Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio revela, porém, que desmatamento na América Latina e o Caribe é alarmante
A região da América Latina e Caribe mostra progressos significativos no combate à desnutrição infantil e à desigualdade de gênero. Em contrapartida, está entre as que mais desmataram no período entre 1990 e 2000. Essas são algumas das conclusões do Relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 2010, lançado nesta quarta-feira pela Organização das Nações Unidas.
O documento afirma também que os avanços ocorrem, na maioria das vezes, em velocidade inferior ao necessário, e que a crise econômica de 2008 e 2009 retardou progressos no combate à pobreza extrema, embora não deva impedir o cumprimento, até 2015, da meta de diminuir pela metade a proporção de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia.
A América Latina e o Caribe, segundo o relatório, estão próximos de atingir a meta de reduzir os casos de desnutrição infantil pela metade. A porcentagem de crianças de até 5 anos abaixo do peso chegou a 6% em 2008, contra 11% em 1990.
A região também conseguiu uma queda de 25% no quadro geral de desnutrição, maior do que a observada no resto do mundo em desenvolvimento (20%). Tendo em conta a meta de reduzir pela metade o número de pessoas desnutridas, no entanto, fica a constatação de que apenas parte do caminho foi percorrida.
O documento considera que o progresso na redução da fome tem sido bloqueado na maioria das regiões, em grande parte por causa da crise econômica – que impediu que 114 milhões de pessoas deixassem a miséria – e pelos preços do alimentos, que continuam altos. Desde 2002, a proporção de pessoas desnutridas no mundo parou de cair.
Além disso, estimativas da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) mostram que o número absoluto de famintos aumenta. Em 1990, eles eram 817 milhões. Em 2009, devem ultrapassar a barreira de 1 bilhão.
Gênero e educação
Outra meta que caminha bem na região é a igualdade de gênero. A América Latina e o Caribe foram os que mais avançaram na proporção de cargos parlamentares ocupados por mulheres, passando de 15% em 2000 para 23% em 2003. A proporção de cargos de nível elevados ocupados por elas também teve o segundo maior avanço no mundo, alcançando a marca de 32% em 2008.
Na educação, a paridade entre meninos e meninas já foi alcançada em todos os níveis de ensino (fundamental, médio e superior), o que, entre as regiões em desenvolvimento, só foi conquistado pelos países da Comunidade dos Estados Independentes – grupo de nações que compunham a antiga União Soviética.
No entanto, a região da América Latina e Caribe estacionou no avanço do número de matrículas no ensino fundamental, necessário para alcançar a universalização desse nível, como pede o segundo dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
Entre 1999 e 2008, a porcentagem de matrículas subiu apenas 1 ponto percentual, de 94% para 95%. No mundo, o ensino primário chega a 86% dos meninos e meninas. Mas o ritmo de crescimento das matrículas é insuficiente para cumprir a meta até 2015, avalia a ONU.
Doenças
O documento mostra ainda avanços no combate a doenças. Aids e tuberculose, as duas enfermidades infecciosas que mais matam, já tiveram diminuídos os números de novos casos.
No entanto, o acesso universal ao tratamento anti-HIV, uma meta embutida no sexto dos ODM, enfrenta o grave problema do crescimento em uma proporção menor do que o número de novos casos. Para cada dois portadores que dão início ao tratamento a cada ano, cinco pessoas são infectadas.
Na América Latina, que tem uma das maiores coberturas aos soropositivos, a porcentagem de infectados que recebe tratamento atingiu apenas 54% em 2008. No caso da tuberculose, embora a incidência tenha baixado, a velocidade é ainda menor do que o crescimento vegetativo da população, o que significa que o número absoluto continua em alta.
Meio ambiente
Ainda segundo o relatório, o meio ambiente continua fora das equações de desenvolvimento econômico. Apesar de programas ambiciosos de reflorestamento em países como China, Índia e Vietnã, e do ritmo de desmatamento ter diminuído em relação aos níveis de 1990, o problema continua “alarmante”: 13 milhões de hectares de floresta foram perdidos anualmente na última década (contra 16 milhões na década de 90).
Só a América Latina perdeu 10% de sua cobertura original nesses 20 anos, número comparável ao da África Subsaariana e somente menor do que o do Leste Asiático (15%). Com relação à emissão de CO2, todas as regiões estão poluindo mais. O nível mundial aumentou 35%, para 29,6 bilhões de toneladas métricas de CO2, em grande parte por causa do aumento dos países emergentes, que dobraram (109%) suas emissões.
Crise e poluição
Embora exista a expectativa de que a crise de 2008 tenha causado uma redução nesse quesito, a recuperação mundial deve levar a outro crescimento, fazendo com que, em 2020, as emissões cheguem a um patamar 65% maior do que o visto.
A situação para a biodiversidade também não é boa, embora progressos estejam ocorrendo. Apenas metade das 821 “ecorregiões terrestres” do mundo – grandes áreas com combinações características de habitats, espécies e formação geográfica – tem 10% de suas áreas protegidas.
A Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada em 1992 por 168 países, previa que até este ano todas as ecorregiões tivessem pelo menos 10% de área protegida.
Embora se saiba que o mundo possui conhecimento e recursos capazes de reverter essa tendência, avaliação e equacionamento das estratégias de ação precisam ser realizados pelas nações, com mais comprometimentos. E isso acontecerá em setembro. Faltando cinco anos para o prazo estipulado pelos ODM, líderes de todo o mundo se reunirão em Nova York para a Alta Cúpula de Revisão dos ODM.
Fonte: PrimaPágina