Telhados de Nova York se transformam em fazendas

Por Eloy Donini

Andrew Cote sobe com presteza a escada de incêndio de um prédio de East Village: no telhado estão 250 colmeias das quais se ocupa este professor de literatura japonesa, que é também agricultor urbano – uma atividade em plena expansão em Nova York.

O presidente da Associação de Apicultores de Nova York tem com o que se alegrar: após 11 anos de proibição (a infração era passível de multa de US$ 2.000), a cidade acaba de autorizar a criação de abelhas e os criadores começam a sair da clandestinidade.

Moradores criam abelhas e cultivam hortaliças no topo de prédios

“No momento em que a prefeitura quer plantar um milhão de árvores, nossas abelhas se encarregam da indispensável polinização; elas limpam o ar, além de produzirem um excelente mel; são 45 quilos por colmeia anualmente”, diz ele.

Cote afirma receber mais e mais encomendas de instalações de colmeias nos telhados e se prepara para ministrar um curso, a uma centena de aspirantes a apicultores. Pode-se vê-lo vender mel no mercado de Tompkins Square, junto com dezenas de outros criadores que frequentam as feiras de domingo, em Union Square ou Chelsea.

Do outro lado de Manhattan, no Upper East Side, Eli Zabar, dono da Vinegar Factory, uma mercearia famosa, inspeciona sua “plantação” de tomates, instalada no telhado do prédio comprado em 1991.

“Tenho verduras, figos, ervas aromáticas, beterrabas, framboesas, algumas flores”, explica o mais jovem dos irmãos Zabar, família nova-iorquina de negociantes de origem ucraniana.

“As estufas são aquecidas pelos fornos da padaria e da doceria; desta forma, reciclo um calor que, de outra forma, se perderia na atmosfera“, explica Eli Zabar. “As estufas permitem-me apresentar na mercearia e no restaurante produtos orgânicos, colhidos maduros e não transportados em caminhões refrigerados. Seu gosto é mais apurado e os preços, competitivos“, assegura.

“E segundo a hora do dia, podemos sentir em minha plantação o perfume do biscoito, do croissant ou do pão”, comenta sorrindo. De tudo que é vendido na mercearia, 50% provém dos cultivos em telhado.

Fazendas urbanas

De Manhattan ao Brooklyn, as fazendas urbanas se multiplicam. Há também hortas comunitárias (cerca de 600 em Nova York) com abobrinhas e manjericão, ou pátios transformados em pomares por alguns restaurantes, um fenômeno que se propaga.

A administração da cidade não está alheia a isso. Um programa lançado em 2007 pretende fazer de Nova York a campeã americana do desenvolvimento sustentável, prevendo isenções fiscais para os promotores dos “telhados verdes“.

O departamento de parques testa atualmente em Randall’s Island 16 diferentes sistemas que poderiam ser levados aos telhados de escolas, hospitais ou outros prédios públicos.

“Trata-se de um revestimento diverso formado por húmus e plantas gordurosas que protegem os telhados, isolam os prédios e o calor, absorvem a água da chuva e atraem pássaros, borboletas, abelhas. Podemos ver mesmo pela cidade os falcões vermelhos”, explica John Robilotti, arquiteto paisagista e chefe do projeto departamental.

Exemplos no Brasil

O Sr. Eloy Donini do RS, também cultiva hortaliças em seu apartamento, utilizando-se de floreiras.

“Disponho de um terraço em forma de “U” na cobertura do 10º andar, o qual recebe luz natural direta e indiretamente. Em cada uma das extremidades do “U”, fixei firmemente através de esticadores, arame galvanizado que suporta uma série de floreiras; as floreiras são do tipo antidengue” – comenta Eloy.

As 32 floreiras são fixadas no arame através das bordas. Uma borda é encaixada no arame, e a outra com um olhal em cada extremidade, é ancorada com fios presos na cerca metálica. São todas intercambiáveis entre si. A largura é de 11 cm, por aproximadamente 9 cm de terra.

A terra usada é por processo de compostagem, facilmente encontrada em floriculturas e supermercados. ” Tenho um sério inconveniente, pois além do frio, venta muito no 10 andar. Em dias quentes faço de 2 a 3 regas diárias, em virtude da pouca quantidade de terra” – diz Eloy; que persistente, não desiste!

“Plantei 18 pés de cebolas de cabeça em 3 floreiras, e colhi 18 cebolas de ótimo tamanho. Não vou falar das alfaces e moranguinho, pois as fotos já dizem tudo” – comemora ele, orgulhoso de sua horta.

Fonte: Portal G1