Agricultura deve intensificar pesquisas para enfrentar aquecimento

Especialista diz que impacto sobre a produção é inevitável

Por Ivani Cunha

“Mudanças climáticas e agricultura” foi o tema da palestra apresentada nesta sexta-feira (19/03), na Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, pelo diretor da Organização Meteorológica Mundial (OMM), M.V.K Sivakumar. O evento, que teve a participação de dirigentes e técnicos das instituições vinculadas da Secretaria e representantes de universidades e instituições de pesquisa, faz parte dos preparativos para a 15ª Sessão da Comissão de Agrometeorologia da OMM, que será realizada de 15 a 21 de julho, em Belo Horizonte.
 
Sivakumar, que é indiano, alertou para as mudanças climáticas e seus efeitos sobre o planeta. “Ninguém pode ignorar essa situação”, ele disse, e em seguida citou o exemplo de seu país, onde a temperatura já alcança mais de 40 graus em certas épocas do ano e em uma década pode passar dos 50 graus como consequência do aquecimento global. “A dificuldade para manter a oferta de alimentos é uma ameaça real e já não pode ser contestada”, enfatizou. “A emissão de gases e o aquecimento global, na última década, alcançam níveis nunca registrados”, disse ainda. 
 
De acordo com o diretor da OMM, uma das consequências do aquecimento global é a alteração do desenvolvimento das plantas, que leva à aceleração do processo de  maturação dos cultivos agrícolas, com redução da produtividade. “Esta é uma ameaça real, diante da necessidade de se produzir alimentos para cerca de 9 bilhões de pessoas em todo o mundo, nos próximos anos”, assinalou o palestrante. Segundo ele, é grave também a perspectiva quanto à disponibilidade futura de água no mundo, pois um terço da população já está sujeita à escassez. 
 
Para Sivakumar, um dos indicadores mais fortes dos efeitos atuais das mudanças climáticas é o aumento das despesas com seguros na agricultura e em outras áreas. Um estudo da OMM mostra que os custos econômicos anuais relacionados aos desastres naturais no mundo são estimados em cerca de US$ 50 bilhões a US$ 100 bilhões.
 
O diretor da OMM disse que as informações e os alertas sobre os problemas climáticos atualmente têm grande consistência porque os relatórios são feitos anualmente. “Antes não havia, por exemplo, o monitoramento da temperatura dos oceanos. Atualmente é feito um trabalho sistemático de avaliação do volume e temperatura das águas dos mares e sua influência no aquecimento global.
 
Sivakumar acrescentou que “os governos devem investir na educação das crianças, mostrando a necessidade de cada indivíduo contribuir para o desenvolvimento sustentável”.  

 
Reflexo nos preços 
 

Flávio Justino, professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e especialista em agrometeorologia, destacou que a elevação dos preços dos alimentos tem como causa principal, atualmente, os fenômenos provocados pelo aquecimento global que atingem a agricultura. Um estudo da UFV mostra que nos últimos dois anos os preços do milho tiveram uma elevação de US$ 200 para US$ 550 dólares a tonelada. Justino observa que, ao mesmo tempo em que a produção de alimentos se torna mais difícil por causa da variação climática, aumenta a demanda per capita. Na China, o consumo médio, em 1980, era de 20 quilos por pessoa  e em 2007 já alcançava 50 quilos.
 
Segundo o especialista, está prevista a queda de produção da maior parte dos alimentos classificados como commodities, como o milho e a soja, que são básicos para a geração de carne. Para evitar essa situação é preciso, entre outras medidas, intensificar a pesquisa genética para adaptar as sementes às mudanças climáticas. Ele acrescentou que a UFV tem desenvolvido estudos com diversos produtos agrícolas sob clima projetado para avaliação de seu comportamento no cenário de agravamento do aquecimento global.     
 
 
Reunião da OMM no Brasil 

 
A 15ª Sessão da Comissão de Agrometeorologia é um evento da Organização Meteorológica Mundial (OMM), criada em 1950. A OMM é uma agência especializada da ONU para o clima e água.
 
Pela primeira vez, a  Sessão será realiza no Brasil, graças a uma parceria entre a OMM, o Governo de Minas, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e o Instituto de Nacional de Meteorologia (Inmet). A 15ª Sessão será realizada de 15 a 21 de julho, no Minas Centro, em Belo Horizonte.
 
Para os sete dias de evento, são esperadas cerca de mil pessoas. A comunidade internacional será representada por delegados de mais de 100 países associados da Organização Meteorológica Mundial.
 
A 15ª  Sessão da Comissão de Agrometeorologia vai oferecer suporte técnico e científico para a implementação de políticas agrícolas, com o objetivo de reduzir os danos causados por eventos climáticos adversos. 
 

Fonte: Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais