvolvimento completo das plantas. “Como somos fornecedores e já tínhamos assumido compromisso com clientes, tivemos de trazer produtos de Cotia e Ibiúna para que não faltasse mercadoria”, salienta.

Além da perda de produção e dos gastos adicionais com a compra de verduras de outros produtores, ele conta que o temporal de anteontem também destruiu uma represa de sua propriedade, totalizando um prejuízo de R$ 150 mil em menos de uma semana.

Os resultados causados pela chuva também são considerados desastrosos para uma produtora e distribuidora de verduras em Bauru. Conforme revela o engenheiro agrônomo da empresa, Renato Sato, 70% da produção foi afetada, entre eles maços de alface, rúcula, almeirão, coentro e cebolinha. “Nossa produção diária é de 1.400 dúzias. Nos últimos dias, não conseguimos chegar à metade disso. O prejuízo é grande”, comenta.

Sua expectativa é de que sejam necessários, no mínimo, de 60 a 90 dias para recuperar o prejuízo, mas isso se não voltar a chover. Apesar de a empresa ainda conseguir aproveitar 30% da produção, Yamaguti admite que a qualidade dos produtos não é satisfatória para atender o consumidor. “Se antes eu precisava de apenas um pé de alface para fazer um maço, agora preciso de quatro ou cinco, porque grande parte das folhas está estragada”, acrescenta.

Ainda que, para a agricultura, a precipitação acumulada de 171,7 milímetros em dezembro tenha provocado preocupação e prejuízos, para outros setores é motivo de comemoração. Para a pecuária, por exemplo, a chuva é altamente benéfica porque recupera as pastagens e, conseqüentemente, engorda o gado e acelera a produção de leite. “A pecuária leiteira praticamente não teve entressafra neste ano, porque as pastagens não chegaram a secar. E o preço do boi, que já era para estar mais caro, não subiu porque o gado não emagreceu”, comenta Lima Verde.

Segundo ele, as novas plantações de milho, feijão e arroz, plantadas entre outubro e novembro, também estão sendo beneficiadas com as chuvas que atingiram a região até o momento.

Fonte: JCNet