Estudo propõe redução dos preços de frutas, verduras e legumes
Uma alimentação mais saudável pode ser incentivada por meio de uma política de ajuste de preços dos alimentos. Essa é a proposta de um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), que comprova que os valores de comidas e bebidas influenciam nos hábitos alimentares. Segundo o nutricionista Rafael Moreira Claro, autor do estudo, por meio da isenção de impostos sobre alimentos saudáveis e do aumento de impostos sobre os não saudáveis é possível estimular o consumo dos primeiros e promover uma dieta mais adequada para a população.
— Buscamos analisar como o preço estimula ou desestimula o consumo de certos alimentos — explica. No caso de frutas e hortaliças, se o seu preço baixasse em 10%, o total de calorias ingeridas provenientes desses alimentos aumentaria em quase 7,9%.
De acordo com o estudo, atualmente, frutas, legumes e verduras são a parte mais cara de uma dieta. — Se uma pessoa quiser ingerir mil calorias comendo apenas estes alimentos, precisaria de quase R$ 4,50 enquanto, hipoteticamente, poderia conseguir a mesma quantidade de calorias ingerindo açúcar com apenas R$ 0,30 — relata Moreira Claro.
Assim, para não encarecer a refeição, a população de baixa renda acaba comendo menos frutas e hortaliças, alimentos saudáveis que poderiam fazer parte da dieta em maior proporção. — Uma redução nos impostos sobre estes produtos ajudaria na diminuição de seu preço e no consequente aumento de seu consumo — observa o nutricionista, que ressalta: — A diminuição das taxas, porém, deve ser acompanhada de publicidade que avise ao consumidor sobre tal redução.
Em relação ao alimentos não saudáveis a pesquisa analisou as chamadas bebidas adoçadas (refrigerantes, bebidas energéticas e esportivas, além de sucos adoçados com açúcar) e apontou que se o seu preço aumentasse em 10%, seu consumo cairia em 8,4%. Para induzir o aumento do valor, a sobretaxação dos refrigerantes seria uma medida possível e traria benefícios à sociedade na medida em que reduziria o consumo de uma bebida responsável por causar obesidade. — O refrigerante não causa a obesidade sozinho, mas sua relação com a doença é evidente — alerta o nutricionista. Ele explica também que a diminuição na ingestão de bebidas adoçadas diminuiria os custos com o atendimento à saúde, em casos de obesidade e outras doenças crônicas. — O governo sairia ganhando, ainda que aumentar os impostos seja, num primeiro momento, uma medida impopular.
Renda familiar
O maior ou menor consumo de alimentos saudáveis também é impactado pela variação da renda de uma família. Tal impacto, porém, é menor do que o causado por uma baixa nos preços. Um aumento de 10% na renda familiar, por exemplo, aumentaria apenas em 2,7% o total de calorias ingeridas provenientes de frutas e hortaliças. O fato é justificado em função da diluição desse aumento de renda na aquisição de inúmeros outros bens e serviços.
Moreira Claro elucida que a questão dos impostos é o jeito mais simples de influenciar no consumo porque o preço afeta a todos de uma forma global e o impacto é mais direto quando valores são alterados, para mais ou para menos. Além disso, nas classes mais altas, onde o poder aquisitivo já é significativo, o aumento da renda influencia ainda menos na compra de alimentos saudáveis. — Uma política de ajuste de preços, barateando os alimentos saudáveis e encarecendo os não saudáveis, é uma saída que traria mais efeito sobre a qualidade da dieta — finaliza.
Fonte: Agência USP de Notícias