Curso Inclusão social através das técnicas de jardinagem conta com a ajuda de alunos e técnicos da universidade
Debaixo de sol forte, temperatura próxima dos 35ºC, João Paulo Sucupira Neves e mais sete estagiários ensinam um grupo de 20 pessoas a dispor mudas de calisias em um canteiro do setor de Horticultura, do Departamento de Produção Vegetal (LPV), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/Esalq). João Paulo é aluno do 3º ano de Engenharia Agronômica e estagiário do Grupo de Estudos em Paisagismo (GEP). As pessoas que aprendem a dispor mudas de calisias são piracicabanos em busca de inserção no mercado de trabalho a partir do conhecimento em jardinagem. João Paulo é orientado pela professora Ana Maria Liner Pereira Lima, do LPV e coordenadora do GEP.
Desde 2005, Ana Maria Liner vem disponibilizando o curso “Inclusão social através das técnicas de jardinagem”, contando com a ajuda de alunos e técnicos do departamento. “Muitos dos alunos, mesmo após formados, continuaram como professores do curso, na tarefa de promover o ensino de técnicas básicas de jardinagem”, comenta a professora.
O objetivo é proporcionar qualificação que encaminhe essas pessoas, muitos desempregados, chefes de família, a um desenvolvimento profissional nas áreas de manutenção e implantação de jardins. “Com isso, criamos oportunidades de inclusão no mercado de trabalho e/ou melhoria de nível de renda, além de atender a várias solicitações realizadas pela comunidade piracicabana, no que se refere aos trabalhos que a universidade oferece à população, cumprindo a missão social que uma universidade pública deve contemplar”, reforça Ana Maria Liner.
Ao longo do ano, 80 pessoas são assistidas pelo projeto. A seleção das pessoas é da Secretaria Municipal do Trabalho e Renda (SEMTRE) e do Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT), da Prefeitura Municipal de Piracicaba.
Durante sete semanas, às quartas-feiras, são oferecidas aulas teóricas e práticas, versando sobre identificação e primeiro contato com as plantas ornamentais; desenvolvimento das plantas ornamentais em ambientes diferenciados; técnicas de propagação de plantas ornamentais; conceitos básicos sobre os solos dos jardins; adubação orgânica e inorgânica; produção de material compostado; controle de pragas e doenças nos jardins; implantação e manutenção de gramados; podas e condução das plantas; implantação e manutenção de jardins; montagem de vasos e leitura e execução de projetos paisagísticos.
A aluna Ângela Brolio, 30 anos, que hoje é atendente em uma rede de fast food, está participando do curso porque quer voltar a atuar com jardinagem. “Eu já trabalhei nessa área, mas sem conhecimento específico. Eu gosto desse contato com jardins e estou encontrando aqui uma possibilidade de atuar junto a profissionais, como arquitetos e paisagistas. As aulas superaram minhas expectativas, já que recebemos muita informação e podemos aplicá-las na prática. É interessante, também, porque aprendemos a organizar o espaço e termos cuidados com o ambiente”, diz.
Uma das colaboradoras do curso é a arquiteta Cibele Zanforlim, que procurou a professora Ana Maria Liner porque queria trabalhar com paisagismo e, atualmente, também ministra aulas de implantação e manutenção de jardins, além de leitura e execução de projetos paisagísticos. “Eu cursei algumas disciplinas na área, inclusive aqui na Esalq, e hoje acompanho o curso. Além disso, já constatamos que muita gente que passou por aqui tem melhorado sua renda com serviços de paisagismo e jardinagem. Eu, inclusive, tenho um ex-aluno trabalhando comigo, na execução dos meus projetos”, destaca.
A próxima turma do curso de jardinagem tem início em 6 de outubro. Mais informações na SEMTRE, Rua Voluntários de Piracicaba, 728 ou pelo telefone (19) 3437-2222.
DISK-JARDIM – A professora Ana Maria Liner reforça que seria ideal que, após o curso, o poder público captasse o pessoal a partir de um serviço específico. “Seria interessante a criação de uma espécie de ‘disk-jardim’, um serviço rápido que indicasse esses profissionais para executarem obras em propriedades particulares ou empresas. Tem muita gente que chega aqui sem conhecimento, mas demonstra habilidade na execução das tarefas”, conclui.
Segundo levantamento feito por Ernani Pereira Junior, estudante de Engenharia Agronômica que também acompanha o curso de jardinagem, a porcentagem de alunos que conseguiu emprego, após os cursos, foi de 19,51%. “Esse número é significativo, principalmente se for considerada a baixa escolaridade verificada e as exigências do mercado de trabalho em relação a esse quesito. Apesar de somente 4,88% atuarem como jardineiros, alguns entrevistados, empregados em outras áreas, afirmaram realizar esporadicamente trabalhos com jardinagem para complementação da renda familiar”, comenta.
Fonte: Jornal A Tribuna