Tempos de expansão no mercado de hortaliças

Por Alexandre Inacio

Dentro da estufa que ocupa uma área de um hectare no município de Mogi-Guaçu (SP) a temperatura é agradável, regulada naturalmente pelas centenas de vasos espalhados pelo local, onde estão cultivados algumas variedades de tomate. Até outubro, essas estufas ocuparão uma área seis vezes maior, reflexo de uma demanda crescente no mercado por produtos diferenciados, que se expande junto com todo o segmento brasileiro de hortaliças.

“Isso faz parte de um projeto com produtos especiais para uma linha gourmet. Produzimos esses tomates em ambiente controlado para atender um mercado que tem mudado bastante nos últimos anos”, afirma Nelson Mallmann, sócio-proprietário do grupo Mallmann que nasceu há 27 anos no Rio Grande do Sul, migrou para o interior de São Paulo há 12 e é hoje um dos três maiores produtores de tomates do país.

A busca por produtos diferenciados entre os agricultores é um dos sinais de que o mercado passa por um processo de mudança. A segunda característica do movimento é o nível de concentração dos produtores, especialmente nas principais culturas – batata, tomate e cebola. Em pouco mais de uma década em São Paulo, o próprio grupo Mallmann identificou uma redução no número de produtores de tomate na região. “Há doze anos eram quase 100 e hoje somos pouco mais de 10”, diz. Ainda assim, o agronegócio das hortaliças envolve mais de 5 milhões de pessoas no país.

A mudança que o mercado de hortaliças vem passando no Brasil nos últimos anos se reflete nos próprios resultados da Mallmann. A empresa fechou 2008 com um faturamento de R$ 36 milhões. Teve um crescimento de 25% no ano passado e encerrou o ano com vendas R$ 45 milhões, com a projeção de elevar as vendas em mais 22% em 2010, para quando é esperada uma receita de R$ 55 milhões, dos quais 80% serão proveniente do negócio de tomates e os demais 20%.

A tradicional informalidade na comercialização de hortaliças no Brasil está perdendo cada vez mais espaço para um sistema mais profissional. As grandes redes varejistas estão buscando junto a um fornecedor mais organizado parceria para garantir o abastecimento de hortaliças para um consumidor que está cada vez mais exigente.

Há dez anos, as perdas com hortaliças no varejo chegavam a 35% por conta da ausência de classificação. Hoje, com investimentos feitos por produtores em estruturas próprias de seleção e empacotamento, as perdas que chegam aos supermercados oscilam entre 2% e 5%. E foi exatamente o convite de uma grande rede varejista que fez o Mallmann deixar o Rio Grande do Sul e migrar para o Sudeste, onde possui 21 lavouras, distribuídas entre os Estados de Minas Gerais e São Paulo, totalizando 450 hectares.

Na ausência de dados precisos sobre o segmento, estimativas das empresas que fornecem sementes de hortaliças para os produtores estimam que a área cultivada no país esteja entre 700 mil e 750 mil hectares. Essa área engloba as principais culturas (tomate, cebola, cenoura), todas as folhosas e produtos como pepino, abóbora, melão e melancia – todos da mesma família, a cucurbitaceae.

Do ponto de vista financeiro, o segmento movimenta anualmente um valor próximo a R$ 20 bilhões e a expectativa é de que ele cresça ainda mais. Isso porque, o consumo nacional está muito abaixo do recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Enquanto a entidade recomenda 140 quilos per capita ao ano o consumo médio no Brasil é de aproximadamente 45 quilos per capita anuais.

O baixo nível de consumo, no entanto, é visto como uma oportunidade. Isso porque a tendência das pessoas de buscarem uma alimentação mais saudável e o aumento no poder de compra do brasileiro criam um ambiente em que a demanda por hortaliças tende a crescer nos próximos anos.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostram que quanto maior a renda, mais elevado é o volume de hortaliças consumido. A pesquisa de orçamento familiar mostra que famílias com renda mensal de até R$ 400 consomem 15,7 quilos desse tipo de alimento per capita por ano. Na faixa de renda entre R$ 600 e R$ 1.000 o consumo anual é de 25,7 quilos por pessoa, enquanto nas famílias com renda acima de R$ 3 mil, o consumo per capita sobe para 42,3 quilos anuais.

Para atender cada um consumidor cada vez mais exigente, a Mallmann está investindo outros R$ 2 milhões. Além de buscar produtos com maior valor agregado, a empresa pretende mais do que dobrar a área de empacotamento e passar dos atuais 2 mil para 4,7 mil metros quadrados de área. O aporte faz parte do projeto do grupo de obter uma certificação internacional, que envolve normas de segurança no trabalho, classificação e até a rastreabilidade dos produtos.

“Hoje atendemos as exigências que o varejo nos faz como cliente, mas queremos ir além. Vamos buscar uma certificação que ninguém no nosso negócio tem”, resume Mallmann.

Fonte: Jornal Valor Econômico