Gargalos da cadeia produtiva

Moderada por Paulo César Tavares de Melo, coordenador científico do 5º Seminário Nacional de Tomate de Mesa e pesquisador do Departamento de Produção Vegetal da Esalq/USP, foi realizada, ao final do evento, uma mesa-redonda para debater alguns pontos estratégicos para enfrentar e superar os principais gargalos da cadeia produtiva do tomate de mesa.

O primeiro tema proposto foi a “A escassez de mão de obra versus a mecanização”, comentado por João Roberto do Amaral Júnior, consultor da empresa de tomate Irmãos Andrade. Ele apontou que a obtenção de mão de obra qualificada é um grande desafio para a cadeia produtiva de tomate. “Há uma desvalorização do meio rural, devido aos baixos salários e difíceis condições do trabalho no campo. O setor disputa mão de obra com o Comércio, a Construção Civil e a área de Serviços. Como consequência, os empregadores do campo acabam tendo que recorrer a profissionais de baixa escolaridade e investir em treinamento especializado para eles”, explicou. Além disso, segundo o consultor, muitas vezes estes trabalhadores não permanecem por muito tempo na função, o que acarreta mais custos ao empregador. Por isso, é fundamental que haja uma boa gestão da mão de obra por meio de treinamentos para qualificação técnica; formação de lideres de equipe; incentivos e melhores condições de trabalho; sistema diferenciado de contrato, considerando que é uma cultura sazonal, entre outros.

Carlos Augusto Schmidt, gerente executivo na Aphortesp e presidente do Ibrahort, falou sobre a “Organização do setor produtivo em associações”. Em sua apresentação, ele ressaltou que “o associativismo é importante para agregar valor aos produtos e serviços, uma vez que, por meio de ações coletivas, articuladas por uma entidade/associação representante do segmento em questão, resulta em benefícios comuns para todos os associados”. Um exemplo bem sucedido desta iniciativa, segundo Schmidt, é a Associação dos Produtores e Distribuidores de Hortifruti do Estado de São Paulo (Aphortesp). A entidade foi criada em 2004 com o objetivo de representar o segmento de hortifruti e difundir conhecimentos científicos e tecnológicos, contribuir para a gestão empresarial e, também, desenvolver projetos que resultem em melhores condições de produção e comercialização aos produtores de hortifrutis, como as missões técnicas de hortaliças, por exemplo. Já o Instituto Brasileiro de Horticultura (Ibrahort) foi criado em 2010, junto à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Hortaliças, vinculada ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para suporte estratégico das ações no setor, definidas pelo Mapa.

João Paulo Bernardes Deleo, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, falou sobre a “Gestão sustentável da cadeia de produção de tomate de mesa”. Ele observou que a gestão sustentável do negócio em tomaticultura passa, necessariamente, pela eficiência Produtiva, Comercial e de Gestão Administrativa. Deleo disse que o grande desafio para o produtor rural é ter uma visão empresarial do negócio, além do aspecto produtivo, com perspectivas a longo prazo. “Cabe ao produtor, desvendar os custos de produção de cada etapa do seu processo, tais como: custos administrativos, com mão de obra, equipamentos, insumos, entre outros, considerando a depreciação de maquinário agrícola, custos de oportunidade, etc. Por isso, é imprescindível ter uma reserva financeira para suportar um ano de preço ruim, por exemplo, para enfrentar os tempos de crise. E esta reserva deve ser retirada de parte do lucro do ano em que as vendas da produção foram muito boas, já que é imprudência reinvestir todo o lucro obtido, sem fazer esta reserva”, alertou Deleo.  Com relação à polêmica sobre a inflação do preço do tomate, o pesquisador do Cepea explicou que o tomate tem uma demanda inelástica, porque ela varia muito pouco, sendo “o que determina a sensibilidade do preço do tomate é o aumento ou a diminuição da oferta”, esclareceu.