Por Paula Cabrera
As constantes chuvas obrigaram a enfermeira Andréia Dias dos Santos a mudar o cardápio. Acostumada a sempre contar com alface na mesa, a alta dos preços das hortaliças – que saltaram de R$ 2,50 para R$ 4, incremento de 60% nesta semana – fizeram com que ela substituísse o produto. “Se fosse só pelo preço ainda levaria, mas a qualidade está muito ruim”, afirma.
Para atenuar a falta de salada no almoço, ela optou por batata e tomate. “Vou comer só legumes agora. Dá para fazer salada de batatas, pepino e tomate. O negócio é esperar os preços baixarem”, diz a enfermeira.
O feirante Dan Kuroki explicou que não foram apenas as chuvas que prejudicaram a qualidade das hortaliças. O sol escaldante que antecede as tempestades diárias também tem contribuído para dificultar a vida dos produtores. “A alface fica cozida no miolo. Ela fica menor, mais feia, as folhas meio queimadas. Vendemos menos quando ela está sim”, afirma o comerciante.
Na feira de ontem, as barracas com as hortaliças tiveram menos procura. Quando alguém parava para olhar o produto – que não mostrava qualidade – , o preço assustava. “Está muito caro, não dá para arriscar”, avalia a dona de casa Helena Alves, que optou por ampliar o número de legumes na sacola de feira. Ela destacou que nas últimas semanas pagava cerca de R$ 1,50 pelo pé da alface, ontem, no fim da feira (por volta das 12h30), o produto era comercializado por R$ 3,00.
Os feirantes lamentaram a queda nas vendas da hortaliça, considerada um dos carros-chefe da feira. “Nós não temos opção de compra, sempre negociamos com os mesmos fornecedores. Sabemos que a qualidade caiu por causa do tempo e estamos faturando menos por conta disso”, explica Kuroki.
Suzana Jordão foi uma das poucas que arriscou levar a alface para casa, mas reclamou da falta de opção. “Estou em dieta e preciso comer hortaliças. Não posso fugir disso, mas está muito difícil escolher e estou pagando mais caro do que na semana passada”, ressalta a empresária.
Preço mais alto – A alta nos valores da alface deve perdurar por mais algumas semanas. Segundo os feirantes, o tempo não está propício para o cultivo, portanto, o preço demorará algum tempo para normalizar. “A terra está encharcada. Não há como começar novo plantio. Nossa expectativa é de que o preço suba ainda mais nas próximas semanas”, destaca Kuroki.
A Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) alerta que a alface ficará, em média, 11% mais cara nesta semana. Couve flor, rúcula e acelga também acompanham a alta. Com o incremento nos preços, resta a dona de casa usar a criatividade na hora de diversificar o cardápio da salada.
Arroz, feijão, leite e açúcar têm aumento
A cesta básica ficou mais cara em janeiro no Grande ABC. A alta foi de 1,06% frente a dezembro e os consumidores tiveram de desembolsar R$ 3,30 a mais pelos itens que compõem o conjunto de alimentos.
Segundo a Craisa (Central Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), o valor da cesta subiu devido às altas de produtos importantes como arroz, feijão, leite e açúcar. Já o preço do pão francês não sofreu alteração.
O leite teve a maior variação em janeiro, com aumento de 5,83% ante dezembro. “O valor da bebida teve picos de alta em junho e julho de 2009, mas o preço voltou a ficar estável depois”, explica o engenheiro agrônomo do Craisa, Fábio Vezzá De Benedetto. Ele acrescenta que na semana passada a variação no preço atingiu 9%.
Arroz e feijão, indispensáveis na mesa dos brasileiros, ficaram 3,58% e 4,70% respectivamente mais caros. “O excesso de chuvas no sul do País (o Rio Grande do Sul é principal produtor do cereal) prejudica o cultivo, podendo influenciar na safra, e, consequentemente no preço”, aponta o engenheiro.
O açúcar endossa a lista dos alimentos que tiveram variação. Além de impactar no preço do etanol, a escassez de cana de açúcar pesou também no bolso do consumidor ao ficar 4,47% mais caro em janeiro.
Custo médio – A cesta básica composta por 34 itens custou R$ 314,24 em janeiro ante os R$ 310,94 cobrados no mês de dezembro. O grupo de alimentos industrializados apresentou 2,28% de alta, enquanto o de higiene pessoal, mostrou reação de 0,40%. Na contramão, os itens de limpeza doméstica ficaram 2,31% mais baratos.
Apesar das intensas chuvas, o grupo de hortifrutigranjeiros registrou queda de 4,74%. “Há tendência de alta de legumes, frutas e verduras. Dependendo do local onde for comprado, estes itens podem ter variação de até 250% nos preços praticados pelo varejo”, destacou Benedetto.
Melancia e abacaxi estão mais caros
As constantes chuvas que ainda assolam o Estado fizeram com que os produtos de hortifruti registrassem altas de até 140% no Grande ABC. Com a perda de 80% do estoque na enchente da semana passada, melancia e abacaxi foram os que mais apresentaram oscilação, seguidos, pelas verduras e hortaliças.
A Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) afirma que para esta semana verduras e hortaliças devem apresentar preços 11% mais caros e, com menos qualidade do que nas semanas anteriores. Os produtos – considerados mais frágeis sob a variação do tempo – já tem sido evitados por consumidores.
A companhia alerta também que grande variedade de produtos que estão entressafra – como morango e manga – apresentam preços mais altos nesta semana. Para minimizar o impacto no bolso, a Ceagesp recomenda que os itens sejam substituídos por outros que apresentam bons preços nesta semana.
Nos mercados, os preços da farinha, mandioca, ovos e leite também assustaram consumidores. Os ovos subiram pela segunda semana consecutiva, desta vez, com variação de 4,63%. Já os preços da carne bovina, que na semana passada apresentava alta, recuaram 4,27%.
Fonte: Diário do Grande ABC