Nova Friburgo e Teresópolis, mais agrícolas, são responsáveis “por quase 100% do abastecimento de hortaliças” na região metropolitana do Rio, diz o presidente da Associação de Supermercados do Rio de Janeiro, Aylton Fornari. Teresópolis calcula que 80% das plantações foram destruídas.
“Compramos diretamente dos produtores e eles estão isolados. Até existe produto, em alguns casos, mas não há como escoá-los. O resultado é que os preços explodiram”, diz.
Ele espera que a situação só se normalize daqui a 20 ou 30 dias.
Até lá, o consumidor fluminense vai conviver com preços altos. No Ceasa (central de abastecimento), que abastece o pequeno varejo, hotéis e restaurantes, a caixa com 18 pés de alface passou de R$ 5 antes da catástrofe para R$ 30. “Assim, ninguém compra”, afirma João Maurício Tomazzi, diretor do Ceasa.
A central costuma receber 1.000 toneladas de produtos diariamente. Ontem, foram entregues apenas 500 toneladas por causa da tragédia na região serrana.
Do ponto de vista do suprimento e do impacto dos preços, a situação mais grave é registrada na própria região. Faltam itens básicos, parte do comércio está fechada e a escassez de produtos fez os preços dispararem principalmente em Nova Friburgo. Na cidade, um galão de água chega a custar R$ 40. Um litro de leite sai por R$ 6. As velas são vendidas por unidade, a R$ 1 cada.
A Fecomércio-RJ estima uma perda diária de R$ 8 milhões, se todo o comércio local for afetado. Mas há relatos de relativa normalidade em Petrópolis, onde menos áreas foram atingidas pelas chuvas, e de um impacto menor em Teresópolis.
Sofre mais, porém, a rede hoteleira, paralisada por conta da catástrofe. O setor contabiliza perdas US$ 30 milhões (R$ 50 milhões) com a queda da ocupação dos hotéis e das reservas na temporada de verão (janeiro a março).
SUSTO
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), sentiu no sábado (15) na pele o efeito das chuvas na região serrana. Com visita programada a Nova Friburgo para as 11h, ele não conseguiu pousar na cidade de helicóptero e teve que descer em Cachoeiras de Macacu, a 40 km.
No meio do caminho, na rodovia estadual RJ-116, caiu uma chuva forte e houve um deslizamento abaixo do nível do asfalto, que começou a se desfazer. “É assustador. De repente a água vem e a estrada que estava semibloqueada começa a ruir”, disse Cabral.
Foi decretado luto oficial de sete dias no Estado e de três dias no Brasil.
Ontem, Cabral afirmou hoje que haverá o momento de se fazer “autocrítica” e “avaliação” sobre a tragédia na região serrana, mas ainda não é hora.
RISCO
Reportagem publicada na edição deste sábado mostra que um estudo encomendado pelo próprio Estado do Rio de Janeiro já alertava, desde novembro de 2008, sobre o risco de uma tragédia na região serrana fluminense.
A situação mais grave, segundo o relatório, era exatamente em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, os municípios mais devastados pelas chuvas e que registram o maior número de mortes. Essas cidades tiveram, historicamente, o maior número de deslizamentos de terra.
O estudo apontou a necessidade do mapeamento de áreas de risco e sugeriu medidas como a recuperação da vegetação, principalmente em Nova Friburgo, que tem maior extensão de florestas.
O secretário do Ambiente do Rio, Carlos Minc, disse que o mapeamento de áreas de risco foi feito, faltando “apenas” a retirada dos moradores, e que os parques florestais da região também foram ampliados.
O coordenador de Defesa Civil de Petrópolis afirmou que o aviso passado pelos institutos de meteorologia não foi suficiente para disparar o sistema de alerta da cidade.
Segundo o coronel Carlos Francisco De Paula, a previsão repassada pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), com possibilidade de ocorrência de chuvas moderadas a fortes, não dava a dimensão da chuva que acabou devastando boa parte das cidades serranas.