Preços aumentam até 80%

 

Para economizar nas compras de frutas e verduras, consumidores pesquisam

Chuvas nos estados produtores provocaram a escassez de alguns produtos e majoração dos valores

Jonas da Silva
Da Redação

Apesar do constante aumento no preço de alimentos como frutas e verduras, o consumo é crescente, dado ao aumento de renda do mato-grossense, em especial a distribuição nas classes C,D e E. Mesmo com a máxima de que para cada estação do ano se deve aproveitar as frutas ou legumes da época, o consumidor continua a pagar mais pelos alimentos. Um panorama dessa evolução está na Feira do Porto e no supermercado, onde empresários adotaram dias específicos para venda deles.

A chuva do início do ano em cidades como São Paulo e da região Sul fez, por exemplo, com que a alface, ingrediente comum da salada do mato-grossense, aumentar em torno de 60% de janeiro para este mês. No início do ano, o maço custava em torno de R$ 1,25 e agora está R$ 2, comenta o vendedor da Feira do Porto, Rosivaldo Guimarães Filho. As pessoas revezam com outras verduras, mas a demanda puxa o preço, admite. “A procura está alta, principalmente de restaurantes. E as pessoas levam um pouco e variam com rúcula e almeirão, que custam R$ 1,50 a R$ 2, mesmo preço do alface”.

A feirante também do local, Rosa Camargo, há 2 anos na labuta, vai direto e aponta que o tomate e a batata estão entre as causas de preocupação de alta e redução de preço neste ano. O quilo do tomate chegou perto de R$ 5 para o consumidor, e agora ela vende a R$ 3. A caixa de 20 quilos chegou a R$ 70 em abril, mas na semana que passou, ficou na média entre R$ 35 a R$ 40. “O tomate e a batata estão no sobe e desce e a cenoura se mantém. Os vilões são o tomate e a batata”. Ela revela que o comerciante reclama, mas o preço é repassado e reduzido conforme o valor no atacado. “A batata chegou a R$ 160 a caixa de 50 quilos em abril. Agora está R$ 140”.

Consumidora adepta das pesquisas, a professora Angela Furtado, sabe das datas de promoção dos supermercados como Comper, Modelo e Compre Mais. “Alguns supermercados têm preço melhor do que os outros, e chegam a ser 50% mais baratos em relação à maioria das feiras. Melancia, banana, maçã, sai tudo por quase a metade do preço”. Ela afirma que nas feiras, por estarem todos os feirantes juntos, os preços não diferem muito. Mas entre supermercados, o preço entre um e outro é mais em conta.

Apesar de terem reduzido de preço nas últimas semanas, o feirante Sergio Luperini, 16 anos de Feira do Porto, reforça a avaliação de Rosa, ao dizer que dos produtos que vieram de fora, a batata e o tomate subiram e mantiveram os preços. No caso da batata, lembra, teve aumento acentuado, e atingiu cifra de 72% mais cara entre fevereiro e este mês. “A batata inglesa estava R$ 2,50. Agora subiu mais e está hoje a R$ 4,30”. Dos produtos comuns da mesa de famílias de Cuiabá e Várzea Grande, diz Luperini, só a mandioca mantém o preço, porque a produção é suficiente e é da região. Desde o começo do ano, o tubérculo é vendido por uma média de R$ 1,30 (o quilo).

Experiente na comercialização de frutas e verduras, com 20 anos de acordar cedo e montar banca no mercado, o proprietário Francisco de Assis Jacinto fala na escassez do grupo de alimentos devido à combinação direta de pouca oferta e aumento de preço. Ele enumera que a banana, o mamão e o abacaxi dobraram de preço no espaço de 2 anos. “O consumo aumentou muito e a oferta pouco. As frutas aumentaram uns 100% de 2 anos para cá. A banana, por exemplo, custava de R$ 1 a R$ 2. Hoje está de R$ 2 a R$ 4”.

Ele diz que em casos específicos como o tomate, o reflexo para o consumidor vem do preço do produto no atacado, com o impacto da chuva e perdas que encarecem os alimentos. Só que em sentido inverso, pois o que era caro, agora reduziu de preço. Em janeiro, conta, uma caixa de tomate de 20 quilos era adquirido por R$ 60. Agora compra por R$ 35 a R$ 40 a mesma quantidade. Para o consumidor da Feira do Porto, o produto reduziu pela metade. Em janeiro chegou a R$ 5 o quilo e agora está R$ 2,50. É caso único do sobe e desce de preço com o passar dos meses.

Sazonalidade – A situação do tomate tem o impacto da sazonalidade, da safra do produto. O proprietário Francisco Jacinto tem uma explicação do que observa todo ano. Agora em junho alivia o consumidor. A previsão é que o preço do tomate seja reduzido no mês que vem. “O tomate, no mês de junho deve dar uma caída mais um pouco. Será safra geral no país inteiro”. Com relação à alta citada pelo feirante, ela se deve ao fato de que “não tem produção do tomate desde novembro de Mato Grosso e por isso em janeiro estava caro”.

No Estado, informa Jacinto, boa parte do que é abastecido em Cuiabá e Várzea Grande vem de hortas de Chapada dos Guimarães e Campo Verde, onde se produz tomate. A produção de fora vem de Goiânia (GO), de São Paulo e do Estado de Santa Catarina. Assim como outros feirantes, ele lembra que a oferta de produção poderia ser local. O feirante revela a discrepância da falta de alimentos tão básicos para a alimentação, que influencia no preço e na sua explicação de pouca oferta e alta do preço. “Aqui em Mato Grosso o investimento em frutas e legumes é muito pouco. Plantamos muita soja. A produção de frutas e legumes no Estado de Mato Grosso não chega a 10% do volume que é consumido”. Ele ainda relata que batata, cenoura, beterraba e alho subiram de preço nos últimos 2 meses.

Há 27 anos como feirante na mais tradicional feira de Cuiabá, no Porto, Olivaldo Vieira Marques, sabe o que é a gangorra dos preços de alimentos, mesmo não sendo frutas e verduras. Na sua banca, outro ingrediente presente no prato de cuiabanos e várzea-grandenses, o feijão Carioquinha claro, custava R$ 2,50 o quilo no início do ano, até fevereiro, diz. E ultimamente passou para R$ 4,50. Nas contas de todos os consumidores que passam por ali fazem, o aumento anotado é de 80% apenas no espaço de 3 meses.

Supermercados – A gerente de uma rede supermercadista de Cuiabá, Izilda Maria da Silva, informa que o setor de frutas e verduras tem expandido em vendas nos últimos 2 anos, como narra o veterano feirante Francisco. Ela diz que há 2 anos o segmento tinha participação em torno de 10% das vendas do estabelecimento. Mas nos últimos meses cresceu para cerca de 12%. Sobre os vilões de alimentos, ela confirma a alta citada pelos feirantes. “No início do ano, o tomate e batata estavam em média R$ 2,90 e a atualmente o preço é de R$ 3,50”. Izilda credita que o setor é dependente das frutas da época e não tem tanta falta e excesso de produtos para ofertar aos consumidores. “Até o cliente costuma ver a diferença de preço que teve e compra menos. Mas não altera muito, o consumo de frutas e legumes tem melhorado”.

Uma pesquisa recente da Associação Paulista de Supermercados confirma que os brasileiros passaram a consumir mais alimentos adquiridos nos estabelecimentos. E um dos fatores é a melhoria da remuneração do seu trabalho. Segundo dados da LatinPanel, maior empresa especializada na pesquisa do consumo domiciliar, a renda do brasileiro cresceu 6% em 2008, mas a expansão do gasto médio no supermercado somou 9%, mais do que o dinheiro que o consumidor ganhou no bolso.

Em nível nacional o setor estima crescimento de 10% este ano, puxado pelo consumo. Na outra ponta, na formação de parte da renda do trabalhador, o salário segue com ganhos. Como no caso dos trabalhadores do comércio varejista e atacadista de supermercados em Cuiabá e Várzea Grande, que seguiu crescente nos últimos 4 anos, com ganho real. Saiu de R$ 400 em 2005 para R$ 572 em 2009, alta de 43%, de acordo com a Associação de Supermercados de Mato Grosso (Asmat).

Fonte: Gazeta Digital