Por Angela Joenck
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia desenvolveu um plástico biodegradável que pode ser empregado em finas membranas utilizadas em processos para purificação de água, tratamento de efluentes e sessões de hemodiálise. O acetato de celulose, mais conhecido como “plástico vegetal”, é produzido a partir da camada externa da semente da manga, composta principalmente de fibras, que recobre o embrião do caroço da fruta.
Após constatarem que cerca de 480 mil toneladas de caroços de manga são descartados pelas indústrias de sucos a cada ano, os pesquisadores decidiram investigar a viabilidade do uso deste resíduo, que pode corresponder de 30% a 45% do peso da fruta, dependendo da sua variedade. “Por ser algo descartado pela agroindustria, este material representa uma inovação do ponto de vista da matéria¿prima empregada” diz a pesquisadora do Laboratório de Energias Renováveis e Meio Ambiente da UFU, Rosana Maria Nascimento de Assunção.
O plástico vegetal também revelou seu potencial na confecção de embalagens biodegradáveis, a exemplo dos recipientes onde são colocadas as mudas de plantas cultivadas em viveiros.
Ainda não existem planos imediatos de disponibilizar o produto ao consumidor. Mesmo assim, os pesquisadores acreditam que o acetato de celulose fabricado através do caroço da manga pode ser uma alternativa mais barata se comparada com as membranas usadas atualmente nos processos de filtragem, como no caso da celulose obtida da polpa de madeira. “No nosso estágio de desenvolvimento, ainda é difícil responder com números. Mas podemos dizer que com o emprego de um resíduo descartado e abundante, o preço de produção provavelmente será menor e isto provocará uma diminuição do valor em relação ao produto comercial”, falou Assunção.
A pesquisadora lembrou ainda que muitos produtos biodegradáveis são mais caros que os convencionais usados na mesma função, e o incentivo para seu uso é o diferencial ambiental.
Além do caroço da manga, a equipe já produziu acetato de celulose a partir de jornais, bagaço da cana-de-açúcar e agora está trabalhando com a palha de milho. Porém, antes de produzir as películas, é preciso saber em que tipo de aplicação elas serão usadas, já que a porosidade depende do fluxo dos líquidos que elas irão receber. Para controlar o número de poros, diversos sais são adicionados à mistura, auxiliando no processo de filtração.
Outros projetos já estão sendo desenvolvidos a partir da descoberta do “plástico vegetal”. Rosana Nascimento de Assunção revelou que os pesquisadores estão produzindo sistemas para incorporação de fármacos e outras espécies bioativas em matrizes miniaturizadas. “Nesta condição, a membrana é capaz transportar o fármaco até seu tecido alvo evitando, se possível, efeitos adversos”, disse.
Fonte: Portal Terra