Por José Ferreira de Melo Neto*
Negócios têm muitas vertentes. O gênio de Chaplin os associou a fábricas barulhentas e insalubres, com tarefas repetitivas que transformavam homens em máquinas. Dos “Tempos Modernos” evoluímos para o empreendimento socialmente justo, ecologicamente sustentável etc etc etc…, onde a satisfação com o retorno financeiro é proporcional ao prazer gerado com a atividade. O trabalho com flores, principalmente para os amantes da natureza, é uma experiência excepcional. Ver a vida brotar cheia de cores, formas e aromas, experimentar novas variedades, observar a adaptação e o crescimento de espécies ainda não cultivadas! Associar tais condições a uma justa remuneração é a glória.
A floricultura como atividade econômica ainda pode ser considerada incipiente no Rio Grande do Norte e até no Brasil. A profusão de cores e o exotismo das formas de flores tropicais só recentemente foi identificado como um nicho do grande mercado mundial da floricultura, no qual desponta a Holanda, como entreposto mais importante na comercialização de flores e plantas. Enquanto o mercado mundial foi avaliado em aproximadamente 75 bilhões euros, em 2006, o fluxo do comércio internacional nesse ano foi de US$ 14,4 bilhões. O Brasil ficou com apenas 0,22% deste valor, mas especialistas calculam que tem potencial para chegar a 1,5% de participação nos próximos anos.
O nosso Estado tem condições climáticas excepcionais para o cultivo de plantas ornamentais, temperadas ou tropicais. Enquanto as temperadas requerem controle, em estufas, de vários fatores como temperatura, umidade e luminosidade, o cultivo de folhagens e flores tropicais é mais simples e implica investimentos relativamente modestos. Estes são alguns dos motivos que vêm contribuindo para o aumento do cultivo de flores na terra potiguar.
Negócios em expansão incentivam a organização dos empreendimentos, o que vem ocorrendo com o auxílio do Sebrae. Fizemos isso quando um grupo de produtores nos procurou pretendendo obter algum apoio no desenvolvimento da floricultura. Dessa parceria surgiu uma cooperativa – Potyflores -, fundada em agosto de 2003, hoje com 25 cooperados. Capacitados em gestão e em técnicas de adubação, cultivo e colheita, os produtores avançaram também no mercado, buscando inicialmente expandir o consumo interno. Em dezembro de 2004 já dispunham de um local na Ceasa e a partir de 2005 comercializam plantas e flores nas lojas dos Supermercados Nordestão, com amplo sucesso.
Produtores têm também acesso a feiras e participam de exposições. No próximo dia 17 será inaugurada a 6ª Mostra de Flores e Plantas Ornamentais do RN, no Shopping Midway Mall, reunindo mais de 40 expositores, entre produtores cooperados e individuais de plantas e flores tropicais e temperadas, orquídeas, bonsais, cactos / suculentas, roseiras e palmeiras. Participarão também floricultores, paisagistas e decoradores.
Sei que o negócio da floricultura potiguar tem muito ainda a crescer. O Brasil está muito longe da Holanda, que registra 54 euros como consumo anual per capita em flores cortadas. Natal está distante da Holambra, em São Paulo, antiga fazenda que se tornou município (um dos mais ricos do Brasil) em função da produção e comercialização de plantas e flores. Que está promovendo a 29ª Expoflora, que, em um espaço de 250 mil metros quadrados, está recebendo um público estimado em 300 mil visitantes, até o dia 26 do corrente mês.
Pode parecer pretensão as comparações acima. Porém, quando olho a pauta de exportações do Rio Grande do Norte, confesso que não acho absurda a ideia de crescimento do nosso mercado. Em 2007 nada exportávamos. Nos dois anos subsequentes o valor das exportações foi de US$ 205,8 mil e US$ 259,8 mil, respectivamente. Até julho de 2010 chegaram a US$ 152,9 mil. Pode parecer pouco, para pessimistas. Para mim é um feito, digno de nota. Sabe o maior comprador das nossas flores? A Holanda, a maior potência mundial na área. Sem dúvidas mais um motivo para ser otimista.
*José Ferreira de Melo Neto é diretor-superintendente do Sebrae/RN
Fonte: Tribuna do Norte