Rodrigues vê País sem estratégia de líder

Para o ex-ministro da Agricultura, agronegócio tem condições de abastecer o mercado mundial de alimentos e biocombustíveis

A redução das emissões de carbono foi um dos poucos temas capazes de unir o mundo após a crise, e o agronegócio brasileiro tem a chance de liderar um processo de “mudança geopolítica global” em direção a uma economia verde.

A avaliação é do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que participou do Fórum Estadão Regiões / Sudeste. “É a única ponte, ainda um pouco nebulosa, mas nós temos uma solução e uma resposta para isso. Só nos falta estratégia.”

Rodrigues defendeu a expansão do agronegócio e divertiu a plateia com suas explicações sobre a importância da agricultura. Um exemplo: Rodrigues lembrou que o frango “é um ovo que a gente enche de milho e soja, que voa e tem bico”, para depois acrescentar que “para ser bom em frango tem que ser bom em milho, soja e ovo, e nós somos bons em tudo”.

O ex-ministro afirmou que o Brasil “tem uma condição notável no agronegócio. Temos o fundamental: agroenergia e a melhor tecnologia agrícola do mundo. Temos uma chance fantástica de evoluir ainda mais”. E, para ele, não há vida sem agricultura. “Existe lã sem carneiro? Gravata de seda sem aquele bichinho que se alimenta de amora? Sapato sem couro? Papel não nasce na resma, quem planta? É tudo agricultor, agricultura”, disse.

De acordo com o ex-ministro, o agronegócio representa 27% do PIB do País, 37% dos empregos e 42,5% das exportações brasileiras. Há dez anos, segundo ele, o Sudeste era responsável por 40% da produção total, e hoje, por 34%. No mesmo período, a do Centro-Oeste saltou de 5% para 20%. “A produção no Sudeste não caiu. Cresceu muito, mas cresceu mais em outras regiões. O Brasil se expandiu e o agronegócio também, graças à tecnologia e a produtores formidáveis. E temos um potencial de aumentar ainda mais as exportações.”

Citando projeções da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) , o ex-ministro disse que a população mundial deve chegar a 9,1 bilhões em 2050, ante 6,1 bilhões em 2000. “Serão 3 bilhões a mais que terão de ser alimentados.” Segundo ele, com a crescente urbanização mundial, “haverá menos gente para plantar e muito mais gente para consumir comida e energia”.

O que falta para que o País assuma esse papel de liderança é, acredita, “estratégia, e não política agrícola”. Rodrigues disse, contudo, que o Ministério da Agricultura não dispõe dos instrumentos para implementar a política.

” É o Ministério do Planejamento que faz o Orçamento; quem libera os recursos é a Fazenda; o Banco Central estabelece os juros; a infraestrutura cabe ao Ministério dos Transportes; negociação internacional é com o Itamaraty; a área plantada com o Meio Ambiente; álcool é Minas e Energia; tecnologia é Ciência e Tecnologia”. E finalizou: “A política está pronta, mas implementá-la depende de uma estratégia nacional, que não temos”.

Fonte: O Estado de S.Paulo