Perspectivas de produção de sementes de beterraba no Brasil
O cultivo de beterraba em nosso país representa apenas 2,1% do mercado de hortaliças. Para a produção desta espécie, o valor de mercado de sementes em 2010 foi de R$ 8,9 milhões (ABCSem, 2011), sendo que esta demanda cresce a cada ano. Apesar da importância para a olericultura nacional, a produção de sementes de beterraba no país ainda é muito pequena. A quase inexistência de condições ambientais apropriadas para a produção de sementes dessa espécie em nosso país resulta na quase totalidade de importações do insumo. Além da evasão de divisas, o risco de entradas de pragas e doenças exóticas via sementes importadas é grande. Em um levantamento da qualidade sanitária de sementes de beterraba importadas pelo Brasil em 1989 realizado pela Embrapa Hortaliças e Esalq/USP constatou-se uma elevada presença de microrganismos associados às sementes.
Além das condições climáticas desfavoráveis, outros fatores têm influenciado a importação de sementes de beterraba pelo Brasil como a inexistência de programas de melhoramento genético e o escasso conhecimento na tecnologia de produção de sementes, onerando assim, o custo final.
Condições para o florescimento.
Sabe-se que baixas temperaturas associadas à fotoperíodos longos favorecem o florescimento e, consequentemente, a produção de sementes de beterraba. Estes fatores, no entanto, nem sempre ocorrem na maioria das regiões brasileiras. A iniciação floral em beterraba é um caráter quantitativo influenciado pelo comprimento do dia, e que interage com baixas temperaturas de vernalização para indução ao florescimento. Assim, fotoperíodos longos associados à baixas temperaturas favorecem a passagem da fase vegetativa para a fase reprodutiva. A aplicação de reguladores de crescimento (a exemplo da cenoura), os quais substituem a necessidade de baixas temperaturas para o florescimento apresentam um grande potencial para a produção de sementes desta espécie nas nossas condições. No entanto, resultados preliminares em estudos realizados na Embrapa Hortaliças, Brasília, DF, indicaram ausência de efeito indutor de florescimento pelo ácido giberélico em acessos de beterraba adaptados às condições brasileiras. A produção de sementes de beterraba através de vernalização artificial de raízes é uma técnica que tem se mostrado eficiente para a produção de sementes de diversas hortaliças (como cebola e cenoura) em nossas condições climáticas e pode ser utilizado na produção de sementes de beterraba.
Estudos relacionados ao florescimento e produção de sementes de beterraba
Verifica-se a quase inexistência de estudos relacionados ao florescimento e a produção de sementes de beterraba em nosso país. Neste contexto, estudos visando identificar materiais genéticos com menores exigências de frio e fotoperíodo bem como com uma melhor resposta a vernalização artificial devem ser realizados. Alguns estudos pioneiros na Embrapa Hortaliças, Brasília, e na Empasc, Santa Catarina, visando o florescimento e a produção de sementes de beterraba foram realizados no passado. Na década de 1980, houve a iniciativa de identificação de materiais de beterraba capazes de florescer nas condições de Brasília, o que resultou na seleção de genótipos para posterior desenvolvimento de cultivares, como foi o caso da cultivar Itapuã 202 pela empresa de sementes Isla®. Atualmente, as sementes desta cultivar tem sido produzidas e comercializadas por esta empresa, a qual induz o florescimento das plantas em condições naturais do Rio Grande do Sul, notadamente em Candiota. Vale salientar que as sementes de beterraba são normalmente produzidas em paralelos maiores que 35º. Por isso, os locais tradicionais de produção de sementes são o Chile, Estados Unidos, Nova Zelândia e alguns países da Europa.
Nas condições de Brasília, embora alguns acessos tem se mostrado promissores ao florescimento e à produção de sementes utilizando a vernalização artificial de raízes, os pendões florais se mostram muito susceptíveis ao ataque de Cercospora beticola, que pode representar um problema importante para futuros campos comerciais de produção de sementes de beterraba na região.
Os resultados obtidos até o momento indicam que é possível fomentar a produção nacional de sementes reduzindo assim a importação e minimizando o risco de entrada de patógenos exóticos associados às sementes de beterraba no país. Novos acessos devem ser introduzidos e avaliados com relação ao florescimento e a produção de sementes de beterraba nas condições do Brasil. Estes acessos, com capacidade de responder a estímulos ao florescimento, podem servir como a plataforma genética para estruturar um programa de melhoramento genético nacional visando desenvolver cultivares produtivas, com boa qualidade de raiz, com maior tolerância à cercosporiose e melhor adaptadas às condições edafo-climáticas do Brasil.
Warley Marcos Nascimento
Pesquisador – Embrapa Hortaliças
e-mail: wmn@cnph.embrapa.br