Plantio direto em hortaliças folhosas é viável

Por Nuno Rodrigo Madeira – Pesquisador da Embrapa Hortaliça.

Para obter sucesso com a adoção do plantio direto em hortaliças, é de fundamental importância a escolha adequada da sucessão de culturas, visto que as hortaliças em geral não deixam resíduo de palhada em quantidade adequada ao sistema, seja pela baixa relação C:N que apresentam, o que proporciona rápida decomposição, seja pela exportação do material vegetal por ser este o produto comercial de interesse. No esquema de rotação escolhido, pode-se incluir plantas de cobertura que tragam retorno comercial ou simplesmente forneçam palhada para o sistema. As plantas de cobertura (milho, girassol, arroz, milheto, sorgo, aveias, braquiárias, crotalárias, mucunas, nabo forrageiro, entre outras) reciclam nutrientes, em função do seu profundo e agressivo sistema radicular. Pode-se, ainda, utilizar vegetação espontânea, desde que sanadas limitações pré-existentes como necessidade de calagem, eliminação de ervas infestantes de controle problemático e compactação subsuperficial do solo. Tão importante quanto o efeito de cobertura do solo pela palhada é o efeito promovido pela decomposição das raízes, o que proporciona a abertura de galerias, atuando como um “arado biológico”.

Já bastante utilizado em cebola e tomate, especialmente para processamento, o plantio direto em hortaliças folhosas vem sendo adotado em áreas de produção de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal. Além do excelente controle de processos erosivos, verifica-se redução do inçamento, conservação da umidade e atenuação da variação de temperatura do solo, incremento na capacidade de troca catiônica (CTC) e no teor de matéria orgânica, redução no uso de máquinas e significativa economia de água de irrigação, em função da menor perda por escorrimento/evaporação e da maior infiltração. Por outro lado, apresenta operações adicionais ao sistema convencional por exigir o plantio de plantas de cobertura, fornecedoras de palhada, levando a uma efetiva rotação de culturas, prática recomendada nos sistemas agrícolas e, muitas vezes, não utilizada. Cabe citar que se trata de tecnologia que pode ser praticada por produtores dos mais variados perfis socioeconômicos.

O cultivo de alface sobre palhada de aveia preta (inverno) e milheto (verão) vem sendo empregado por produtores de São Paulo, região de Ibiúna. Em brássicas, a Embrapa Hortaliças vem desenvolvendo parcerias com a Emater-MG, implantando unidades demonstrativas em Mário Campos, Sarzedo (cinturão verde de Belo Horizonte), Carandaí e Paraopeba, obtendo resultados satisfatórios. Em Nova Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro, área que sofre com graves problemas de erosão, será realizado em 11 de fevereiro um dia de campo sobre o cultivo de couve-flor em sistema plantio direto em parceria com a Embrapa Agrobiologia. Nesta cultura, o sistema plantio direto tem se mostrado como uma alternativa para conviver com a hérnia das crucíferas, agressiva doença de solo causada pelo fungo Plasmodiophora brassica que permanece no solo por décadas e que pelo sistema convencional é multiplicado a cada ciclo de cultivo. Não só em couve-flor, mas em alface e brócolos de cabeça única produzidos no verão, observou-se redução significativa da incidência de doenças, seja pela melhor drenagem e infiltração e pela eliminação dos respingos das gotas impactantes da chuva, seja pela regulação térmica que a palhada promove, levando à obtenção de produto comercial de melhor qualidade.

A competitividade de unidades de produção de hortaliças depende da geração de tecnologias que assegurem sua sustentação. É indispensável buscar alternativas para o desenvolvimento de modelos de produção de hortaliças com sustentabilidade ambiental e viabilidade econômica. Indiretamente, sob o ponto de vista da sociedade como um todo, os sistemas produtivos devem contribuir para a redução dos impactos negativos advindos da produção agrícola, como erosão e contaminação das águas.

Fonte: ANAPA