SP: estudo aponta chuvas e as possíveis perdas na agropecuária

Levantamento da equipe da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo mostra que as atividades mais prejudicadas pelas chuvas são as de produção de hortaliças folhosas e de leite.

O excesso de chuvas que vem ocorrendo desde dezembro em todo o Estado de São Paulo trouxe consigo episódios de erosão que destruíram caminhos internos nas propriedades, arrancaram pontes, tornaram intransitáveis muitas estradas vicinais e até mesmo asfaltadas. O Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (IEA) fez uma análise para tentar mensurar o “tamanho” desse estrago.

As atividades mais prejudicadas são as de produção de hortaliças folhosas e de leite, altamente perecíveis. Além disso, a grande quantidade de chuva favorece o aparecimento de doenças fúngicas e bacterianas, prejudicando o processo de colheita e a qualidade de muitos produtos.

Os pesquisadores salientam que se trata de uma análise preliminar das perdas prováveis na produção paulista, com ênfase em avaliação qualitativa, uma vez que as chuvas devem continuar ocorrendo. “Só então, passado esse período, é que as perdas poderão ser calculadas com maior precisão, através de levantamentos detalhados, quando se encerrarem os ciclos produtivos em curso.”

CAFÉ – Entre agosto e dezembro de 2009, as floradas apresentaram uma formação bastante desuniforme, provavelmente em função das alterações climáticas observadas no período. O maior risco que pode ocorrer não se refere propriamente à quantidade, mas ao comprometimento da qualidade dos grãos, seja pela falta de uniformidade da maturação ou dificuldades na colheita e secagem.

Nos principais cinturões cafeeiros, especialmente nos de arábica mais meridionalmente posicionados, verificaram-se substanciais precipitações durante a época da colheita, com prejuízos diretos no quesito qualidade da bebida. Isso se observou principalmente para os cafeicultores com compromissos financeiros em processo de liquidação (CPRs – física e financeira – e títulos financeiros – contratos futuros e opções), uma vez que o custo para padronizar os lotes elevou-se, segundo a qualidade exigida pelos contratos.

Houve situações em que o cafeicultor desistiu do exercício de entrega do produto (caso das opções públicas) em função do elevado encargo financeiro, para preparar seu café nas unidades de rebenefício, em que se exige elevado volume de produto para a formação de lotes homogêneos.

A condição anterior de excessiva umidade manteve-se. Resultado, uma multiplicidade de fases reprodutivas no mesmo ramo de produção que deve trazer os seguintes efeitos: a colheita tenderá a ser mais custosa, em virtude do maior número de repasses necessários para recolher grãos em estágio de maturação apropriado; haverá problemas novamente este ano com a qualidade da bebida, pois há tendência para que ocorra imensa mistura de grãos; pode acarretar em perdas no volume previsto para a colheita, excetuam-se os cafeicultores que descascam os frutos.

Ainda não se pode atribuir grande prejuízo ou comprometimento da quantidade produzida de café ao excesso de chuvas no Estado. O Escritório de Desenvolvimento Rural da Secretaria em Ribeirão Preto, contudo, estima perdas de até 10%, sobretudo pelo comprometimento da infraestrutura para o escoamento da colheita.

GRÃOS – Entre as culturas de grãos, as que mais vêm sofrendo danos são as de amendoim e feijão, leguminosas de ciclo curto e muito sensíveis às adversidades climáticas. Todas as fases dessas culturas têm sido prejudicadas, especialmente as da maturação e colheita. No caso do amendoim, se as chuvas persistirem até a colheita da maior parte das lavouras em curso, os danos não serão apenas quantitativos, mas qualitativos, com a forte ocorrência da aflatoxina, substância tóxica que deprecia acentuadamente o produto.

Dada a diversidade do desenvolvimento das culturas no Estado, torna-se difícil mensurar o estrago na cultura de feijão, embora haja informações de perdas da ordem de 30% a 50% na produção das regiões de Avaré e Itapeva, as maiores produtoras.

Nos casos de milho e soja, as informações preliminares sobre perdas variam de 10% a 20%, números passíveis de retificação dada a possibilidade de alguma recuperação do estado vegetativo ou de maturação, principalmente da soja.

A cultura do milho de verão encontra-se em vários estágios do ciclo produtivo no Estado, dada a amplitude do período de semeadura da presente safra, favorecida pelo início precoce do período chuvoso. Além das precipitações pluviais excessivas, a ocorrência de dias nublados com baixo nível de insolação prejudica a fotossíntese, afetando, assim, o potencial produtivo das plantas.

No caso do arroz, grande parte das lavouras paulistas com o produto ficou inundada, o que está dificultando a colheita e prejudicando a qualidade dos grãos.

Houve também aumentos dos custos de produção, decorrentes da dificuldade de locomoção de máquinas, veículos e de trabalhadores para a execução de operações agrícolas e comerciais. Devido ao fato da combinação de umidade excessiva e temperaturas elevadas favorecer a ocorrência de pragas e o desenvolvimento de doenças e ervas daninhas nas culturas, há ainda uma maior utilização de inseticidas, fungicidas ou herbicidas. Além disso, os grãos colhidos com alto teor de umidade terão de passar, necessariamente, por secadores, o que também eleva os custos.

FRUTAS – As chuvas intensas coincidem com a época de safra da maioria das frutas de clima temperado produzidas em São Paulo, prejudicando principalmente a qualidade.

A uva está apresentando problemas de “coroinha” (botrytis cinerea), fungo pós-colheita que causa perdas durante a comercialização e afeta o preço no atacado. Não se pode, ainda, quantificar as perdas no campo causadas pelas chuvas na viticultura paulista, mas é possível afirmar que a redução da qualidade da fruta é grande, afetando também o teor de sólidos solúveis.

Quanto ao figo, que apresenta o pico da safra nesses meses bastante chuvosos, sua qualidade está sendo prejudicada principalmente pela redução do tempo de prateleira da fruta, altamente perecível.

Não há dados que permitam quantificar quais serão as perdas nas safras de caqui e goiaba afetados por chuva de granizo no final do ano, mas se pode afirmar que a produção será inferior à prevista em condições normais.

Também a produção de manga foi bastante reduzida devido às chuvas intensas e ventanias do final do ano passado, que já prejudicaram o início do ciclo produtivo, ou seja, a florada e a formação de frutos.

No caso dos citros, embora não haja maiores perdas de produção, o custo de manutenção dos pomares deve aumentar devido à maior incidência de doenças e pragas favorecidas pelo excesso de umidade, além de dificuldades na colheita e transporte.

“De um modo geral, como as frutas muitas vezes não estão alcançando os padrões exigidos pelo controle de qualidade do varejo, boa parte delas tem sido descartada já no campo, ocasionando perdas aos produtores”, salientam os pesquisadores.

CANA – A atividade encontra-se em seu período de entressafra no Estado, que habitualmente inicia-se na segunda quinzena de dezembro do ano anterior e se estende até o fim de março do ano seguinte.

As chuvas que ocorrem com grande intensidade desde o segundo semestre de 2009 causou um atraso considerável na colheita, o que ocasionou um efeito danoso na oferta regular de matéria-prima para as usinas. Dessa forma, algumas unidades entraram no período normal de entressafra colhendo cana nos intervalos de trégua da chuva, acarretando uma possível redução da manutenção das máquinas e equipamentos e dos tratos agrícolas.

Em plena safra, houve precipitações pluviométricas acima da média para o período, aumentando consequentemente o número de dias parados na produção. Essa alteração climática também levou a uma diminuição na qualidade em termos de concentração de açúcares totais recuperáveis (ATR), o que incide diretamente na quantidade de transformação de cana nos produtos açúcar e álcool.

Outro efeito provável por conta das excessivas chuvas é a impossibilidade de colher a cana, resultando numa quantidade considerável da safra 2009/10 em pé ou bisada (cana que sobrou de uma safra para outra sem cortar), o que, em parte, compromete a oferta.

Dados preliminares obtidos na Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria (Cati) dão conta de que poderá haver uma quantidade de cana bisada em torno de 10% da produção da safra 2009/10, o que significa cerca de 40 milhões de toneladas. Algumas regiões foram mais afetadas do que outras, portanto, estão com maiores dificuldades.

Vale ressaltar que as chuvas excessivas não são a principal causa dos aumentos recentes do preço do açúcar e do álcool. Outros fatores contribuíram com maior peso, a exemplo das importações de açúcar pela Índia e o aumento da demanda por etanol, ou seja, é mais uma questão de mercado do que de chuvas.

Em resumo, pode-se afirmar que as chuvas ocasionaram problemas pontuais na colheita da cana, o que de fato já ocorreu e, de certa forma, foi resolvido com a competência na gestão das usinas em reorganizar o cronograma de colheita e, assim, mitigar ao máximo os efeitos das precipitações pluviais.

O estudo foi realizado pelos pesquisadores Sérgio Torquato, Alfredo Tsunechiro, Sônia Martins, Celso Vegro, Priscilla Rocha Silva, Maria Célia Martins de Souza, Katia Nachiluk e Maximiliano Miura.

Para nformações sobre pecuária, mandioca, olerícolas, veja no texto completo: www.iea.sp.gov.br

Fonte: Grupo Cultivar