Consumidores dão cada vez mais valor a instituições sustentáveis

Os consumidores do país ainda não priorizam a compra de produtos fabricados por empresas ambientalmente corretas, no entanto, já atribuem mais status a instituições sustentáveis. Segundo o Monitor de Responsabilidade Corporativa 2010, realizado desde 2002 pela Market Analisys, apenas 9% dos brasileiros preferem adquirir artigos de fabricantes com comportamento socioambiental, enquanto 35% optam pela alternativa mais barata. Outros fatores como características funcionais dos produtos (19%), confiança na marca (16%) e disponibilidade (13%) também tiveram destaque.

O levantamento – que ouviu no Brasil 810 adultos, dos 18 aos 69 anos, de dezembro de 2009 a janeiro deste ano – detectou uma tendência de inversão do quadro. Este ano, 22% dos entrevistados do país valorizaram uma empresa pelas suas atitudes ambientais e a elogiaram, contra 16% em 2002.

– É um crescimento pequeno, mas mostra uma tendência – avalia o diretor da Market Analisys, Fabián Echegaray. Mas a quantidade dos que responderam que nem pensaram na questão da sustentabilidade (67%) ainda é muito grande. Segundo o professor doutor de marketing da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Cortez Campomar, não faz parte da cultura brasileira preservar o meio ambiente. “Não é uma crítica, mas uma reflexão” explica.

Como é um país tropical, com a maior reserva de água potável do mundo, as pessoas ainda não sabem o que é faltar recursos naturais.– Em países da Europa, onde a natureza é mais hostil, o povo tem medo e se previne – disse Campomar. – Ninguém aqui está disposto a pagar mais pelo meio ambiente.

O supermercado Pão de Açucar oferece alternativas para os clientes não usarem sacos plásticos. São sete opções de sacolas retornáveis – cinco em fibra sintética, uma em algodão com a frase “eu sou uma sacola verde” e a sacola acoplável ao carrinho de compras. Em quatro anos de ação, a rede vendeu mais de 600 mil unidades.

O aposentado Maurício Lucca explica que gosta de ver o estabelecimento oferecendo meios para o cliente também ser sustentável, mas sempre acaba usando as sacolas plásticas. “Até porque eu uso os sacos do mercado para colocar o lixo da minha casa” conta.
Já a bancária Ana Aguiar tem várias sacolas ecológicas em casa e, quando esquece, pede caixas de papelão no mercado para colocar suas compras. Para ela, cuidar do meio ambiente também faz parte da cidadania. – Se um outro mercado abrir ao lado desse, com preços mais baixos, eu não troco – ressalta Ana.

Para a professora do instituto de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Valéria Vinha grandes corporações estão tomando a dianteira do Estado e, mesmo da sociedade civil, e assumindo o papel de reguladores. “As empresas estão definindo tendências, influenciando o comportamento do consumidor, e até mesmo com papel pedagógico“ avalia Vinha, que foi uma das escritoras do livro “Economia do Meio Ambiente”, da editora Campus-Elsevier. Para ela a integração da economia com a ecologia é uma tendência mundial e totalmente necessária.

O Brasil vive hoje um momento de transição, segundo o idealizador da Mob Consult, Luiz Bouabci. Nos anos 70, o ato de consumir para fazer parte de um grupo ganhava força. Hoje, a ideia ainda é forte, mas alguns conceitos novos estão sendo trazidos, como comprar produtos que divulgam a intenção de preservar a natureza.

Para Bouabci é necessário que a divulgação tome uma proporção realmente grande, para que a sociedade escute. “O aquecimento global é um exemplo disso. Com as inúmeras divulgações, reuniões e alarme da mídia, os brasileiros já estão comentando e participando”, comenta Bouabci.

A Nokia fez uma pesquisa em 2008, que mostrou que apenas 2% da população brasileira têm o hábito de reciclar seus celulares antigos. Pensando nisso, desenvolveram uma campanha em fevereiro deste ano, em São Paulo, com a intenção de estimular está ação.

Durante dois mês, os clientes que entregaram seus equipamentos eletrônicos sem mais utilidade para a Nokia ganharam sacolas ecológicas. De acordo com a empresa, estas sacolas vêm ganhando popularidade entre os consumidores conscientes. Até o fim de março, foram recolhidos mais de 251 telefones e 397 baterias e pilhas.

A engenheira civil Rafaela Reinaldo conta que comprou uma sacola ecológica e acaba usando muito para levar as coisas de seus filhos na hora de ir à praia e passear na pracinha. Só de vez em quando, ela lembra de levar ao supermercado. “A bolsa está na moda e divulga uma ideia positiva”, diz.

A entrada dos bancos no negócio foi marcada pelo Banco Real, que pertence agora ao Grupo Santander. Uma das primeiras ações da instituição foi o lançamento do Papa-Pilhas que cresceu 22,49%, no ano passado. Com 155,5 toneladas, o programa recolheu só em 2009 quase o mesmo volume coletado desde dezembro de 2006, momento do lançamento. São 2.068 pontos de coletas de pilhas, baterias, celulares e carregadores em todo o país.

– A melhora na procura é indiscutível. E a preocupação crescente das empresas em ter uma postura mais consciente é muito importante – destaca o superintendente do desenvolvimento sustentável do Grupo Santander Brasil Carlos Nomoto. O banco também tem uma postura de incentivar atitudes de outras empresas diretamente, com linhas de financiamento e operações especiais para empresas que seguem esta linha.

A Wärtsilä, líder global em soluções energéticas de ciclo de vida completo para mercados marítimos e de geração de energia, está apostando num projeto de reciclagem no Rio de Janeiro. A empresa doa cerca de 130 kg de resíduos gerados internamente, por semana, para o Coopercentro, que já existe há 24 anos e emprega 18 pessoas no bairro Santo Cristo. O Coopercentro recicla em média 9 a 10 toneladas de materiais por semana e fatura R$ 17 mil por mês.

Fonte: Jornal do Brasil /JB Online