No Rio Grande do Norte, mais de 20 mil agricultores familiares já participam diretamente de programas como o Compra Direta, cuja venda é voltada para a aplicação na merenda escolar e o Programa Mais Alimentos, ambos do Governo Federal. Por isso mesmo, grande parte dos agricultores familiares do Rio Grande do Norte voltaram-se na semana passada para acompanhar o 6º Fórum Nacional de Alimentação Escolar, que abre mais uma perspectiva para a agricultura familiar.
O evento busca alternativas e incrementar a agricultura familiar no sentido de fortalecer o fornecimento de alimentos para as escolas. Não é a toa que empresas responsáveis pela manipulação de alimentos e comerciantes do segmento estão buscando o fortalecimento da agricultura familiar que vem a ser responsável por mais de 40% de todo o alimento produzido no país.
De acordo com o presidente da Federação Nacional das Empresas de Refeições Coletivas (Fenerc), Rogério da Costa Vieira, realizadora do evento a crescente preocupação de pais, escolas e sociedade para que crianças e adolescentes em idade escolar se alimentem corretamente, abre uma ampla janela de oportunidades para o setor de refeições coletivas.
Hoje, essas empresas servem 11 milhões de merendas por dia, mas a demanda é de 47 milhões de estudantes de escolas públicas, mais 6 milhões nas particulares. Os desafios para a conquista desse esse nicho de mercado, a refeição escolar como principal fonte de saúde infantil, a capacitação da agricultura familiar como fornecedora de produtos para as escolas são alguns temas de um fórum de alimentação escolar.
Para Rogério da Costa Vieira, a cada dia a alimentação escolar ganha mais importância. Os governos, escolas, sociedade e familiares têm se preocupado em oferecer alimentação saudável, nutritiva, para crianças e adolescentes, pois sabem da necessidade de melhorar a saúde, a qualidade de vida, o desenvolvimento físico e aprendizado desses jovens.
O objetivo é fazer com que os escolares adquiram hábitos alimentares saudáveis. Em geral, nas escolas ou nas cercanias, especialmente em estabelecimentos privados, ainda é comum o consumo de produtos com alto índice de gorduras, açúcares e sal, pois em geral as cantinas não são administradas por especialistas em alimentação. O aumento no consumo desses alimentos vem causando vários tipos de doenças, como obesidade, diabetes, colesterol elevado e hipertensão.
Ele observa que, hoje, apenas 18 associadas, considerando as de grande e médio porte, disputam esse nicho.
Para conquistar mercado, foco deve ser crianças
O segmento de alimentação escolar movimenta R$ 2,5 bilhões por ano. Isso representa 23,7% dos R$ 9,5 bilhões gerados pelo mercado de refeições coletivas, servidas em empresas, órgãos públicos, forças armadas, hospitais, canteiros de obras, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas (Aberc).
As empresas que fornecem alimentação escolar prestam um serviço extremamente relevante para a educação de base brasileira, através da responsabilidade, fornecimento, atendimento adequado e educação nutricional para programas de alimentação escolar.
De acordo com Rogério Vieira, para conquistar maior fatia do mercado, as empresas devem ter total foco nas crianças. Seguir o lema “nutrir, educar e socializar”: alimentá-los adequadamente, para que não tenham carências nutricionais; educá-los para que adquiram hábitos alimentares saudáveis; ajudá-los a conviver em grupo por meio da alimentação.
Ele ressalta que o Ministério da Educação tem se esforçado para criar mecanismos que valorizem hábitos alimentares saudáveis e ampliem o consumo de alimentos nutritivos nas escolas públicas. Novas regras do Programa Nacional de Alimentação Escolar, de 2009, contemplam ações em educação nutricional e oferta de cardápios equilibrados por faixa etária.
Para atender os 47 milhões de estudantes da educação básica e de jovens e adultos, deverão ser liberados recursos da ordem de R$ 2,1 bilhões, segundo orçamento previsto para 2010 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Segundo Rogério Vieira, os alimentos geralmente vêm de agricultores de diversas regiões do País. O interessante, porém, é a garantia do governo federal de utilizar a safra de pequenos produtores. Dos R$ 2,1 bilhões destinados à alimentação escolar, mais de R$ 600 milhões serão destinados à compra direta de produtos da agricultura familiar.
Essa garantia está prevista na Lei 11.947, de junho de 2009, regulamentada pela Resolução 38 do FNDE – 30% dos produtos usados na alimentação escolar devem vir da agricultura familiar, estimulando o desenvolvimento econômico desses pequenos produtores, prevê a Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
O repasse para a compra de produtos e preparação das merendas é feito diretamente aos estados e municípios, com base no censo escolar do ano anterior ao do atendimento. O programa é fiscalizado pelos Conselhos de Alimentação Escolar, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Tribunal de Contas da União, Secretaria Federal de Controle Interno e Ministério Público.
Apesar desse esforço, os benefícios ainda são insuficientes para cobrir a malha de demandas da população estudantil. E isso envolve um debate amplo de como conduzir as políticas de preservação da vida.
É preciso aflorar esse debate, criar uma consciência única de como agregar valor através da parceirização com prefeituras para implementação de programas de educação alimentar nos municípios, com investimentos em toda a cadeia de produção de refeições.
Fonte: Tribuna do Norte