Técnica de revolvimento mínimo do solo pode ser um trunfo em futuras Conferências sobre as Mudanças Climáticas
Por Fernanda Yoneya
Introduzida no País em 1972 para auxiliar os produtores rurais no combate à erosão, a técnica do plantio direto na palha consolidou-se entre os agricultores brasileiros e, hoje, a pesquisa comprova que os benefícios do não revolvimento do solo, da rotação de culturas e da manutenção constante da palhada como cobertura de solo – os três princípios básicos da técnica – já superam a conservação do solo. Quase 40 anos depois da introdução da tecnologia no Brasil, o papel do plantio direto mudou. Se no início da década de 70 discutiam-se seus benefícios na conservação do solo, agora, às vésperas da 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15), este mês, em Copenhague, na Dinamarca, discute-se o papel do plantio direto no cenário de mudanças climáticas globais como importante mecanismo para sequestrar carbono no solo.
“Em média, no País, o sequestro de carbono no solo por meio do plantio direto é de 0,5 tonelada/hectare/ano”, diz o professor Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP, um dos autores do trabalho Agricultura tropical e aquecimento global: impactos e opções de mitigação. Considerando que, no Brasil, a área com plantio direto é de 26 milhões de hectares, conforme a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, seriam 13 milhões de toneladas de carbono estocadas no solo/ano via plantio direto.
O pesquisador Odo Primavesi, da Embrapa Pecuária Sudeste e um dos relatores do relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU, diz que, junto com a integração lavoura-pecuária, a integração lavoura-pecuária-floresta, os sistemas agroflorestais e silvipastoris e os reflorestamentos, o plantio direto tem essencial contribuição no sequestro de carbono.
CARBONO ACUMULADO
“Quando se revolve o solo no plantio convencional há a decomposição da matéria orgânica. Se essa matéria orgânica não for reposta, há redução de seu teor no solo”, diz Primavesi. “Ao reduzir o teor de matéria orgânica de 3% para 1,5%, na conversão de pastagem para lavoura convencional, 80 toneladas por hectare de CO2 são emitidas.” O plantio direto, ao contrário, que tem como prioridade manter matéria orgânica no solo, acumula carbono.
O potencial do plantio direto no sequestro de carbono pode e deve ser usado em debates internacionais, como a COP-15, defende Cerri, da Esalq. “Acredito que EUA e Argentina, que têm, respectivamente, a primeira e a terceira maior área com plantio direto – o Brasil está em segundo lugar – seriam grandes parceiros e apoiadores da ideia.” O pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária e integrante do comitê gestor da Plataforma de Mudanças Climáticas da Embrapa, também incentiva o plantio direto como fixador de carbono no solo. “Se a técnica se expandir em mais 10 milhões de hectares, a meta será atingida. Considerando o avanço da tecnologia nos últimos 15 anos, é possível.”
ALTERNATIVA
Para o professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP), Carlos Clemente Cerri, que liderou a revisão Emissões de gases do efeito estufa do Brasil: importância da agricultura e pastagem, o plantio direto é alternativa para ajudar o País a atingir as metas de redução de emissões. “São metas claras e possíveis.” Segundo a Embrapa, para o setor agropecuário foi estabelecida uma redução de emissão de gases do efeito estufa de 4,9% a 6,1%, até 2020 e o governo já anunciou que o plantio direto será apresentando na conferência, ao lado de ações de recuperação de pastos, integração lavoura-pecuária e fixação de nitrogênio.
O professor do Cena cita outro número a favor do plantio direto. “Em comparação ao plantio convencional, o plantio direto absorve, por hectare/ano, 1,9 tonelada de CO2 equivalente a mais. A denominação “CO2 equivalente” aplica-se quando os três gases do efeito estufa – CO2, metano e óxido nitroso – são convertidos em uma única unidade. “O plantio direto emite gases-estufa, mas absorve mais carbono.”
Cerri, da Esalq, concluiu, com base em estudos, que o potencial de estocagem de carbono no solo varia conforme solo e clima. “Há duas regiões contrastantes, a Sul e a Centro-Oeste. No Sul, onde a temperatura é mais baixa, a decomposição da matéria orgânica é mais lenta e, consequentemente, a “saída” de CO2 do solo. No Centro-Oeste, mais quente e chuvoso, a decomposição é mais rápida, mas a “saída” de CO2 também é mais rápida. No Centro-Oeste a dinâmica de entrada e saída de carbono é acelerada, o que reduz o potencial de sequestro.”
Fonte: O Estado de S. Paulo