Pesquisa observa comportamento do clima em SP nas últimas seis décadas

Estudo desenvolvido na ESALQ mapeia precipitação pluvial e temperatura do ar e fornece informações sobre o impacto das variações climáticas sobre a atividade agrícola

Por Caio Rodrigo Albuquerque

A importância sócio-econômica do agronegócio paulista e a vulnerabilidade agrícola diante dos fenômenos atmosféricos evidenciam a necessidade da constante investigação da dinâmica climática do Estado de São Paulo. Com objetivo de fornecer informações ao agronegócio, o engenheiro agrícola Gabriel Constantino Blain descreveu, estatisticamente, as séries temporais de precipitação pluvial (PRE), temperatura do ar máxima e mínima do Estado de São Paulo nas últimas seis décadas.
 
O estudo, apresentado ao programa de pós-graduação em Física do Ambiente Agrícola, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), considerou escalas anual, mensal e absoluta, determinando as respectivas probabilidades de ocorrência, possíveis periodicidades, tendências e variações climáticas. O pesquisador baseou-se na elevada vulnerabilidade da agricultura em relação às adversidades meteorológicas.  “O melhor conhecimento da probabilidade de ocorrência de valores de temperatura do ar e precipitação pluvial bem como de possíveis tendências e variações climáticas presentes nessas séries meteorológicas ajuda a mitigar os efeitos adversos do clima na produção agrícola”, comenta.
 
A pesquisa foi desenvolvida na ESALQ, onde foram analisados os dados da série histórica do posto meteorológico da Escola. Nesse estudo, Blain contou com orientações dos professores Paulo César Sentelhas e Sergio Oliveira Moraes, do departamento de Engenharia de Biossistemas (LEB) e da professora Sonia Maria de Stefano Piedade, do departamento de Ciências Exatas (LCE), que auxiliou na parte de Estatística Climatológica. Além disso, o pesquisador lembra de outras instituições que o apoiaram: “Do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), observei as séries históricas de oito localidades ou postos meteorológicos. Naquela instituição tive apoio dos pesquisadores Marcelo Bento Paes de Camargo e Regina Célia de Matos Pires. Também contamos com apoio técnico científico da Mary Toshie Kayano, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)”.
 
Considerando as escalas mensal e anual, nas séries de temperatura mínima, foram detectados os indícios mais significativos de tendências de elevação temporal nos últimos 60  anos. “De forma geral, as análises estatísticas utilizadas no trabalho  indicam marcante influência de fatores de escala local, tais como o  elevado grau de urbanização ocorrido no Estado. Essas alterações foram mais severas em Campinas, Cordeirópolis, Ribeirão Preto e, especialmente, Ubatuba. No entanto, em todas as  localidades as temperaturas observadas ao longo do mês de abril  apresentam data inicial de elevação no início da década de 1980”, aponta Blain. Especificamente para Ubatuba, o pesquisador ressalta que demais trabalhos científicos apontam as costas Leste e Oeste da  região Sul do continente Sul Americano como sendo as regiões em que os  indícios mais significativos de elevação na temperatura do ar têm sido  observados. “Um passo futuro aos resultados de nosso trabalho será o  estudo das causas dessa elevação também indicada pelas nossas  descrições estatísticas”, sugere. Além das cidades mencionadas, o estudo mapeou os registros meteorológicos em Piracicaba, Jundiaí, Mococa, Pindorama e Monte Alegre do Sul.
 
De forma geral, a indicação de provável influência do efeito de  ilhas de calor urbano nos postos meteorológicos utilizados, demonstra a  necessidade de conhecer melhor e possivelmente isolar esses fatores na  elaboração do zoneamento agrometeorológico. “A elevação das temperaturas do ar, observadas no mês de abril, no  Estado de São Paulo, indicam, por exemplo, que as pesquisas voltadas às culturas como a do café devem enfocar (ou continuar enfocando) a  possível influência dessa elevação na maturação desse produto e, sua  conseqüente influência na qualidade final do mesmo. Os sistemas  produtivos devem também considerar, além dessas características  relativas à temperatura do ar, a indicação de elevação nos totais  mensais de precipitação pluvial observada no mês de maio em todas as  localidades analisadas”, conclui o autor do trabalho.

Fonte: Esalq