Com um sistema de cultivo que reflete a variedade que é recomendada para a alimentação, a Embrapa Cerrados estuda a produção de frutas, hortaliças e grãos em consórcios irrigados, como opção tecnológica para a viabilização econômica para pequenos fruticultores
Por Clarissa Lima Paes
Iniciada no ano passado, a pesquisa apresenta seus primeiros resultados, que são bastante interessantes. Segundo o pesquisador Tadeu Graciolli Guimarães, que coordena o estudo, a ideia é que, enquanto o agricultor aguarda o crescimento do pomar, o espaço disponível entre as fruteiras pode ser usado para o cultivo de outras culturas.
A área experimental de 0,3 hectares está localizada na Embrapa Cerrados. Durante o outono-inverno, foram produzidas em consórcio diversas culturas de ciclo curto como grãos (milho, feijão, amaranto e quinoa) e hortaliças (alface, alho, abóbora, cebola, couve, quiabo, etc.). No período chuvoso de primavera-verão, a área foi plantada com milho e cinco variedades de arroz. Com isso, a produção de alimentos nas entrelinhas das fruteiras ocorre durante todo ano, enquanto elas prosseguem seu crescimento vegetativo. Como o sistema racionaliza e intensifica os usos do solo, da irrigação e da mão-de-obra, a produção de alimentos na área aumenta. Graciolli explica que, em um hectare é possível obter o equivalente ao que seria produzido em 1,6 hectares.
As fruteiras foram podadas aos 10 meses de idade e, aos 12 meses, as gravioleiras já estão com 1,80 m de altura, com excelente vigor. “As primeiras flores foram emitidas aos nove meses de idade, e em algumas plantas é possível notar a fixação dos primeiros frutos”, conta o pesquisador. As acerolas também estão no seu segundo florescimento, e alguns frutos já foram colhidos.
Para o pequeno agricultor, a produção variada pode ser sinônimo de maior lucratividade, devido à diversificação de mercados em que ele pode atuar, antes da produção comercial das frutas. “Essa maior variedade de produtos proporciona também uma dieta mais rica para os que consomem o que produzem”, comenta o pesquisador. Como consequência, ocorre estímulo ao maior consumo de hortaliças e garantia de segurança alimentar da população rural. Com tantas vantagens para o agricultor, o projeto faz parte do Programa Mais Alimentos, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Outro benefício do consórcio é que a maior biodiversidade do ambiente favorece o surgimento de inimigos naturais das pragas, os quais colaboram para manter suas populações sob controle. Outro resultado interessante do consórcio é que a constante produção de matéria orgânica concorre para o enriquecimento o solo, e os restos culturais podem ser utilizados como cobertura morta nas linhas das fruteiras.
Os estudos visam ainda determinar quais são as espécies que melhor se adaptam às características do sistema, as melhores variedades de cada espécie para participação no consórcio e o balanço financeiro ao final do projeto. Além disso, a composição nutricional dos produtos está sendo avaliada e comparada com a de produtos similares, produzidos convencionalmente. Como se trata de um projeto recente, ainda há muito a estudar sobre as diversas opções de composição de culturas nesse novo tipo de consórcio. Na pesquisa, a equipe da Embrapa Cerrados conta ainda com a participação da Embrapa Hortaliças e da Emater-DF.
Fonte: Embrapa Cerrados