Além das funções nutricionais, eles podem ajudar a prevenir doenças
Por Ana Elizabeth Diniz
Cenoura, abóbora e batata-doce com mais betacaroteno rico em antioxidantes e que combatem os radicais livres, pimentão com mais vitamina C e tomate com mais licopeno são apenas alguns dos legumes que estão sendo pesquisados pela Embrapa Hortaliças, empresa ligada ao governo federal. E vários deles já estão disponíveis no mercado.
São os chamados alimentos funcionais – aqueles que, além das funções nutricionais básicas, quando consumidos como parte da dieta usual, produzem efeitos metabólicos, fisiológicos e benéficos à saúde humana.
Enriquecer com nutrientes o cardápio in natura do brasileiro não é exatamente novidade. Em 2004, por determinação do Ministério da Saúde, a farinha de trigo foi enriquecida com ferro, uma tática para combater a anemia que assolava a população mais carente. Ao sal foi colocado mais iodo.
Os supermercados já oferecem opções funcionais como os iogurtes que ativam o intestino, margarinas que protegem o coração, refrigerantes com cálcio, leite enriquecido com ferro e ômega-3, amido de milho com vitaminas e pães enriquecidos com fibras.
O pesquisador Celso Moretti, da Embrapa Hortaliças, explica que a empresa pesquisa produtos mais nutritivos, “a partir do aumento dos compostos bioativos com potencial para reduzir as deficiências nutricionais e também atuar como inibidores de algumas patologias”. “Lançamos cultivares de cenoura e batata-doce com mais betacaroteno, e tomate com maiores teores de licopeno, pigmento envolvido na prevenção de diferentes tipos de câncer, como o de próstata, e luteína, que auxilia na prevenção da catarata”, enumera o pesquisador.
A pesquisadora Patrícia Carvalho trabalha na identificação e quantificação de diversos compostos em hortaliças, sobretudo os carotenóides, e realiza estudos em abóbora, batata-doce e cebola, entre outros. A presença e a concentração desses elementos estão sendo avaliados no sistema orgânico e em alimentos biofortificados.
Leonora Mattos, pesquisadora da Embrapa Hortaliças, explica que outros alimentos estão sendo pesquisados, como por exemplo o alho nacional que está sendo comparado ao chinês. O que já se sabe é que a alicina, presente no alho brasileiro, é mais eficiente na prevenção do infarto do miocárdio. O morango, rejeitado por conter agrotóxicos, tem se revelado eficiente para evitar cardiopatias. “Mas as pesquisas ainda não são conclusivas”, ressalta.
Para o nutricionista Fernando Aislan, os alimentos funcionais são válidos desde que não se modifique demais o alimento e que ele não chegue caro à mesa do consumidor. “É importante ressaltar que todo alimento é funcional porque tem nutrientes, como por exemplo a soja, rica em isoflavona que previne a osteoporose. Esses alimentos previnem doenças, mas não podem ser usados como medicamento”, afirma.
Aislan questiona se as pessoas precisam desses alimentos modificados. “Por que colocar mais vitamina C na cenoura se a laranja, o limão e a acerola são naturalmente ricos dessa vitamina? Defendo uma dieta equilibrada e saudável, com diversidade de alimentos. Do que adianta consumir um alimento funcional se a pessoa fuma e bebe?”
O consumidor ainda terá que esperar para ter acesso a esses produtos. “Ainda é cedo para isso. Assim que a Embrapa Hortaliças finalizar as pesquisas, vai divulga essa safra de novas sementes para os agricultores e a indústria. Caberá a eles e aos supermercados identificá-los para o consumidor final”, pontua Leonora.
Crescimento
No mundo, o setor registrou aumento de mais de 50% desde 2002 e atingiu, em 2007, um faturamento de US$ 2,74 bilhões, de acordo com o Euromonitor International.
Fonte: Jornal O Tempo