Na fase de testes, o cultivo rendeu 20 mil caixas de morango numa área de seis mil metros quadrados. A colheita mais recente dobrou esse número
FOTOS: WILSON GOMES
A colheita do morango deve levar em conta o tempo de transporte, a temperatura do ambiente e a finalidade do produto, que pode ser para o uso industrial ou “in natura”
A Serra da Ibiapaba está se tornando uma grande produtora de morango. O fruto típico de climas mais amenos está ganhando espaço nas lavouras de São Benedito e Ibiapina. A ideia de testar o cultivo na região foi de Claudemir Cesar Pereira, que resolveu trocar Minas Gerais pelo Ceará. Ele chegou aqui no início de 2009, atraído por reportagens que mostravam a produção de rosas em São Benedito. De início, adquiriu um hectare de terra e em alguns meses já começou a cultivar o fruto nada comum em nosso solo cearense.
Hoje, as terras estão sob os cuidados do irmão de Claudemir, Flávio José Pereira, que aportou em São Benedito com a família. “Meu irmão pretendia aumentar a produção de morango, havia comprado mais quatro hectares, e para dar continuidade ao projeto ele me convidou e aceitei”, conta Flávio José, acrescentado que o comércio competitivo e a boa oferta desvalorizam o valor do produto em Minas Gerais. Outra vantagem apontada por Flávio José é que a produção no Ceará é mais próxima do mercado consumidor, ao contrário de Minas.
Na pequena propriedade, ele dá emprego para mais de 40 pessoas, que são responsáveis pela preparação do terreno, limpeza dos morangueiros e colheita. “Cada pé de morango produz cerca de 300 gramas, o que ao final de cada safra chega a render algo em torno de 20 mil quilos”, conta Flávio.
Boa parte da produção é absorvida pelo mercado interno e outra parte segue para o Piauí. Mas a exploração do comércio internacional é também o objetivo dos produtores da Serra da Ibiapaba. “Estamos apostando numa nova cultura, que é o morango para exportação. Trouxemos da China algumas mudas dessa nova variedade, e acreditamos que em dois anos poderemos fornecer esse produto para o exterior”, disse Carlos Alberto da Silva, outro produtor envolvido no projeto.
Flávio José conta que, apesar do clima favorável, com temperatura amena, variando entre 18°C e 25°C, teve que se adaptar ao tempo de luz solar. “Aqui o dia é mais longo que a noite, e isso prejudica um pouco a produção, mas o que se torna favorável é o tempo de colheita, que nesse caso é reduzido para 45 dias e influi no preço final.
A ideia de plantar morango da serra deu tão certo que no primeiro ano os resultados foram bastante positivos, chegando a uma produção de 20 mil caixas da fruta cultivada numa área de seis mil metros quadrados. A mais recente colheita dobrou a produção, comercializado no Ceará e em Teresina/PI.
Um dos recursos utilizados pelos produtores é a ferti-irrigação, que conjuga irrigação por gotejamento com adubação das plantas cultivadas em túneis (estufas) com proteção de plástico. O túnel plástico oferece melhoria de qualidade e disponibilidade do produto em uma condição mais controlada. De acordo com Carlos Alberto, além de aumentar o rendimento da planta, o sistema possibilita o alongamento da colheita. Ele lembra que o morangueiro é sensível, mas também adaptável em regiões de clima ameno.
SABOR E SAÚDE
Fruta conquista paladar do cearense
Ingrediente comum em sorvetes, geleias e iogurtes, o morango ganha a mesa dos cearenses também na forma bruta. Comê-lo puro ou associado a receitas é um hábito que vem crescendo a cada ano, já que há um acesso maior ao produto.
Além de saboroso, o morango é ainda muito nutritivo. Cada 100 gramas do fruto contém cerca de 39 calorias e cada unidade traz 90,2% de água. As principais vitaminas encontradas são A, B, B2 e C. Estudos revelam que o morango pode ser eficiente na prevenção de vários tipos de câncer. Dentre suas propriedades medicinais, estão a estimulação da absorção no organismo infantil e aumento da resistência a infecções. A colheita é realizada de forma manual. A cor é o parâmetro mais importante para definir o ponto de colheita dos morangos. De modo geral, o fruto deve ter, no mínimo, de 50% a 75% da superfície vermelho-brilhante, quando destinado para consumo fresco. O ponto de colheita pode variar também em função do tempo de transporte, da temperatura ambiente, da cultivar e da finalidade do produto.
Para ter a certeza de estar levando para casa um produto de qualidade, os especialistas dão algumas dicas importantes. A recomendação é que sejam escolhidos frutos pequenos e com talos ainda verdes. As unidades maiores e deformadas podem indicar a presença de agrotóxicos em excesso.
Uma dica para conservar o produto é deixá-lo de molho em água e um pouco de vinagre e esperar que seque bem antes de levar à geladeira. Frutas úmidas tendem a estragar mais rápido.
O morango pode ser conservado à temperatura de 0ºC, de três a cinco dias. É essencial que durante o transporte seja refrigerado pois assim pode-se manter a cadeia do frio. Os morangos são altamente perecíveis e devem ser consumidos logo. Outra opção é congelá-los. A dica é retirar o talo, enxugar um pouco e passar no açúcar, retirando o excesso depois.
FIQUE POR DENTRO
Dicas para plantio
É fundamental o acompanhamento sistemático da lavoura do morango para obter os resultados esperados. Entre as práticas culturais usuais deste cultivo, destacam-se a cobertura do solo, colocação e manejo do túnel plástico, retirada de restos de cultura e limpeza da lavoura. A época de colocação da cobertura do solo deve ser de 30 a 40 dias após o transplante, quando a muda do morangueiro já está estabelecida. Antes da colocação da cobertura, é aconselhável fazer a escarificação do solo, quebrando a crosta formada pelas gotas da chuva ou da irrigação por aspersão. Não se irrigar em demasia. O solo encharcado e a evaporação saturam o ambiente no túnel, facilitando a proliferação de doenças.
Fonte: Diário do Nordeste