Sem trégua para pragas


 
 

Por Tereza Rodrigues


Das 7 milhões de toneladas de banana que são produzidas anualmente no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que 42% não chegam a ser consumidas. A maior parte das perdas ocorre no caminho entre a colheita e as gôndolas de feiras e supermercados.

 

De acordo com o professor Luiz Carlos de Oliveira Lima, do Departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras (Ufla), no sul de Minas Gerais, o principal causador do problema é o modo como são feitos o transporte e o manuseio da fruta atualmente. Doenças e pragas em bananais, tendo como exemplo a mais grave, a sigatoka-negra, também representam um volume considerável de desperdício do alimento.

 

A sigatoka-negra está, conforme informações do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), sob controle no Brasil. Em Minas, não se manifesta. O fungo causador é um ascomiceto conhecido como Mycosphaerella fijiensis morelet (fase sexuada) e Paracercospora fijiensis deighton (fase anamórfica).

 

Apesar de não apresentar risco para a saúde humana, se seu controle não for realizado, rapidamente chega-se a perder 100% da produção, tamanha a agressividade do fungo. Os sintomas causados pela sigatoka-negra aparecem na face inferior da folha da bananeira como estrias de cor marrom, evoluindo para estrias negras. Os efeitos da doença são sentidos na redução da capacidade fotossintética da planta e, consequentemente, na sua produção.

 

Mesmo sob controle, é bom evitar problemas como a disseminação desse e de outros fungos nos alimentos. Foi com esse objetivo que um grupo independente de pesquisadores estudou durante oito anos a criação de uma caixa-padrão para transportar hortifrutis. Para o professor da Ufla, o produto representa uma solução em potencial.

 

“Além de evitar que as frutas se machuquem com embalagens impróprias para o transporte, as novas caixas, feitas com plástico propício para o contato com alimento, permitem a higienização a cada uso”, diz.

 

Segundo Lima, a transmissão cruzada de pragas, que ocorre entre diferentes lavouras quando as mesmas caixas de madeira são compartilhadas por diferentes produtores, pode ser praticamente extinta se a maior parte deles usar a caixa padronizada e seguir normas sanitárias.

 

“Esse material permite que a desinfestação seja feita de forma mais prática e barata, com quaternário de amônia, que garante a eliminação de fungos causadores de uma série de doenças, como a sigatoka-negra, o cancro cítrico e o greener, que podem atacar os alimentos”, explica.

 

De acordo com o chefe do setor de Agroqualidade das Centrais de Abastecimento (Ceasa) em Minas Gerais, o engenheiro agrônomo Joaquim Oscar Alvarenga, entre as principais vantagens da padronização das embalagens para o transporte de frutas, hortaliças e legumes está a otimização do controle de pragas.

 

“A caixa K, que é mais comum hoje, retorna até 10 vezes para a lavoura. É um problema sério, porque a madeira carrega mais facilmente o esporo (semente) de fungos. Sem contar que pregos e quinas salientes costumam danificar os frutos, e a área que apodrece atrai mais doenças. Isso tudo vai ser melhorado a partir da padronização”, acredita.

 

A equipe da qual Lima faz parte seguiu as normas atuais para propor a caixa-padrão. Mas não há regras claras sobre como devem ser as embalagens para transporte de hortifrutis no Brasil. A instrução normativa vigente é de 2002 e foi elaborada pelo Ministério da Agricultura com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).

 

O documento prevê que toda caixa retornável deve passar por higienização, no entanto, o que se vê na maioria dos centros de distribuição do país são ainda as velhas caixas de madeira, consideradas inadequadas tanto sob o aspecto da higiene quanto do ponto de vista logístico.

 

O presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Moacyr Saraiva Fernandes, acompanhou a evolução das pesquisas até que se chegasse à caixa-padrão e diz que haverá ganho para toda a cadeia.

 

“As caixas de madeira serão gradualmente substituídas e isso vai ser bom para todo mundo. Acredito que a produtividade vai aumentar, com as facilidades de transporte e controle de pragas. Os consumidores se sentirão mais estimulados a comprar, tendo oferta de frutas mais baratas e bonitas nas gôndolas”, afirma.

 

Início em Minas

A Ceasa Minas de Contagem, na Grande Belo Horizonte, considerada a segunda maior do Brasil, sai na frente ao promover a modernização no setor implantando o Banco de Caixas Uai, a partir de 3 de janeiro de 2011. O sistema atende às exigências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e vai permitir que os alimentos lá comercializados cheguem ao consumidor com mais qualidade, graças à padronização das embalagens plásticas (saiba mais no www.ceasaminas.com.br).

Fonte: Jornal Correio Braziliense