A semente é a base de tudo

Dentro do custo de produção a semente ocupa apenas 5% da fatia, mas é responsável por 80% do sucesso da lavoura

Por Erika Zanon

Entre todos os pontos que precisam ser levados em conta na hora de planejar a safra, o uso de uma semente regular e adequada talvez seja o mais importante. Essa etapa representa apenas 5% do custo de produção e tem uma grande parcela de responsabilidade pelo bom desempenho da lavoura. Este ano, por exemplo, especialistas alertam que o uso de um bom material fará toda a diferença por conta do efeito La Ninã, que provoca entre outras coisas, chuvas irregulares.

Para Marcelo da Costa Rodrigues, gerente comercial da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), de Cascavel, o primeiro passo do planejamento da safra tem sido negligenciado. Alguns produtores têm adquirido sementes piratas e colocado em risco a produção Segundo ele, na hora de comprar semente é preciso conhecer a origem do produto. E acrescenta a necessidade de se buscar itens credenciados, com nota fiscal – a qual relata o histórico do material, quem plantou e como se deu todo o processo ‘Dessa forma terá certeza de estar comprando um material de qualidade’.

O agricultor também deve optar por variedades que sejam recomendadas para a região em que a propriedade está instalada No próprio site do Mapa, indicam os especialistas da área, existe a relação das cultivares recomendadas oficialmente para cada unidade federativa.

Hoje, acrescenta Narciso Barison Neto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), a semente é um chip que contém muitas informações para quem vai produzir. O material adequado, complementa, gera transferência de renda ao produtor ‘Com a tecnologia embutida em um material de qualidade, o agricultor acaba tendo produtividade maior. Além disso, ao optar pela semente registrada continua incentivando e alimentando as pesquisas que, fechando o ciclo, vai gerar benefícios ao produtor’, afirma

Barison Neto revela que em termos de sementes de soja o produtor brasileiro utiliza 64% de materiais certificados no País. O número só não é maior porque no Rio Grande do Sul, um dos principais estados produtor de grãos, o uso de sementes registradas é de apenas 33%. Lá, segundo ele, o agricultor, tem como tradição salvar (guardar o próprio material) as sementes

Um material certificado, com tecnologia embutida pode fazer toda a diferença para a produção final. É o que garante Luiz Carlos Miranda, gerente de negócios tecnológicos da Embrapa Transferência de Tecnologia, em Londrina, e presidente da Associação Paranaense de Sementes e Mudas (Apasem). Ele reforça que o produtor precisa pensar em todas as características da cultivar na hora de fazer a escolha. Esse ano, exemplifica ele, há a incidência do fenômeno La Ninã, período de chuva abaixo da média e distribuídas irregularmente.

Os produtores, segundo Miranda, sabiam disso de antemão, então precisavam se preparar, plantando variedades que se adaptassem a esse clima ‘Existem tecnologias específicas para isso, que envolvem a qualidade da semente’.

Por sua vez, entre as implicações de quem opta por materiais irregulares, reiteram os especialistas, é não ter para quem reclamar se houver algum problema ‘Fica sem eira nem beira’, observa Miranda Além disso, exemplifica, o produtor acaba comprando uma cultivar e recebendo 50% de uma qualidade e 50% de outra.

Rodrigues, da Coodetec, observa que sem conhecer a origem, o agricultor muitas vezes adquire um material que pode estar contaminado ‘Existe uma preocupação fitossanitária’, comenta Rodrigues. ‘Só os produtores mais imediatistas é que não sabem fazer essa avaliação’, reitera Miranda. Além de problemas de sanidade e produtividade, alertam os especialistas, quem compra uma semente pirata não pode tomar empréstimos do governo para financiar a produção.
 

Fonte: Folha de Londrina