Cerca de 300 pesquisadores e técnicos responsáveis por projetos na América Latina, África e Ásia estiveram presentes na I Conferência Mundial de Biofortificação, em novembro passado, em Washington (EUA), para discutir e apresentar os resultados dos trabalhos realizados nos últimos 10 anos.
A Conferência discutiu a biofortificação sob a ótica das áreas de nutrição, agricultura e comunicação, mostrando entre outras coisas que, geralmente, a fome é apresentada como falta de calorias. Porém, os pesquisadores tem descoberto que um dos maiores motivos que ocasiona a morte por desnutrição é simplesmente a falta de micronutrientes ou a fome oculta.
Devido à deficiência de zinco, por exemplo, crianças morrem de diarréia em diferentes regiões do planeta; a carência de ferro leva crianças à anemia e mulheres à morte no parto, principalmente na África Subsaariana. No sudeste Asiático, crianças que não recebem as quantidades suficientes de vitamina A muitas vezes ficam cegas ou morrem.
Ao mesmo tempo, as pesquisas mostraram que parte do problema da desnutrição pode ser resolvido quando a própria oferta de alimentos da dieta básica da população passa por uma melhoria nutricional. É o caso da batata-doce de polpa alaranjada que apresenta maiores teores de betacaroteno (pró-vitamina A). Cerca de 24 mil famílias de Moçambique e Uganda já estão cultivando e consumindo a nova batata-doce e, naturalmente, aumentando a ingestão de vitamina A no dia-a-dia.
A solução é aparentemente simples e de grande impacto. No entanto, Howarth Bouis, diretor do programa HarvestPlus, um consórcio internacional de centros de pesquisa, enfatizou que a pesquisa e a transferência de tecnologia na biofortificação são processos lentos. Por este motivo, Bouis frisou a necessidade de processos mais ágeis para transferência e a importância da avaliação dos impactos dos projetos onde quer que eles aconteçam.
A Embrapa, por sua vez, ponderou a necessidade de mobilizar competências e estreitar parcerias entre os países do Hemisfério Sul, como o Brasil tem feito com os países africanos, para implementar plataformas de desenvolvimento. Segundo Francisco Reifschneider, assessor da Presidência da Embrapa, a mobilização de competências deve crescer para formar uma comunidade de biofortificação e, assim, caminhar para dar visibilidade aos resultados já obtidos e seus impactos.
Para a Rede de Biofortificação no Brasil, liderada pela Embrapa, a avaliação de impactos foi a grande mensagem da Conferência e os pesquisadores já começam a dar os passos necessários para implantação de metodologias que possam avaliar os impactos sociais, econômicos, ambientais e, principalmente, os resultados na saúde e na nutrição do público alvo do projeto: consumidores de baixa renda urbana e rural.
Estamos cientes que no Brasil cerca de 50% das crianças em idade escolar sofrem de algum tipo de deficiência de ferro. Nossa esperança é que os cultivos biofortificados de batata-doce, mandioca, feijão, feijão-caupi, abóbora, milho, arroz ou trigo venham a ser uma das opções para combater a má nutrição tanto na mesa do produtor como na merenda escolar.
José Luiz Viana de Carvalho e Marília Regini Nutti pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos e coordenadores da Rede de Biofortificação no Brasil (jlvc@ctaa.embrapa.br; marilia@ctaa.embrapa.br).
Fonte: Portal do Agronegócio