Por Fernanda Fava
O tratamento de esgoto para a reutilização em processos de irrigação agrícola pode se tornar uma fonte de recursos e, ao mesmo tempo, beneficiar a agricultura, o meio ambiente e a saúde humana. Essa é a aposta dos autores do relatório Água Doente, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lançado nesta segunda-feira (22) no Rio e em Nairóbi, Quênia, durante a celebração do Dia Mundial da Água.
“Esse estudo é uma compilação de dados de diversos órgãos das Nações Unidas. A novidade é a maneira como cruzamos as informações para formular um projeto de gestão de resíduos. É uma nova forma de enxergar o assunto”, disse o organizador do relatório, Christian Nellemann, do Pnuma. Segundo os autores, se fossem investidos em projetos de reúso de água apenas 25% dos recursos investidos no mundo em programas de tratamento de água, o abastecimento das cidades poderia aumentar dez vezes.
A ideia é que os 2 milhões de toneladas de resíduos sólidos produzidos todos os dias passem por tratamento para serem reutilizados na fertilização e irrigação de culturas agrícolas. Esses resíduos, despejados diretamente em rios, lagos e mares, formam uma massa de 2 bilhões de toneladas de água poluída.
Um documento recente da ONU analisa que cada dólar investido em programas desse tipo pode ter um retorno financeiro de até US$ 34, dependendo da região e da tecnologia empregada. “A poluição das fontes de água requer que as cidades gastem hoje muito mais dinheiro em etapas adicionais no tratamento para garantir a qualidade”, reforça Anna Tibajuka, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para Habitação, uma das organizações que forneceu material para a compilação.
A agricultura representa atualmente de 70% a 90% do consumo total de água do planeta, principalmente para irrigação de lavouras. E quase metade da matéria orgânica encontrada nas águas residuais vem da prática agrícola. Esse material, rico em potássio, nitrogênio e fosfato, poderia substituir o uso de novos fertilizantes e pesticidas – um ganho econômico para produtores rurais e um ganho ambiental para o ecossistema.
SAÚDE
O estudo ressalta as vantagens para o combate às doenças relacionadas à poluição da água. É o caso da diarreia, que mata 2,2 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Pelo menos 1,8 milhão de crianças menores de 5 anos morre anualmente por doenças relacionadas à falta de qualidade da água, basicamente em países subdesenvolvidos, onde 90% do esgoto é despejado na água sem nenhum tratamento prévio. O problema também foi abordado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. “Essas mortes são uma afronta para a humanidade e minam os esforços de muitos países”, afirmou.
Fonte: Agência Estado / Cruzeiro Online