Falta de transparência no ramo é tema do documentário “Food. Inc”
Por Camila Nobrega
Que o alface vendido no supermercado é plantado por alguém e o bife tem sua origem em uma criação de gado por aí, todo mundo sabe. Mas, quem são esses produtores e como são as etapas de produção até que esses alimentos cheguem às prateleiras dos estabelecimentos? Foi ao se dar conta de que não tinha essas respostas que o cineasta americano Robert Kenner resolveu investir nas filmagens do documentário “Food. Inc”. Com o objetivo de desvendar as etapas de produção de alimentos industrializados que estão na mesa dos habitantes das grandes cidades, o cineasta buscou as grandes corporações que controlam o mercado, e trouxe a público uma produção que, além de ter garantido boa bilheteria, concorre ao Oscar de melhor documentário domingo que vem.
Segundo o diretor, a inspiração veio do livro “Fast Food Nation”, de Eric Schlosser, que fala sobre a influência mundial do modelo implantado pelas redes de fast food. O livro já havia ganhado uma adaptação para o cinema em 2006, com o filme homônimo de Richard Linklater, mas teve uma nova leitura aos olhos de Kenner. O objetivo, segundo ele, foi entender o que está por trás dos alimentos que são expostos nos supermercados, e também quem são as corporações que controlam a alimentação de boa parte da humanidade: – Nós olhamos as prateleiras e não temos noção de que nossa alimentação está nas mãos de poucas marcas. Quis entender como podemos fazer escolhas, para não apenas reproduzir esse tipo de consumo de alimentos – explicou Kenner.
Durante o documentário, entrevistas com fazendeiros fornecedores de grandes empresas do ramo deixam claro o mecanismo de produção, que funciona como numa fábrica, embora possuam matérias primas ainda vivas. Imagens de bois, porcos e galinhas amontoados em péssimas condições de vida e abate trazem à tona a consciência de que todo cidadão urbano que vive em função do mercado da esquina abastece esse modelo.
Afinal, o fast food trouxe a linha de produção da indústria para a produção de comida, barateou os custos, mas reduziu a qualidade.
Não é à toa que, em alguns países, como os Estados Unidos, há lugares em que é mais barato comer um hamburguer do que um pé de alface o u f r u t a s . E , sem ter muitas informações sobre o modelo de produção, o consumidor opta pelo mais barato, como afirmou a produtora do documentário, Elise Pearlstine. Essa reflexão é, para ela, a mais importante presente: – Descobri que meu filho achava que a carne crescia no fundo do supermercado.
E a inocência de uma criança me fez ver que, apesar de rir, eu também não sabia a exata origem do bife que comemos. Essa é a relação que estabelecemos com muitos alimentos, mas não é algo saudável. Não podemos deixar que as corporações controlem o que vamos comer e como os alimentos serão feitos. É nossa saúde que está em jogo – contou ela, que fez mudanças na própria rotina, após a produção do filme – Hoje eu vou a feiras de fazendeiros locais e reduzi o consumo em fast foods.
Do modelo de produção do Mc Donald´ s às feiras locais, o documentário percorre as alternativas para que um cidadão, mesmo urbano, possa ter consciência do alimento que vai ingerir. Mas é uma pena que haja pouquíssimos depoimentos de representantes das empresas durante o filme, que acaba ficando com caráter denuncista, estilo Michael Moore. Segundo Elise, porém, não faltaram tentativas por parte da equipe: – Entramos em contato várias vezes com as companhias, mas a maioria recusou o convite – explicou.
“Food. Inc”, que deve estrear no Brasil no meio do ano, traz a palavra transparência à tona e chega a assustar por tratar de um assunto tão necessário. Quem o assiste, no mínimo passa a ter outro olhar até mesmo para o bife que come no dia a dia.
Para mais informações acesse o site: www.foodincmovie.com
Fonte: Jornal O Globo