Por Egídio Serpa
Confira abaixo, trechos da entrevista que o presidente da Câmara Setorial da Floricultura do Ceará, Gilson Gondim, publicada na seção Economia & Mais no caderno Negócios do Diário do Nordeste.
A floricultura brasileira, e a do Ceará também, parece ter mais perfume do que flor. É assim mesmo?
O setor da floricultura é dinâmico, mundialmente falando. No Brasil, ele é pequeno. O Brasil é uma potência no agronegócio, mas ainda não despertou para a floricultura, que é concentrada – mais de 50% – lá em São Paulo, principalmente em Holambra. Os holandeses migraram para o Brasil no início do século, tentaram, primeiramente, uma experiência com gado de leite, que não teve bons resultados. Aí eles mudaram para a floricultura, sendo hoje os grandes controladores do setor no nosso País.
Fazem aqui o que sempre fizeram na Holanda?
Exatamente. A Holanda consegue ser, a um só tempo, o maior exportador e o maior importador mundial de flores e plantas. Ela importa cerca de 15 bilhões de euros e exporta 8 bilhões de euros. Para que você tenha uma ideia do que é o Brasil na floricultura, basta que eu digo que o Brasil exporta apenas 37 milhões de euros. Não chega a 2% do negócio mundial da floricultura.
Então, a floricultura não tem perspectiva no Brasil?
Pelo contrário, há uma tremenda perspectiva. É preciso que, primeiro, o setor se articule, pois ele trabalha de forma muito dispersa. Os holandeses, lá em Holambra, são unidos, mas são muito herméticos. Nada fora de lá eles acham que funciona. Então, com o advento da Câmara Setorial Nacional da Fruticultura, o setor começa a caminhar na direção correta do associativismo. Infelizmente, só o Ceará tem uma Câmara Setorial da Floricultura, mas nós temos feito um esforço grande para que os estados produtores criem também essas câmaras para que a Câmara Setorial Nacional seja o nosso grande fórum. Hoje, a maioria das entidades que participam da Câmara Nacional é de Holambra.
Como estão o Ceará e o Nordeste no setor da floricultura?
Eles têm uma situação muito privilegiada, e dois fatos revelam isso: primeiro, tem-se a ideia de que o que faz a planta crescer é a água e o fertilizante, e não é, pois o que faz a planta crescer é a luminosidade, o sol, uma matéria prima bem nordestina. Por causa disso, a planta cresce mais e melhor no Nordeste durante o ano todo. Na maioria das vezes, abaixo de 15 graus de temperatura, a planta entra em dormência vegetativa, ela para de crescer.
Qual é planta que o Ceará mais exporta?
A Holanda é responsável por 70% da importação das plantas ornamentais do Brasil – os EUA e Portugal importam o restante. Os produtos mais exportados pelo Ceará são o Bulbo de Amarilis e o Risoma de Cana Índica. O bulbo é uma batatinha que você põe no vaso, ele cria raiz, emite uma haste, emite uma flor. Por exemplo, as tulipas são cultivadas a partir de bulbo, os jacintos também e o amarílis, também. Isso vai daqui em contêiner para a Europa ou para os EUA, lá cria raiz e sai uma haste e sai uma flor espetacular. Quer dizer, nós exportamos o bulbo e o importador, lá, agrega valor e reexporta. Para isso, ele tem lá uma estrutura de viveiro, uma estufa grande, de vidro, aquecida. Por exemplo: nós exportamos também a Lança de São Jorge, ela vai sem raiz, vai nua, dentro de caixas. Lá eles põem no vaso e, depois de 15-20 dias, ela cria raiz e o produto está finalizado.
Fonte: Diário do Nordeste