Guardar produtos comprados em feiras e supermercados sem lavá-los antes aumenta o risco de intoxicação alimentar
Fazer compras e chegar em casa carregando aquele monte de sacolas plásticas é uma rotina em praticamente todas as famílias, até mesmo para aqueles que moram sozinhos. Mas o que não pode e não deve ser uma rotina é colocar os produtos que chegam da rua diretamente na geladeira, sem nenhuma higienização prévia. Isso pode transformar o refrigerador em um foco de contaminação.
Nutricionistas ouvidas pela reportagem alertam para o risco de intoxicação alimentar. Elas lembram que, antes de chegar em casa, os produtos ficam expostos a uma série de impurezas. Passam pelas mãos de inúmeras pessoas, são transportados pra lá e pra cá nem sempre em condições ideais de higiene, inclusive nos carrinhos de supermercado e no porta-malas do carro.
Resumindo, a embalagem e o próprio alimento, no caso das frutas, verduras e legumes, chegam a seu destino final, que é a casa do consumidor, com uma carga elevada de bactérias. Quando colocados na geladeira, esses micro-organismos se multiplicam e podem infectar outros alimentos.
Por causa do ambiente frio, a multiplicação de bactérias dentro da geladeira ocorre lentamente. O processo de contaminação pode ser mais rápido se a temperatura da geladeira estiver acima do recomendado (por isso existe o termostato) ou se o abre e fecha da porta for constante. A entrada de ar quente a todo momento dificulta a refrigeração interna. O calor é uma das condições essenciais para a proliferação de bactérias.
Intoxicação
Um alimento contaminado pode provocar intoxicação alimentar. A intoxicação pode causar desde uma simples diarreia até graves problemas de saúde. O risco é maior em crianças e adolescentes, que possuem organismos mais vulneráveis.
Por conta desse risco, a orientação é lavar bem os alimentos antes de guardá-los na geladeira. O mesmo deve ser feito com os alimentos acondicionados em latas, potes plásticos, embalagens do tipo tetra pak, entre outras.
A recomendação é lavar com água e sabão ou detergente neutro ou limpá-los usando um pano umedecido em álcool. “Mesmo um pano seco é melhor que nada”, orienta a nutricionista Maria Inês Maringoni Marques. Segundo ela, se não elimina totalmente as bactérias, tal atitude pelo menos minimiza o risco.
Outro cuidado que deve ser tomado para manter a geladeira livre dos micro-organismos nocivos à saúde é não colocar lá dentro as bandejas de isopor que vêm com carne, frutas, presunto, queijo, etc. Deve-se manter longe também as bandejas com ovos e as sacolas plásticas com verduras, frutas e legumes.
Enfim, tudo o que fica exposto nas gôndolas dos supermercados ou nas feiras livres deve ser lavado ou substituído antes de ser levado à geladeira. No caso das bandejas de isopor, elas devem ser substituídas por potes plásticos limpos ou mesmo saquinhos plásticos próprios para guardar alimentos.
Além disso, o isopor é um isolante e impede a correta refrigeração dos alimentos, segundo informa a nutricionista Consuelo Simone Galina. Ela recomenda também nunca deixar sobras de alimentos expostos dentro da geladeira. O que sobrou do almoço deve colocado em um pote fechado.
A regra é a mesma quando abre-se uma lata de ervilha, milho, atum, etc, e não se usa todo o conteúdo. O que sobrou deve ser colocado em recipiente fechado, nunca manter dentro da lata aberta. Dessa forma, o alimento fica exposto à contaminação.
Ovo na porta facilita contaminação
O local onde os alimentos são armazenados interfere na correta refrigeração dos mesmos e, consequentemente, no tempo de conservação.
Carnes, leite, queijos, iogurtes, por exemplo, que necessitam de um ambiente mais gelado, devem ficar na parte de cima, onde o ar é mais frio. Por outro lado, frutas, verduras e legumes, devem ser guardados na gaveta que fica embaixo, onde a intensidade do frio é menor.
A parte intermediária da geladeira pode ser reservada para colocar as sobras de comida, doces, maionese, manteiga e os ovos, entre outros itens. É isso mesmo, os ovos devem ser colocados na prateleira da geladeira, nunca na porta, como é costume.
Na porta só devem ficar bebidas (menos o leite), temperos e geleias, ou seja, produtos que não são tão sensíveis à variação de temperatura. Com o abre e fecha, da geladeira, os alimentos que estão na porta são os mais afetados pelo aquecimento porque ficam mais expostos à parte externa.
Quando são submetidos a essas variações, os ovos podem se transformar numa fonte de bactérias. Pela própria natureza, eles já chegam aos consumidores contaminados. O ovo é poroso, portanto, não é possível lavá-lo. Isso já lhe garante uma carga de bactérias. Se incorretamente armazenada, essa carga só tende a aumentar.
Por esse motivo, a nutricionista Maria Inês Maringoni Marques, diretora técnica do Serviço de Nutrição e Dietética do Centrinho, da Universidade de São Paulo (USP), diz que o ideal é que os ovos sejam armazenados em ambientes refrigerados, desde a granja até a casa do consumidor, passando pelo supermercado. “O ovo não pode ficar exposto na prateleira, em temperatura ambiente. Isso facilita a proliferação de bactérias”, adverte.
Em 2008, o Ministério da Saúde divulgou o ranking dos alimentos que mais provocaram doenças desde 2000. Os ovos crus ou mal cozidos foram os primeiros. Tudo por causa da bactéria chamada salmonela. Depois, vieram as comidas que misturam presunto, queijo e massas, como lasanha e o misto-quente, seguidas de carnes vermelhas mal passadas. Quanto mais cru está o alimento de origem animal, maior o risco de intoxicação alimentar.
Outra medida importante, segundo Maria Inês, é observar a temperatura interna da geladeira. Em dias quentes ou quando a geladeira está cheia, deve-se regular o termostato para o mais frio. De acordo com a nutricionista, uma maneira fácil de notar se a temperatura está boa é verificar se os potes estão gelados. Se o motor da geladeira está demorando a desligar pode ser outro indicativo de que a temperatura interna está alta.
A borracha de vedação é outro item que interfere na refrigeração. Se ela estiver com folga é sinal de que não está conseguindo impedir a entrada do calor. O simples ato de colocar uma folha de papel presa na porta dá para ver se a borracha está com folga. Se a folha ficar firme é indicativo de que a borracha está boa.
Como a circulação de alimentos dentro da geladeira é intensa, ou seja, está sempre entrando e saindo produtos, um pouco de bactéria sempre fica. Em alguns casos, o que fica não é tão pouco assim. Por isso, a nutricionista Consuelo Simone Galina alerta para a necessidade de fazer a limpeza periódica da geladeira. Segundo ela, o ideal é que essa limpeza seja semanal. Mas fazer uma vez por mês é melhor que nada.
A limpeza deve ser feita com a geladeira desligada e, de preferência, quando houver pouco alimento guardado. Deve-se usar apenas água e sabão ou detergente neutro. O degelo também deve ser periódico. Segundo Consuelo, quanto mais gelo menor é a circulação de ar frio.
‘Nada entra no armário sem limpeza’
Nada entra na geladeira ou no armário de Carmen Lúcia Tayar sem antes passar por um cuidadoso processo de sanitização. Desde o início dos anos 1980, quando começou a trabalhar em empresas alimentícias e a participar de cursos sobre higienização dos alimentos, Carmen passou a “viver” dentro de casa o que aprendeu fora dela.
Desde então, tudo o que ela traz do supermercado passa pelo pano umedecido em álcool ou pela solução de cloro. “Nada entra no meu armário sem que eu limpe com álcool”, afirma. O mesmo vale para a geladeira.
Antes de guardar as frutas, verduras e legumes, Carmen mantém esses produtos de molho em um derivado de cloro por cerca de 15 minutos. Depois, ela enxuga bem, coloca em potes e guarda na geladeira. O que é vendido em lata, ela tira e coloca em recipientes de vidro antes de levá-los à geladeira. Além de conservar melhor os alimentos, o vidro não oxida como o alumínio.
Carmen faz o mesmo com as embalagens de biscoito e bolacha. Quando ela abre uma delas, o que não é consumido naquele momento vai para os potes de vidro. A embalagem vai para o lixo.
Embora o técnico de segurança Roberto Morais Losilla não seja tão detalhista no cuidado com a limpeza dos alimentos que traz da feira e do supermercado, mesmo assim ele não descuida.
É ele quem normalmente faz as compras e guarda o que comprou. Nenhuma fruta vai para a geladeira sem ser lavada antes. Roberto não deixa lata aberta dentro do refrigerador. A sobra ele coloca em potes plásticos. No entanto, quando renova o estoque de iogurte para os netos, ele não tem o costume de lavar os potinhos. Do jeito que chega do mercado, vai para a geladeira.
Quando a lista de compra dele inclui itens que necessitam de refrigeração constante, como os próprios iogurtes, queijo, etc, Roberto volta direto para casa. Segundo ele, assim diminui o risco de variar muito a temperatura do produto e, com isso, alterar o sabor e facilitar a proliferação de bactérias.
Fonte: Jornal da Cidade (Bauru/SP)