Bromélias não são focos perigosos para desenvolver vetores da dengue

Para os autores do estudo, as espécies de Ae. aegypti encontradas ocasionalmente em bromélias podem estar correlacionadas a altos níveis de infestação na área.

Para o estudo, feito por duas unidades da Fundação, foram capturados, durante quase um ano, aproximadamente 3 mil espécimes de mosquitos encontrados em 120 bromélias pertencentes a dez diferentes espécies da planta no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), ambos unidades da Fiocruz, e do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro concluíram que as plantas popularmente conhecidas como bromélias não são, como se imaginava, microhabitats importantes para o desenvolvimento de mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, dois dos principais vetores da dengue no Brasil. Para o estudo, foram capturados, durante quase um ano, aproximadamente 3 mil espécimes de mosquitos encontrados em 120 bromélias pertencentes a dez diferentes espécies da planta no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O espaço fica a menos de 200 metros de moradias do bairro da Gávea, área endêmica da doença no Estado do Rio de Janeiro

“Bromélias são plantas ornamentais populares e comumente usadas em jardins públicos e privados. A abundância desse tipo de plantas onde a dengue é endêmica tem sido construída para representar uma ameaça para o controle da dengue”, comentam os pesquisadores em artigo publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz. “Os resultados da coleta demonstraram que as espécies nativas de mosquitos Culex e Wyeomuia são os culicideos mais abundantes e o Ae. aegypti e Ae. albopictus são raramente encontrados nessas plantas, que não devem assim ser consideradas um problema para o controle da dengue”.

As bromélias verificadas foram expostas a chuvas e não foram tratadas com nenhum tipo de inseticida durante a pesquisa e nem nos dez meses anteriores a ela. Do total de mosquitos capturados, 77,2% eram do gênero Culex e 21,4% do Wyeomuia. Somente duas larvas de Ae. aegypti (0,07% do total de mosquitos) e cinco de Ae. albopictus foram coletadas (0,18%), o que sugere não serem essas duas espécies bons competidores em relação aos outros mosquitos habitantes naturais de bromélias ou que as fêmeas dessas espécies preferem não depositar seus ovos nesses locais. Os pesquisadores ainda alertam que, por contraste, formas imaturas de Ae. aegypti foram encontradas recipientes artificiais 5% das casas da vizinhança.

“Nossa hipótese é que as espécies de Ae. aegypti encontradas ocasionalmente em bromélias podem estar correlacionadas a altos níveis de infestação na área, sendo, assim, resultado de uma competição acirrada por habitats de oviposição”, afirmam os pesquisadores. “De qualquer forma, é necessário investigar a fauna de mosquitos encontrada em bromélias mantidas em ambientes domésticos (casas e quintais) devido ao fato de essas plantas serem populares em áreas consideradas endêmicas para dengue”.

Fonte: Reportagem de Renata Moehlecke, Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate